Mil dias que valem uma vida toda. A Pastoral da Criança baseada em estúdios do epidemiologista britânico David Barker , lançou ontem um alerta sobre o período que vai do dia da concepção da criança até o segundo ano dela (a soma dos 270 dias de gestação com 730 dias após o nascimento). Esses mil dias são decisivos no aparecimento ou não de doenças crônicas como diabete, hipertensão, osteoporose e problemas coronarianos na vida adulta, relacionadas ao baixo peso infantil, menor que 2,5 kg. Este foi o alerta feito ontem pelo Coordenador Nacional Adjunto da Pastoral da Criança, o médico epidemiologista Nelson Arns Neumann, na Assembleia Nacional da entidade, realizada em Curitiba. "As pessoas costumam tratar as doenças crônicas depois que elas já estão instaladas e agir como se elas não tivessem uma origem", observa o gestor de relações institucionais da Pastoral e representante da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil junto ao Conselho Nacional de Saúde, Clóvis Boufleur.
A preocupação da Pastoral é embasada no aumento do número de crianças nascidas abaixo do peso médio ideal: no Brasil, dados do Caderno de Informações em Saúde mostram que o índice de baixo peso ao nascer gira em torno de 8,3%. Em Curitiba, de 1995 até 2010 o baixo peso passou de 8% para 9% dos nascimentos, somando 2.273 bebês com essas características. "Com menos peso, a criança tem o desenvolvimento de órgãos como o coração, os rins e o fígado comprometidos, o que acarreta doenças crônicas no futuro", diz.
A formação dos órgãos do bebê é afetada diretamente pela dieta das gestantes. Segundo Neumann, o fato de algumas mulheres evitarem o ganho normal de peso cerca de 10 kg durante a gestação, o tabagismo, a gravidez depois dos 30 anos, a opção por cesáreas e a interrupção do aleitamento antes dos seis meses de vida são fatores que, em conjunto, prejudicam o desenvolvimento do bebê.