O trem de passageiros, que durante vários anos projetou Paranaguá no cenário turístico nacional, tem se tornado o pivô de uma briga entre a prefeitura e as empresas América Latina Logística (ALL) e Serra Verde Express. O motivo são divergências quanto ao cumprimento do contrato entre as operadoras e a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Ele fixa a obrigatoriedade da ida do trem até a estação ferroviária do município parnanguara nos fins de semana e feriados, mas a prefeitura reclama que o percurso não está sendo feito e estuda acionar as empresas na Justiça.
A Serra Verde, que é responsável pela linha de turismo, argumenta que o trecho não é feito por falta de interessados. O percurso entre Curitiba e Morretes dura em média três horas. Para chegar a Paranaguá são apenas mais 38 quilômetros, mas o tempo da viagem pode durar até duas horas, o que desmotiva os turistas a completar o caminho.
A demora, segundo a prefeitura, é decorrente de problemas com o descarregamento da safra nos terminais portuários, na altura do quilômetro 5 da ferrovia. "Neste ponto, as manobras dos trens de carga são constantes e causam um transtorno evidente ao turista. Daí o motivo para ninguém vir até o nosso município e optar por ficar em Morretes", diz o prefeito José Baka Filho.
A ALL, que opera os trens de carga, nega que as manobras para a descarga atrasem a operação do trem de passageiros. "É dada preferência total para a linha turismo nos dias de uso da empresa Serra Verde Express. A demora para se chegar a Paranaguá se deve ao respeito à redução de velocidade dentro do perímetro urbano", argumenta a empresa, por meio de uma nota.
Durante o percurso Morretes-Paranaguá, o trem segue em uma velocidade média de 10 km/hora e atravessa 38 passagens de nível. "A baixa velocidade também é justificada em razão da dilatação do trilho pela temperatura do ambiente. Para o turista não permanecer tanto tempo no vagão, nós damos a ele a opção de concluir a viagem em vans ou em ônibus", informa, também por nota, a Serra Verde Express.
As explicações não satisfazem o diretor da Câmara Setorial de Turismo da Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Paranaguá, Rafael Guttierres Júnior. Segundo ele, na década de 90, antes da privatização da linha férrea, Paranaguá recebia o trem de passageiros diariamente e não havia problemas com horários. "Pontualmente, às 11 horas, o trem adentrava a estação. Tínhamos milhares de turistas visitando Paranaguá todos os meses. O turista vinha de trem e retornava de ônibus para Curitiba. O comércio gastronômico e as lojas de artesanato faturavam muito. Hoje a realidade é totalmente outra", diz.
Desvantagem
Apenas 10% dos turistas que utilizaram a linha da Serra Verde Express em 2010 optaram por ir até Paranaguá. De acordo com a operadora, dos 150 mil usuários da linha turística Curitiba Paranaguá, 15 mil concluíram o percurso. "A preferência é por Morretes. Recentemente fizemos uma viagem com mil pessoas e todas elas desembarcaram e almoçaram lá", informou o presidente da operadora de turismo Serra Verde Express, Adonai Aires de Arruda.
Para ele, a ausência de um produto turístico bem-estruturado é o que coloca Paranaguá em desvantagem em relação a Morretes. "É inegável o potencial da cidade, mas as autoridades do município precisam fazer o dever de casa. Elas exigem o trem aos domingos em Paranaguá, mas os poucos turistas que chegam se deparam com uma estação abandonada, além do ponto de informação, o museu e o comércio fechados."