No início do século XVIII, os Campos Gerais eram despovoados, servindo geralmente como ponto de passagem para viajantes curitibanos que se dirigiam a São Paulo. Apesar de ser uma região de boas pastagens, não havia quem consumisse o gado ali criado. Mas a descoberta de ouro nas Minas Gerais exigiu gado para a alimentação, cavalos para montaria e muitas mulas para o transporte de minérios.
Das grandes vacarias administradas pelos padres jesuítas e missionários, que existiam não só no Rio Grande do Sul como também na Argentina e Paraguai, abriu-se um caminho que ficou conhecido como "Caminho de Viamão", ligando a então Vila da Sorocaba (SP) até a região gaúcha. Começaram a surgir pontos de parada ou pouso de tropeiros ao longo da rota. Nessa época, os campos naturais da região tornaram-se muito disputados e a coroa portuguesa expandiu algumas cartas de sesmarias em favor de homens com prestígio político. "O marco oficial da ocupação dos Campos Gerais está registrado no ano de 1704, com a inauguração da sesmaria de Sant´Ana do Iapó (atual Castro), entregue ao paulista Pedro Taques de Almeida. Naquele tempo, 60% dos tropeiros eram castrenses", conta Judith Carneiro de Mello, diretora do Museu do Tropeiro da cidade.
A história de Castro está intimamente ligada à antiga sede da sesmaria de Taques de Almeida: a Fazenda Capão Alto. Ponto de passagem de tropeiros, a fazenda passou por vários proprietários até ser vendida aos religiosos carmelitas, em 1751. Segundo o guia e caseiro do Capão Alto, João Klempovos Neto, os carmelitas permaneceram na fazenda por mais de um século como agricultores e criadores de gado. Chegaram a proibir o pouso de tropas no local, obrigando os tropeiros a descobrirem outro ponto de passagem no Iapó, exatamente onde é hoje o centro de Castro. Ali os carmelitas fundaram a Igreja SantAna do Iapó e com o crescimento do povoado, abandonaram a Fazenda Capão Alto. "A casa foi erguida em taipa de pilão, uma das únicas do gênero no Paraná e tombada como patrimônio pelo Estado. Em 1979, a Fazenda do Capão Alto foi vendida à Cooperativa Central de Laticínios e mais tarde comprada pelo holandês Koob Petter", conta Klempovos.
Quem visita a Fazenda Capão Alto, surpreende-se com a grande presença de turistas holandeses no local. A região marcada pela história do tropeirismo se confunde com a atual Rota dos Imigrantes. Para chegar na fazenda, é necessário passar pela colônia Castrolanda, símbolo da imigração holandesa com seu moinho gigante, considerado o principal cartão postal de Castro. O surgimento da colônia só foi possível graças a experiência pioneira dos holandeses na pequena vila de Carambeí. Vila que ganhou vida própria ao longo dos anos e foi desmembrada da cidade de Castro na década passada.
Carambeí
Conhecido como "Rio das Tartarugas", o município de Carambeí guarda suas tradições enraizadas na colonização holandesa, verificada nas casas com arquitetura européia, nos seus belíssimos jardins e moinhos de vento. Localizada a 20 quilômetros de Ponta Grossa, a região possui uma história de quase 100 anos, mas apenas nove como cidade emancipada.
Na antiga Fazenda Sinhara de Carambey, caminho para Catanduvas, a confluência de rotas se torna evidente. Encravada no meio da Rota dos Tropeiros, a fazenda já foi pouso de viajantes como Saint Hilaire e o imperador Dom Pedro II. Depois de ficar abandonada por um bom tempo, foi adquirida por um casal de holandeses em 1994. "Meu marido é arquiteto e juntos restauramos todo o imóvel com as nossas custas", conta a proprietária Anne-Marie Gillessen. Apesar de ser um símbolo da história de Carambeí, a fazenda ainda não faz parte da rota turística local. "Os holandeses não gostam muito de exporem suas casas para os turistas. Para haver uma maior integração nesse sentido, todo começo de abril promovemos a Festa do Imigrante, trazendo características de várias etnias que compõem a cidade de Carambeí", revela Maurício Bernardo, chefe de gabinete da prefeitura.
O sucesso da colonização holandesa em Carambeí se consolidou com a fundação da Batavo em 1925, considerada a primeira cooperativa de produção do Brasil. Dick Carlos de Geus, um dos ex-presidentes da Batavo, conta da luta que a cooperativa está travando para manter-se ativa. "Em 1998 a Batavo foi vendida para a multinacional italiana Parmalat, que adquiriu o controle acionário da empresa com 51% das ações, passando a se chamar Batávia S.A. Registramos uma série de irregularidades de gestão e preparamos uma liminar para tomar o controle da cooperativa. Coincidentemente fomos ajudados pelo escândalo envolvendo a Parmalat italiana em 2004, quando ganhamos a causa. Hoje a Parmalat tenta reaver algumas máquinas que ela investiu, mas já não tem mais o direito de comandar a Batávia".
A importância das cooperativas de laticínios para Carambeí é muito grande. Várias propriedades ostentam vacas holandesas que fornecem uma das principais fontes de renda da região: o leite. Contrariando a vocação agrícola de sua família, Herman Van Westering apostou trabalhar com a pecuária. "Das cinqüenta vacas que tenho hoje, apenas vinte estão dando leite. Já tive vacas de exposição que davam mais de 70 litros por dia. Agora, com essa história de febre aftosa, tivemos que jogar muito leite fora. Sem falar do preço que caiu para R$ 0,35 o litro, muito abaixo do preço de custo".
Ciente dessas oscilações do mercado, Carambeí está tentando não depender tanto das indústrias agropecuárias e começa a investir na imagem turística do município. Uma das alternativas é o Roteiro dos Imigrantes, presidido pelo próprio Dick de Geus. São duas rotas: a Eslavo Germânica (Wittmarsum, Prudentópolis, Entre Rios) e a Holandesa (Carambeí, Castrolanda, Arapoti). Por ser uma cidade pequena e recente, é possível planejar uma estrutura urbana aconchegante e com uma boa estrutura receptiva, sem modificar grandes paisagens. Aliados ao caminho dos tropeiros, Castro e Carambeí são cúmplices de dois ciclos históricos; rotas de comerciantes, desbravadores, imigrantes, aventureiros e sonhadores. Do descobrimento ao desenvolvimento, tropeiros e holandeses se encontram nos caminhos dos Campos Gerais.
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