Legado
Contribuição na área social
A coordenadora da política de assistência social no Paraná, Jucimeri Isolda Silveira, diz que a Pastoral da Criança conseguiu levar para a opinião pública a exclusão e desigualdade em que milhares de meninos e meninas vivem. Além de oferecer assistência, a instituição cobra políticas do poder público. Para Jucimeri, as políticas brasileiras na área social, como o Bolsa Família e Benefício de Prestação Continuada, têm influência do trabalho de Zilda Arns. "Todas as políticas elaboradas hoje envolvem o conhecimento da comunidade e da família e a valorização desses espaços. Esse modo de fazer é essencial na garantia dos direitos".
O sociólogo e professor da Universidade Federal do Paraná Rodrigo Rossi Horochovski diz que movimentos como o criado por Zilda Arns são essenciais na construção da democracia. "Esse diálogo entre a sociedade civil e o Estado fortalece a cidadania e a garantia dos direitos sociais".
O legado deixado pela médica Zilda Arns ultrapassou as fronteiras da sociedade civil e, como poucas iniciativas, serviu de modelo para a construção de políticas públicas na área da saúde materno-infantil no Brasil. Além dos números mostrando o êxito na redução da mortalidade de meninos e meninas, talvez um dos maiores exemplos de sucesso seja a amplitude com que a fundadora da Pastoral da Criança, morta no terremoto do Haiti, conseguiu mobilizar comunidades em todo o país. Hoje é difícil pensar em uma política que não tenha como alvos a prevenção e a mobilização comunitária.
A fórmula criada por Zilda Arns permitiu que famílias de origem pobre tivessem acesso à tecnologia e à informação sobre saúde. O que antes ficava restrito aos médicos e profissionais da área passou a ser disseminado por um batalhão de "informantes". Poucas políticas conseguiram ter este alcance. O enfoque é a prevenção e a educação. Voluntários ligados à igreja são mobilizados pela causa, recebem treinamento e passam a ser líderes. Cada um fica responsável por um determinado número de famílias, de acordo com a disponibilidade pessoal.
A partir daí, mães e crianças recebem uma visita semanal, em que há pesagem, troca de informações, incentivo à amamentação e alimentação saudável. Quando há algum problema, os líderes fazem encaminhamentos às unidades de saúde e aos demais serviços do Estado, como a área de assistência social. Todas as informações são anotadas em um caderno criado pela equipe da pastoral e depois vão para um banco de dados, que ajuda a monitorar todas as ações.
Para o coordenador adjunto da Pastoral da Criança e filho de Zilda, Nelson Arns, o maior mérito da instituição é sua abrangência e a durabilidade das ações. "O foco das políticas na área da saúde é a cobertura. Com o voluntariado, conseguimos atingir esta meta". Ele destaca que, até a criação do órgão, não existia um movimento organizado em prol da educação em saúde. Hoje as líderes têm acesso a informações que muitas vezes boa parte dos médicos ainda não tem. "Conseguimos aliar informação, pesquisa e tecnologia com serviços de boa qualidade", diz Arns.
Influência
No Paraná, o governo do estado diz com orgulho que aprendeu muito com a pastoral. O secretário de Estado da Saúde, Gilberto Martin, afirma que Zilda Arns e seus voluntários tiveram uma participação decisiva e estratégica na formulação de políticas públicas. Um dos programas que teve maior influência da pastoral é o "Nascer no Paraná: Direito à vida". Lançado no primeiro semestre de 2009, a iniciativa reúne seis passos para diminuir a mortalidade materna e neonatal. A grande estratégia é mobilizar a sociedade e criar comitês locais para monitorar os índices.
Outra ação está relacionada com a Pastoral da Pessoa Idoso. A criação deste órgão chamou a atenção dos gestores para a terceira idade. "A partir daí se colocou o idoso como prioridade pela primeira vez", diz Martins. A metodologia utilizada pela Sesa é igual a criada por Zilda. Agentes de saúde vão até as residências e fazem o levantamento da situação de vida da família.
O Ministério da Saúde também seguiu a cartilha da Pastoral. Hoje o governo federal, além de ser o maior financiador da instituição, é também parceiro em várias ações. O diretor do departamento de ações programáticas e estratégicas em saúde, José Telles, diz que nos anos 80 a Pastoral conseguiu atingir pessoas que o sistema público não alcançava. O caráter de agregar como agentes de saúde pessoas da própria comunidade também foi ampliado pela Pastoral. "Além de todas essas ações, Zilda Arns foi visionária e percebeu que, com o envelhecimento da população, os idosos estavam ficando à margem e ampliou o atendimento a eles".
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