Antártica - Enquanto assistimos estarrecidos às cenas da enchente arrasando a casa do vizinho e vemos nosso terreno ser varrido por vendavais e tempestades de granizo, a 3 mil quilômetros daqui um grupo de brasileiros esforça-se por conhecer melhor o continente aonde surgem as frentes frias que atingem o Sul do Brasil e afetam diretamente o clima e a agricultura no Paraná. A Antártica não é só o mais inóspito e o mais frio dos continentes (a menor temperatura do planeta, 89 graus negativos, foi medida nos termômetros instalados perto do Pólo Sul). É também o mais desconhecido.
Embora a história registre a chegada de aventureiros por lá desde o século XIX, os primeiros pesquisadores mesmo começaram a freqüentar o continente gelado nos anos 40. E como o clima é muito instável, sujeito a nevascas repentinas e ventos que facilmente ultrapassam os 100 km/hora, qualquer atividade exploratória leva anos para produzir resultados consistentes.
Inglaterra e Estados Unidos inauguraram a era de explorações antárticas nos anos 40. Hoje 45 países formam o seleto grupo que têm estações de pesquisas por lá. Uma lei, assinada por chefes de Estado de todos eles, estipula que os únicos e exclusivos propósitos da atividade humana na Antártica sejam "promover a Paz e a Ciência", assim, escritas com letras maiúsculas, para destacar a importância do que está acordado desde 1959. O cumprimento do Tratado da Antártica, que inclui rigoroso controle ambiental, é fiscalizado por uma comissão internacional eleita nas reuniões anuais dos membros consultivos. Apenas 27 dos 45 países signatários têm status para participar e votar nas reuniões. O Brasil está entre eles por realizar pesquisas consideradas substanciais na região.
As atividades de pesquisa do Programa Antártico Brasileiro Proantar iniciaram-se durante a Operação Antártica I, realizada a bordo do navio de apoio oceanográfico Barão de Teffé, da Marinha do Brasil, e do navio oceanográfico Professor W. Besnard, da Universidade de São Paulo, no verão austral de 1982/83. Nessa expedição foi escolhido o local para a sede das pesquisas brasileiras no continente gelado: a Ilha Rei George, arquipélago das Shetlands do Sul, ao norte do continente. Em fevereiro de 1983 foram instalados os primeiros módulos da EACF, Estação Antártica Comandante Ferraz, batizada assim para homenagear um maranhense, natural de São Luís, até então o maior explorador brasileiro da Antártica.
Nesses 25 anos o Paraná tem marcado presença na Estação. Os laboratórios de biologia marinha foram projetados na Universidade Federal do Paraná. Os professores Metry Bacila e Edith Fanta (falecida em maio deste ano) ajudaram na elaboração do projeto dos laboratórios e estiveram na inauguração. Deram a largada para uma importante história paranaense no continente de temperaturas quase sempre negativas. Até hoje pesquisadores da UFPR e da PUC, em parceria com a Universidade de Taubaté, revezam-se nas atividades de coleta de peixes antárticos para posterior análise nos laboratórios das universidades em Curitiba e no interior de São Paulo. As pesquisas andam avançadas e o professor Metry Bacila, ainda ativo aos 86 anos, começa a visualizar o interesse da medicina e da indústria farmacêutica em descobertas como o fluido anticongelante no organismo dos peixes, estudado pelo grupo.
Além de alunos de mestrado e doutorado e de seus orientadores, outros paranaenses costumam freqüentar a Estação Antártica Comandante Ferraz. São militares da Marinha, responsável pela realização das operações antárticas que abastecem a EACF. No grupo base, que passa doze meses na Antártica garantindo a manutenção da Estação e dando apoio aos pesquisadores, este ano há dois paranaenses. Outros dois estão entre os 70 tripulantes do navio de apoio oceanográfico Ary Rongel, que substituiu o Barão de Teffé nas operações antárticas e começou em outubro uma série de viagens para lá. A temporada só será encerrada em março, quando o mar ao redor da Antártica congela e a entrega de comida e de material aos pesquisadores passa a ser mais esporádica, por via aérea.
