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Cleni Weber e filho Alexsander, de 10 anos, produzem ovos recheados de amendoim, mas não abrem mão do de chocolate
Em muitos lares cristãos, hoje o ovo de chocolate deve roubar a cena: crianças acordam mais cedo para procurar o símbolo da Páscoa, que pode estar escondido no jardim ou dentro de casa. A tradição, que começou no século 20, hoje chega até a ofuscar o sentido religioso da Páscoa, ou seja, comemorar a ressurreição de Jesus Cristo. "A Páscoa hoje é lembrada muito mais por uma questão de mercado. Há um apelo para a venda, que encobre o sentido religioso da festa", opina a professora de História da Universidade Federal Fluminense Georgina Santos.
Aos antigos, que viveram em anos em que o aspecto comercial da Páscoa não era tão presente, resta se conformar com o fato de que ao menos o ovo não foi esquecido. "Ele é o símbolo da vida em razão de sua capacidade vitalícia. De dentro de uma casquinha tão frágil, recheada de clara e gema, nasce um ser vivo. Como Páscoa é ressurreição, o ovo simboliza a vida que está por vir", explica a professora de História da Universidade Tuiuti do Paraná Maria Cecília Giovanella.
Foi a partir dessa crença, da vida nova, que na casa de Haidêe Ferreira da Silva uma regra raramente é quebrada: na Páscoa, somente são permitidos ovos de galinha, pintados à mão e recheados com amendoim açucarado. Lá os ovos industrializados não têm vez. "Aprendi com minha avó. Com um mês de antecedência guardo as casquinhas de ovos. Depois pinto com os netos e bisnetos para, então, rechear. É a esperança de vida nova", conta Haidêe. Além dos ovinhos, ela prepara pão de mel e bombons de amendoim, tudo feito em casa. "Entrego uma dúzia de ovos para cada um dos meus sete filhos. É um hábito que mantemos para trazer sorte à família."
Questão cultural
A crença sobre os ovos difere conforme a cultura dos povos e a descendência das famílias. A historiadora Georgina lembra que a prática de rechear ovos é forte no Sul do Brasil, mas que raramente é vista no Norte e Nordeste brasileiro. "Isso por causa da imigração de alemães, italianos e ucranianos que se concentrou no Sul", diz. O ovo de chocolate foi introduzido no país pelos imigrantes, que faziam artesanalmente essas delícias em confeitarias.
Por causa da descendência alemã, Cleni Weber também aprendeu desde pequena a fazer ovos de galinha recheados com amendoim. O filho Alexsander, de 10 anos, ajuda a prepará-los: são cerca de sete dúzias para toda a família. Mesmo assim, ela conta que não resiste às tentações dos ovos de chocolate. "Sempre dou um para meu filho, de preferência com brinquedos, porque todos os amigos dele vão ganhar", diz.
A professora Maria Cecília lembra de uma tradição de Páscoa que era mantida pelos avós, que vieram da Itália e se fixaram em uma colônia italiana em Santa Catarina. "Os ovos de galinha eram cozidos com marcela para dar o tom amarelado na casca, ou com cebolinha para o ovo ficar verde. As crianças iam para a missa cheias desses ovos. Ao término da celebração, todos iam para fora da igreja, onde colocavam os ovos no chão, encostados na parede. Os adultos jogavam moedas e, quando acertavam, tinham o direito de levar o ovo para casa. Caso contrário, a moeda ficava para a criança", diz.
O início
Na Idade Média, por volta do século 13, há os primeiros registros do uso dos ovos na Páscoa, conforme explica a historiadora Georgina. Os estudantes da Universidade de Paris cantavam salmos e hinos em frente à catedral e depois recolhiam ovos de galinha, ganso e pato que a própria população ofertava. Eles pintavam os ovos e depois presenteavam os familiares. "Era um presente interessante, bem diferente do conceito de hoje. A prática se alastrou porque os alimentos eram escassos na época. É só observarmos os vários relatos de fome e de peste que aconteciam na antiguidade", afirma.
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Serviço:
O shopping Estação, em parceria com a Associação dos Artesãos de Pêssankas, está com uma exposição especial de Páscoa que mostra ovos pintados à mão uma tradição milenar da cultura ucraniana. Ela funciona de segunda a quinta-feira das 10 às 22 horas, sextas das 10 às 23 horas e domingos das 11 às 22 horas. Estará aberta até o dia 30 deste mês. Mais informações: (41) 2101-9000.
