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Motim na Penitenciária Central do Estado, em Piraquara, em 2001: ligados ao PCC, detentos rebelados pediam transferência para outros estados | Edson Silva/Arquivo Gazeta do Povo
Motim na Penitenciária Central do Estado, em Piraquara, em 2001: ligados ao PCC, detentos rebelados pediam transferência para outros estados| Foto: Edson Silva/Arquivo Gazeta do Povo

Nos bastidores do crime organizado

Em entrevista à Gazeta do Povo, João (nome fictício) conta como teve contato com o PCC durante os oito meses em que esteve preso em delegacias e penitenciárias do Paraná. Por questões de segurança, a repórter que fez a entrevista não será identificada.

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Sigla vira grife do crime

Com poder reconhecido dentro e fora das penitenciárias, o PCC também funciona como uma espécie de grife no mundo do crime. "Usar o nome da facção garante um glamour para os bandidos. Muito ladrão pequeno sequer conhece alguém que é realmente do grupo, mas utiliza a sigla para se promover", explica o advogado criminalista Elias Assad.

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Em 1998, três presos oriundos do sistema penitenciário de São Paulo chegavam à Penitenciária Central do Estado (PCE), em Piraquara, depois de uma rápida passagem por Campo Grande (MS). Os detentos eram César Augusto Roriz, o Cesinha, Mizael Aparecido da Silva e José Márcio Felício, o Geleião.

Cinco anos antes, em 31 de agosto de 1993, o trio ajudara a fundar o Primeiro Comando da Capital (PCC), na Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, o Piranhão. Rapidamente o PCC tornara-se um incômodo para as autoridades paulistas, organizando rebeliões e pressionando por melhoras no sistema prisional. Para enfraquecer o PCC, o governo do estado de São Paulo resolveu dividir os líderes do movimento por diversos presídios, dentro e fora do estado. Mato Grosso do Sul e Paraná foram os primeiros estados a receber os presos.

Mais de dez anos depois, entre 5 e 17 de março de 2009, pelo menos três episódios reforçam a ligação do PCC com o Paraná: o Departamento de Estado americano divulga relatório afirmando que a cidade de Guaíra, na fronteira com o Paraguai, está "tomada" pelo PCC. Policiais da Rone matam seis homens em Colombo, em uma região que seria base da organização, de acordo com a própria PM. A delegacia de Morretes prende cinco pessoas, todos integrantes da facção, segundo os investigadores.

Os episódios recentes servem para confirmar uma conclusão que as autoridades paulistas já chegaram há muito tempo. A estratégia de isolamento dos líderes não só deu errado, como nacionalizou a atuação do PCC. "O Paraná é o braço direito do PCC de São Paulo. O estado abriga em seu sistema prisional líderes importantes da organização criminosa paulista", chegou a afirmar o promotor Roberto Porto, do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado de Sâo Paulo, em outubro de 2006. Porto, que continua investigando os passos do PCC, foi procurado durante toda a semana passada pela reportagem da Gazeta do Povo, mas não foi encontrado.

"Desde que recebeu três dos líderes do PCC em 98, o Paraná transformou-se, junto com Mato Grosso do Sul, na principal base de operações do grupo depois de São Paulo", diz o jornalista Josmar Jozino, autor do livro Cobras e Lagartos. A vida íntima e perversa nas prisões brasileiras. Quem manda e quem obedece no partido do crime.

Em Curitiba, cinco advogados criminalistas foram procurados para comentar a atuação do PCC dentro e fora dos presídios. Todos afirmaram que existe atividade da facção no estado, discordando apenas da intensidade e do poder exercido pelo grupo. "É ingenuidade ou má-fé afirmar que o PCC não está atuando fortemente no Paraná", diz o advogado Antônio Augusto Figueiredo Basto. "A maior prova de que o PCC está inserido no nosso sistema prisional é a separação que alguns presídios fazem entre a irmandade e os demais presos", afirma Cláudio Dalledone Jr.

Não é apenas na capital que o PCC se manifesta. De acordo com o advogado Giordano Vilarinho Reinert, que atua em Paranaguá há dez anos, não existem clientes na cadeia da delegacia local que afirmem pertencer a facções como o PCC. No entanto, ele afirma pelo menos dez deles já foram procurados pela facção, em presídios de Curitiba. "Ao comentar sobre o assunto, eles contam que são procurados para fazer parte do grupo. E os que não aceitam, sofrem represálias", comenta. Segundo o advogado, que afirma ter perdido o contato com os esses presos, cinco afirmaram ter aceitado entrar na organização.

Para outro advogado, que prefere não se identificar, não se fala mais do PCC dentro das prisões porque eles conseguiram atingir uma situação de estabilidade. "Se não houver motivo, eles não chamam a atenção. Se forem registrados maus-tratos contra as lideranças ou eles se sentirem ameaçados de alguma forma, vão promover rebeliões."

Em junho de 2001, foi exatamente o que ocorreu na Penitenciária Central do Estado. Cerca de 20 detentos rebelaram-se, fazendo 26 agentes penitenciários como reféns. Os presos, todos ligados ao PCC e sob a liderança de Geleião, pediam a transferência para outros estados. Naquele ano, pelo menos 10 presos foram mortos dentro da PCE. "A situação está sob o controle deles e por isso eles estão calmos. Mas tenho clientes e sei de que clientes de outros advogados que precisam pagar mensalmente à irmandade por segurança."

O presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná, Clayton Auweter, afirma que recebe relatos constantes sobre a movimentação do PCC . "Existe, não há como negar. Mas, de certa maneira, conseguimos controlá-los dentro dos presídios. E fora deles, tem uma lei. Quem é do PCC e não colabora com a irmandade, morre. Boa parte das mortes que envolvem tráfico de drogas vem daí."

Apesar das evidências, as autoridades ainda são cautelosas para comentar a atuação do grupo no Paraná. O presidente do Conselho Penitenciário do Paraná, Joe Tennyson Velo, diz que embora existam integrantes do PCC nas cadeias paranaenses, a atuação deles está suborbinada à autoridade constituída.

Para o promotor de Justiça Leonir Batisti, coordenador do Gaeco no Paraná, existe "batismo" de presos pelo PCC no Paraná, mas o grupo está sendo devidamente "monitorado".

Procurada pela Gazeta do Povo, a Secretaria da Segurança Pública decidiu não se manifestar sobre o assunto.

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