A legislação, embora existente, não é suficiente para proteger cursos dágua e fundos de vale nas cidades brasileiras. Considerados Áreas de Proteção Permanente (APPs), esses espaços estão desprotegidos diante do avanço de construções e da poluição. Repetindo experiências internacionais e apostas de sucesso dentro do país, entretanto, várias cidades investem na criação de parques lineares um conceito que integra a proteção da biodiversidade à criação de espaços de lazer.
Para os curitibanos, uma referência imediata de parque linear é o Parque Barigui. Criado em 1972, ele exemplifica os conceitos desse tipo de projeto. A região do lago é cercada por uma zona de amortecimento destinada a proteger o lago e evitar enchentes, ao dar espaço para um volume expandido de água. A uma distância maior são instalados equipamentos de lazer. A estratégia, além de atrair pessoas para o local, costuma ser eficiente para conscientizar os frequentadores sobre a importância da manutenção do espaço.
"Essas áreas passam a ser de utilidade pública não apenas como decreto. As pessoas se apropriam do local, que se torna um bem comum e com isso é valorizado", avalia o ambientalista Procópio de Castro, mobilizador do Projeto Manuelzão uma iniciativa do curso de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) ligada a questões ambientais.
Outro ponto positivo da criação de um parque linear é a destinação de espaço para a manutenção da fauna. Essa estratégia é mais eficiente na medida em que o parque está conectado a uma área verde maior, fora da cidade. Mas ainda que o espaço esteja ilhado em meio ao concreto, haverá ganho. "Não podemos esquecer que os pássaros voam", brinca Procópio. "Existem microanimais, desde a minhoca. Há muito a ser olhado e protegido", defende.
O nome "parque linear" deriva do conceito de "cidade linear", um modelo de urbanismo surgido na Espanha no final do século 19, no momento em que as preocupações com o deslocamento começam a atingir os planejadores de cidade. No modelo linear, um via principal é criada para servir como espinha dorsal a uma série de serviços. Transposto ao parque, o raciocínio é oferecer uma espécie de respiro à paisagem urbana. "Imagine se a Grande São Paulo tivesse todos os fundos de vale transformados em áreas verdes para lazer. A qualidade do ar, de vida e a saúde das pessoas seriam muito melhores", projeta Procópio.
Implantação
A criação de um parque linear encontra um obstáculo básico na expansão desordenada da cidade. Muitas áreas com potencial para esse aparelho urbano estão ocupadas com moradias irregulares. Ou então pertencem a particulares, o que obriga o município a iniciar um processo demorado de desapropriação.
"Quanto mais consolidada é a ocupação de uma cidade, mais difícil é agregar um metro quadrado de área verde nela", explica Clóvis Ultramari, arquiteto e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). "Os parques de Curitiba, por exemplo, não foram áreas desapropriadas, mas tornadas parques justamente porque não estavam ocupadas", ilustra.