Pelo Tratado, os países com atividade na Antártica consultam-se sobre o uso do continente, com o compromisso de não torná-lo objeto de discórdia internacional. Muitos ainda têm pretensões territorialistas, entre eles a Argentina e o Chile, que mantêm até uma vila de moradores junto à sua estação de pesquisas, com famílias inteiras, crianças pequenas inclusive, vivendo no meio do gelo. E há equipes imensas, como a dos Estados Unidos, que chega a ter 2 mil pesquisadores e militares espalhados pelo continente ao mesmo tempo, levantando certa suspeita sobre as reais intenções da exploração antártica. Mas o acordo vem sendo respeitado à risca e, espera-se, siga assim até o ano de 2048, quando está prevista uma revisão dos itens que regem toda e qualquer ação na área ao Sul do paralelo 60, que delimita a região polar.
A existência do Tratado conseguiu pôr fim à matança de focas e baleias, que no início do século XX quase foram extintas. Expôs também ao mundo que é possível uma convivência pacífica entre os povos quando os interesses dos envolvidos são explícitos e aceitos por todos. Na Antártica, diferente de qualquer outro lugar do planeta, as portas não têm chaves. Qualquer um pode entrar nas estações de pesquisa, usar as acomodações, comer e vestir-se com o que estiver disponível no local. Faz parte do acordo. Há também troca de informações científicas e até de gentilezas. A Estação Antártica Comandante Ferraz, por exemplo, costuma receber a visita dos poloneses, que têm estação relativamente próxima à brasileira. O interesse maior deles é usar os serviços de internet da estação brasileira, já que a polonesa é deficiente em comunicações. Na ida da equipe da RPC-TV à Antártica, na última semana de novembro, presenciamos outra dessas "camaradagens". A viagem, a segunda dessa temporada (27ª Operação Antártica), deveria durar dois dias, como de praxe, partindo do Porto de Ushuaia, no Extremo Sul da Argentina. Mas a disposição da Marinha Brasileira em levar óleo combustível para a estação da Bulgária, que estava na iminência de sofrer queda no sistema de calefação, atrasou em um dia nossa chegada à Baia do Almirantado. Para os jornalistas a bordo, que tinham passado pela batelada de exames médicos exigidos pela Marinha e também por uma rigorosa seleção de projetos de cobertura jornalística (tal qual acontece com os pesquisadores), pareceu frustrante a princípio. Mas serviu como a prova mais contundente de que o Brasil não está na Antártica por acaso. É por atitudes como essa da Marinha Brasileira e pelo esforço dos nossos pesquisadores que hoje somos respeitados pela comunidade científica internacional.
* * * * *
Serviço
Para saber mais detalhes sobre a presença paranaense na Antártica não deixe de assistir, na Revista RPC deste domingo, à reportagem especial que a RPC-TV fez na Antártica. A Revista RPC começa depois dos programas Fantástico e Faça Sua História. O assunto também será tema de uma série de reportagem no Paraná TV 1ª edição, que começa a ser veiculada amanhã. O telejornal começa ao meio-dia.
A repórter Cristina Graeml e o cinegrafista Divonsir Gonçalves, da RPC-TV, viajaram a convite da Marinha Brasileira.
Governadores e oposição articulam derrubada do decreto de Lula sobre uso da força policial
Tensão aumenta com pressão da esquerda, mas Exército diz que não vai acabar com kids pretos
O começo da luta contra a resolução do Conanda
Governo não vai recorrer contra decisão de Dino que barrou R$ 4,2 bilhões em emendas
Soraya Thronicke quer regulamentação do cigarro eletrônico; Girão e Malta criticam
Relator defende reforma do Código Civil em temas de família e propriedade
Dia das Mães foi criado em homenagem a mulher que lutou contra a mortalidade infantil; conheça a origem
Rotina de mães que permanecem em casa com seus filhos é igualmente desafiadora