O vitral que leva o brasão da República e fica acima do busto do General Carneiro está quase apagado porque o telhado cedeu acima dele| Foto: Fotos: Antônio More/Gazeta do Povo

Estragos

Situação remonta há décadas de falta de manutenção

A situação que alguns dos patrimônios históricos de Lapa se encontram e que estão sob responsabilidade do poder público não pode recair no colo de um ou outra administração. É resultado de décadas de falta de manutenção. Essa é a avaliação do coordenador estadual do Iphan, José La Pastina.

"Quando é um patrimônio privado, a responsabilidade em manter e cuidar do bem é do proprietário. Toda intervenção precisa ser aprovada pelos órgãos competentes. E o mesmo vale para um bem público. A obrigação é da prefeitura", afirma La Pastina.

Ele diz ainda que nessas situações o Iphan trabalha em parceria com o Patrimônio Histórico Estadual e com o município. Isso porque a região histórica de Lapa é tombada nas três esferas. "Cabe ao Iphan fiscalizar, orientar os projetos e, nos casos de bens públicos, tentar ajudar com repasses", afirma.

Para La Pastina, o principal problema, de um modo geral, é conseguir projetos de restauro dos bens históricos. "Faltam projetos para que possamos restaurar os bens como determina a legislação e para que seja possível correr atrás de recursos financeiros para executar a obra", afirma o coordenador do Iphan.

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Paço Municipal está interditado, sem condições de uso. A prefeitura já funcionou no prédio
Por fora, a biblioteca da cidada aparenta estar bem...
...mas, dentro, infiltrações obrigam a deixar os livros em caixas
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O teto do Panteão dos Heróis ameaça desabar colocando em risco o busto do General Gomes Carneiro. Se a estrutura não for inteiramente substituída, o que sobrou do telhado pode despencar sobre a cabeça da imagem de um dos heróis da Revolução Federalista. A situação mostra como alguns dos imóveis históricos da Lapa, que possui 14 quarteirões do centro tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), padecem com a falta de preservação, que remonta há cerca de duas décadas.

Símbolo da resistência do Cerco da Lapa, o Panteão – edificado em 1944 – teve parte do telhado derrubado por falta de manutenção há seis meses e está interditado. Isso porque o teto do espaço, que abriga homenagens e os restos mortais de militares que lutaram na guerra de 1894, encontra-se condenado e precisa ser substituído.

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Na parte externa do Panteão, encontram-se canhões Krupp 75 mm, usados na época. Porém, a madeira de parte da arma está podre. Este é apenas um dos problemas que toma conta de uma das cidades mais importantes da história do Paraná. Além de ser um marco no estado pelo próprio Cerco da Lapa, a cidade foi um dos berços do movimento tropeiro e serviu de moradia para o místico monge São João Maria.

O Memorial Ney Braga, por exemplo, está fechado há mais de um ano. Com infiltração e falta de condições estruturais, o acervo que é composto por aproximadamente 1,5 mil peças e deveria ficar alocado nesse espaço foi cedido temporariamente ao Museu Paranaense, em Curitiba. O espaço foi inaugurado como memorial em 2005 exatamente na casa onde Braga nasceu em 1917.

O antigo Paço Municipal, uma das mais importantes construções históricas da cidade, também sofre com a ação do tempo. Toda estrutura interna está detonada. O prédio histórico da Praça Mirazinha Braga, local onde ficava o Gabinete da Prefeitura, permanece fechado desde 2012. O imóvel foi inaugurado em 1890 para sediar a primeira escola pública do estado do Paraná e foi construído com recursos doados por Dom Pedro II durante visita à Lapa. Posteriormente, foi sede do poder público municipal.

Outro prédio que compõe o centro histórico lapeano é o Cine Teatro Imperial, inaugurado em 1943. O espaço, contudo, está tomado por infiltração, parte do telhado ruiu e encontra-se interditado pela Defesa Civil desde o ano passado. O cinema chegou a ser fechado na década de 80 e reinaugurado pela última vez na segunda metade dos anos 2000.

Para o historiador Kallil Assad, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, essa realidade é reflexo da falta de ação do poder público. Segundo ele, apenas tombar os imóveis não garante a preservação. "O governo estadual, o Iphan e o município não chegam a um acordo. Tem que conversar entre eles para conseguir agir e preservar parte da história do Paraná", assinala.

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Casa do capitão-mor

Até essa semana a biblioteca municipal da Lapa funcionava em uma das edificações mais antigas da cidade: na antiga casa do capitão-mor, do fim do século 18. O bem, que é particular, está alugado para a prefeitura até março. Porém, o número de goteiras impediu a continuação da biblioteca no endereço. Os livros estavam encaixotados e devem ir para um outro espaço provisório.

Prefeitura diz que tem projetos para restaurar bens públicos

Ao pisar pela primeira vez no interior da sede da antiga prefeitura, a atual gestora municipal da Lapa, Leila Klenk, diz ter se espantado com o que viu. "Eu me assustei quando me deparei com tudo demolido por dentro", afirma a prefeita. Para reverter esse quadro, ela revela que o bem, que está sob responsabilidade do poder municipal, deve começar a passar por obras neste ano com previsão de término para 2016. Depois de pronto o espaço será a nova sede da biblioteca.

A boa notícia é que a maioria dos imóveis que hoje estão em precárias condições possuem projetos para serem recuperados. Para salvar o busto do General Gomes Carneiro, por exemplo, Leila revela que em parceria com o Exército o telhado do Panteão dos Heróis será recuperado. "O telhado está caindo. Nunca foi restaurado. Estamos buscando recursos junto com a iniciativa privada para trocar o telhado", afirma a prefeita.

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Já o cinema Imperial foi repassado ao município no ano passado – antes pertencia ao governo do estado. Segundo Leila, o projeto custou R$ 400 mil e a obra de restauro custaria cerca de R$ 1 milhão. Como o município não dispõe desse valor, a prefeitura conseguiu cerca de R$ 60 mil em parceria com a Itaipu e o Condor. O valor será utilizado para reformar o telhado do cinema. "Dessa forma, poderemos estancar o problema. Com o telhado novo, a infiltração deve parar", revela Leila.

Quanto ao Memorial Ney Braga, a coordenadora estadual do Patrimônio Histórico, Rosina Parchen, diz que está para ser licitada a obra de restauração a partir de projeto elaborado pela Coordenação do Patrimônio Cultural (CPC). "A gestão anterior iniciou uma obra que foi considerada irregular e teve de ser interrompida por haver necessidade de regularização do projeto para execução de forma correta. Com isso o espaço acabou sendo fechado", afirma.