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Ação social

Paranaguá é “invadida” por mendigos

Paranaguá – Parece castigo: depois da denúncia publicada em abril pela Gazeta do Povo, de que a prefeitura de Paranaguá estaria recolhendo e largando os seus mendigos na estrada ou na capital, agora moradores de rua de diversas regiões do estado passaram a ser deixados na cidade litorânea – em princípio pelas próprias prefeituras.

Há cerca de um mês, centenas de mendigos têm sido vistos na cidade, e a população se queixa de que eles fazem suas necessidades fisiológicas no meio da rua e até dentro de igrejas.

Para coibir essa prática, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Paranaguá, a Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Paranaguá (Aciap) e a Câmara de Vereadores organizaram uma reunião, na qual foi exposto pelo município, via Secretaria da Ação Social, um projeto para cadastrar os moradores de rua e devolvê-los aos seus municípios de origem.

Representantes do Ministério Público, Polícia Militar, das igrejas Católica e evangélicas e da Maçonaria, além de vereadores, do presidente da OAB-Paranaguá e do prefeito José Baka Filho (PDT) participaram da discussão.

O primeiro passo seria identificar todos os moradores de rua que chegam diariamente à cidade, para em seguida entrar em contato com os municípios de origem e enviá-los de volta. Aqueles que forem foragidos da polícia, serão presos. Já os mendigos de Paranaguá serão atendidos, levados às suas famílias e a longo prazo poderiam receber ajuda para tentar se reintegrar ao mercado de trabalho, além de tratamento contra o alcoolismo.

Segundo o secretário de Ação Social, João Damásio, há um prazo para a primeira etapa: "Vamos ter equipes de dois assistentes sociais e veículos nos quais eles farão a abordagem. Faremos isso durante um mês, para depois mandá-los embora".

O município, de acordo com o prefeito, não tem recursos para custear toda a ação, mas contará com a ajuda da Aciap. "Nunca vamos dar as costas para o problema, ele existe e está crítico. Tudo o que tiver que ser feito será, não mediremos esforços", prometeu Baka Filho.

Segundo ele, existe um albergue municipal com capacidade para 80 pessoas, onde os moradores de rua podem permanecer por até três dias. Lá, eles ganham refeições e podem utilizar um telefone para falar com familiares ou ir atrás de emprego. "O albergue nunca chegou perto de lotar. Muitos preferem as ruas porque não querem viver com regras", explicou Damásio.

A pedido do município, o Pro-Ação, entidade mantida pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) abordou em abril 44 mendigos, dos quais 71% seriam de Paranaguá mesmo. "Sabemos que não vamos acabar com o problema rapidamente, mas vamos mandá-los de volta. Os daqui, nós cuidaremos", garantiu o secretário.

Depois do incidente da prisão dos guardas municipais e do secretário de Segurança do Município, Álvaro Domingues, por ocasião da suposta "extradição" de mendigos, muitos acreditam que a imagem da cidade ficou manchada. O promotor de Justiça que está à frente do caso, José Luiz Loretto de Oliveira, explicou que os moradores de rua que tiverem problemas serão presos e julgados.

O promotor afirmou ainda que na última semana dois moradores de rua da cidade foram presos, e disse que a Guarda Municipal existe para coibir ações ilegais, mas não tem e nem deve ter qualificação para agir como assistente social. "Nesses casos, os guardas chamam as autoridades para realocar os moradores de rua. Não deve ser exigido mais que isso deles", considera.

O padre Adelir de Carli, que na época fez a denúncia de maus-tratos contra moradores de rua, voltou a criticar a prefeitura. "Existe uma mentalidade fechada aqui contra os moradores de rua. Se eles não têm onde fazer as necessidades, fazem na rua, porque não têm onde ficar. Não existe albergue", disse, provocando polêmica no encontro. O presidente da Aciap, vereador Alceu Claro Chaves, rebateu: "O passado já foi discutido, temos que deixar Paranaguá com a imagem limpa novamente".

Na porta

A andarilha Rosalina Oliveira, 53 anos, foi encontrada pela fotógrafa Cristiane Coutinho na porta de sua casa, e lá permaneceu por dois dias, completamente embriagada. A fotógrafa diz ter chamado as autoridades, sem sucesso. "Ela me disse que veio de União da Vitória, tem três filhos, e um deles mora aqui, mas ela não sabe onde", contou Cristiane.

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