| Foto: Ivonaldo Alexandre / Gazeta do Povo

Pensar em como ajudar as cidades a desenvolverem novas tecnologias – especialmente as que tragam soluções para a sustentabilidade – está na mira da Volvo. O vice-presidente executivo de business areas da AB Volvo, o sueco Hakan Karlsson, esteve em Curitiba para a assinatura de um memorando de parceria entre a empresa e a capital paranaense para o desenvolvimento de um novo modelo de ônibus elétrico híbrido. "Percebemos nesse processo que, para ser capaz de mudar a tecnologia na cidade, você precisa ajudar essa cidade a desenvolver a mudança tecnológica em etapas", diz Karlsson. Por isso, o acordo com Curitiba prevê, ainda, a cooperação entre os operadores de ônibus e a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Confira trechos da entrevista:

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A estratégia de começar o projeto de desenvolvimento do ônibus elétrico híbrido por Curitiba já era parte da estratégia da Volvo?

Começamos a investigação sobre grandes cidades do mundo há quatro ou cinco anos. Foi muito claro que as cidades colocaram objetivos ligados ao meio ambiente. Elas queriam reduzir a emissão de gases, o barulho e atrair mais pessoas para o transporte público. Em um seminário da UITP (Associação Internacional de Transporte Público, na sigla em inglês), perguntaram a representantes de cidades e operadores de ônibus o que eles queriam e 95% disseram que migrariam para a eletromobilidade. Decidimos, no Grupo Volvo, começar a desenvolver nossa solução na área e usamos a empresa de ônibus como pioneira, porque vemos que essa troca de tecnologia virá primeiro aqui. Desenvolvemos nossa própria linha de híbridos e agora continuamos com o elétrico híbrido. O próximo passo, final, é o puro elétrico. Assim, podemos oferecer às cidades três tipos de veículos.

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Nem todas as cidades possuem estrutura para o transporte público elétrico. Como lidar com isso?

Nós percebemos nesse processo que, para ser capaz de mudar a tecnologia na cidade você precisa ajudar essa cidade a desenvolver a mudança tecnológica em etapas. Você não pode apenas ir lá e dizer que agora você tem um magnífico ônibus elétrico híbrido e agora essa cidade precisa comprá-lo. Você precisa pensar em infraestrutura, uma maneira de estabelecer uma completa estrutura para o sistema de transporte público. E é isso que a gente oferece: encontramos com as cidades, sentamos, conversamos e estabelecemos projetos em parceria, com diferentes cidades do mundo.

Como essas cidades são selecionadas?

No Grupo Volvo temos o projeto de eletromobilidade, o programa City Mobility. Temos processos e olhamos para as cidades, suas capacidades e fatores de sucesso, e discutimos em propor uma parceria de eletromobilidade. Curitiba será a primeira cidade na América do Sul e isso é bom, porque a cidade é a nossa sede na América do Sul. Na Europa, a nossa grande exibição é em Londres, com os híbridos. No Salão de Hannover, lançamos há um mês o elétrico híbrido.

Qual a diferença entre esses ônibus que circulam na Europa e o que será desenvolvido em Curitiba?

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Nós temos alguns projetos na Europa que estão caminhando para a entrega dos ônibus, mas a diferença é que são pequenos ônibus e em Curitiba desenvolveremos os de grande capacidade. A novidade nesse ônibus é a linha de transmissão elétrica híbrida, que poderá virar puro elétrico. Isso significa que você reduzirá a emissão de CO2 para zero, terá um ônibus silencioso na direção, e eu posso dizer que é isso que importa. Nós fizemos alguns testes em Gotemburgo, na Suécia, a nossa casa, e as pessoas que estavam andando nesses ônibus, em linhas comuns, diziam que uma das coisas mais bonitas era o silêncio. É silencioso para o passageiro, para a cidade e todos que moram perto das vias de ônibus. Essa é a grande mudança que programamos na eletromobilidade.

O custo de um veículo como esse pode atrapalhar sua disseminação?

Nos deparamos com isso várias vezes. Uma das coisas mais importantes para nós é a definição do custo de um híbrido ou elétrico híbrido: deve ser similar ao do ônibus a diesel. Para tentar compensar o investimento inicial mais alto, nós oferecemos a esses compradores um contrato de aluguel de bateria e, quando você tem esse tipo de infraestrutura, a estação de recarga, para então oferecer eletricidade por quilômetros, em contrapartida pelos investimentos. É por isso que precisamos trabalhar junto com as cidades e temos alguns parceiros que podem ajudar as cidades a reduzir o custo inicial, porque esse é um critério que pesa na avaliação.

O que você espera da parceria com Curitiba, operadores e universidade?

Quando você tem esse tipo de mudança de tecnologia em um mercado, você precisa de parceria com diferentes stakeholders [termo para designar as partes interessadas]. É muito interessante, porque em Gotemburgo o projeto de eletromobilidade é em conjunto com a cidade, o governo, os operadores de ônibus e a universidade. Eles estão nos ajudando a desenvolver novas tecnologias e aqui, quando estivemos na prefeitura, vimos que também haverá a cooperação com a universidade, e isso será ótimo para trabalhar.

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O Brasil e a América Latina são mercados atrativos para esse tipo de veículo?

Absolutamente. Muitas outras grandes cidades grandes na América Latina têm bons e eficientes sistemas de ônibus, mas estão na tecnologia à diesel. Agora, elas querem mudar para algo mais amigável ao meio ambiente e então acho que temos a solução. A grande população nesses países faz com que eles realmente necessitem de boas redes de transporte coletivo, aliadas a sistemas de BRT e metrô. São mercados interessantes ainda mais agora quando se muda para uma nova tecnologia. É algo que queremos desenvolver e participar.

A aposta é em soluções regionais ou globais?

Para uma empresa global é preciso balancear produtos globais para realidades regionais. A gente precisa lidar com isso e a boa coisa é que o Brasil e Curitiba têm um grande time. Nós somos capazes de usar as soluções de Curitiba para propósitos globais e é isso que estamos fazendo. Essa é nossa marca aqui na cidade e é como a gente quer desenvolver isso, por exemplo, os elétricos híbridos articulados e biarticulados serão feitos aqui e serão uma solução global.