A Sociedade Barracão deixou de ser a comunidade que conseguiu imprimir criatividade em meio à pobreza. Hoje, como as demais ocupações da cidade, padece dos males trazidos pela informalidade, entre eles a violência. Mas o grupo salvou uma de suas glórias: continua sendo uma amostra em miniatura dos grandes problemas que envolvem o mundo sem-teto.Tem-se a impressão de que tudo passa pela esquina das ruas O Brasil para Cristo com a Maurício Higgins: os carrinheiros pedindo para serem incluídos em zonas urbanizadas da cidade, único espaço possível para a reciclagem; as ONGs brigando para tirar o mofo do Estatuto da Cidade esse desconhecido; e o poder público com sua decisão algo ambígua de instalar os mais pobres sempre muito longe das zonas centrais.
Não se trata de uma equação simples de resolver. Não raro, entre os próprios ocupados é possível encontrar os que se cansaram do discurso da inclusão em zonas mais urbanizadas. O operário Antônio Francisco dos Santos, 52 anos, e a aposentada Maria da Silva, 68, mudariam hoje, se fosse preciso, para o Parque Iguaçu 3.
Entendem as razões de sua gente, mas não veem futuro no modelo Sociedade Barracão. É o que pensa a prefeitura, às voltas com uma demanda sem igual de reassentamentos. Ao término do atual programa da Cohab-CT, previsto para 2010, serão 13 mil famílias retiradas das área de risco. Ainda assim, faltarão 600 mil metros quadrados de área para abrigar outras 1,8 mil.
Há, contudo, um elemento que pode fazer com que resistências feito a da Sociedade Barracão sejam vencidas os barracões do Eco Cidadão. O projeto, implantado há dois anos e hoje com dez unidades espalhadas pela cidade, consegue ser um elo comum entre os que fazem parte do cabo de força da habitação.
Trata-se de uma estratégia eficiente: associada a ONGs, a prefeitura criou barracões de reciclagem para que os carrinheiros vençam os cânceres do setor: a remuneração diária que não ajuda a solidificar finanças; e a exploração dos atravessadores do lixo.
De acordo com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, os parques de recepção, como também são chamados, empregam 400 catadores de papel e, desde sua criação, já somam 3,5 mil toneladas de material reciclado. Os participantes que atuam sem carteira assinada e nos dias em que desejarem ganham em média R$ 380 por mês, o que vem como renda extra.
Em meio aos debates dos moradores da Sociedade Barracão com as assistentes da Cohab-CT, pôde-se ouvir que um pedido pode ser decisivo nas negociações a instalação de um Eco Cidadão nas lonjuras do Ganchinho. Só a parceria em torno da economia do lixo pode salvar os programas de habitação dos erros do passado.
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Sociedade Barracão no blog www.gazetadopovo.com.br/blogvidaecidadania
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