São Paulo O Primeiro Comando da Capital (PCC) está executando criminosos que não pagam a contribuição mensal. A pressão para que as dívidas sejam acertadas aumentou com a decisão da cúpula de reiniciar a guerra contra o estado de São Paulo. Isso porque a arrecadação da facção caiu pela metade depois dos ataques de maio aos presídios paulistas. Além disso, seria necessário manter o "bicho-papão", como é chamado um dos mais bem guardados segredos do PCC: o dinheiro que abastece seus líderes (leia quadro abaixo).
"A cúpula explora a base para ter vida boa", diz o secretário da Administração Penitenciária (SAP), Antônio Ferreira Pinto.
A polícia tem indícios de que pelo menos seis bandidos foram mortos porque não pagaram o pedágio de R$ 1 mil instituído para quem rouba e trafica drogas no estado. Boa parte do dinheiro garante mordomias aos presos e às amantes, como carros blindados importados e roupas de grife.
Escutas feitas por diversas delegacias mostram como ocorrem as cobranças. "Eles telefonam e dizem que o sujeito vai morrer se não pagar o que deve até o dia seguinte", afirmou um delegado, que pediu para não ser identificado. As dívidas podem chegar a mais de R$ 100 mil, caso do bandido Rubão, que contraiu um "empréstimo" de R$ 118 mil com o tesoureiro da organização. A maioria dos débitos, no entanto, é de até R$ 15 mil. "Tem bandido que está sendo obrigado a roubar para pagar a organização", disse o delegado.
O aumento do valor da contribuição mensal dada à facção criminosa foi decidido no dia 22, depois de uma ordem da cúpula. Anteriormente, os criminosos em liberdade pagavam R$ 600 e os presos, R$ 60.
O reajuste foi uma das medidas tomadas pela organização quando decidiu reiniciar a guerra contra o estado. O pagamento das dívidas pode ser feito em dinheiro ou com a participação em ações encomendadas pela cúpula. Nas prisões, a quitação das mensalidades atrasadas pode ser feito de outra forma. Um preso, por exemplo, pode ser obrigado a mandar um parente levar no dia de visita a droga que a facção quer vender na prisão ou telefones celulares.