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Engenharia naval

Pela preservação dos barcos

Saveiro do recôncavo baiano: referência nas obras de Jorge Amado | Fotos: Divulgação/Iphan
Saveiro do recôncavo baiano: referência nas obras de Jorge Amado (Foto: Fotos: Divulgação/Iphan)
Botes de nome bastardo, da cidade Camocim, Ceará |

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Botes de nome bastardo, da cidade Camocim, Ceará

Canoas parnanguara: origem indígena |

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Canoas parnanguara: origem indígena

Jangada de Alagoas |

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Jangada de Alagoas

Brasília - A baleeira catarinense, o saveiro baiano e a canoa parnanguara entraram na mira do governo brasileiro. Após décadas de esquecimento, o país começa a agir para preservar a história das embarcações tradicionais. Segundo dados do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o Brasil tem a maior diversidade de barcos do mundo.

A estratégia de proteção faz parte do projeto Barcos do Brasil, lançado no mês passado. O primeiro passo é a realização de um censo das embarcações, estimadas apenas em "várias centenas". Ao mesmo tempo, o governo já trabalha para a criação de núcleos regionais do Museu Nacional do Mar, instalado em São Francisco (SC).

O diretor do Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização do Iphan, Dalmo Vieira Filho, explica que os barcos fazem parte da paisagem brasileira e são uma forma tradicional de geração de renda em quase todos os estados. "Eles refletem nossa cultura popular, nosso processo de colonização", diz. Segundo ele, as embarcações históricas são obras sofisticadas de engenharia naval, adaptadas às realidades regionais do país.

A baleeira catarinense, por exemplo, tem influência nórdica. Os saveiros – referências comuns na obra de Jorge Amado – são de origem indiana. As canoas de tolda usadas no Rio São Francisco têm coberturas similares a de barcos chineses, enquanto as canoas baianas são derivadas de Angola.

Ao longo dos 8,5 mil quilômetros da costa brasileira é possível detectar influências de quase todas as partes do mundo – mediterrâneas, ibéricas, norte-européias, africanas, asiáticas e americanas. "Devemos muito disso aos portugueses, que sempre adotaram as inovações que aprendiam durante as viagens que faziam pelo mundo", afirma Vieira Filho. As influências, adaptadas aos recursos de cada região, criaram efeitos estéticos em singulares formatos de cascos e mastros.

A divulgação do projeto ganhou força durante a semana de Ciência e Tecnologia, realizada entre os dias 20 e 26 de outubro na Esplanada dos Ministérios. A exposição com exemplares e réplicas usadas durante o evento foi transferida na semana passada para o edifício do Ministério da Agricultura. A canoa de Paranaguá é uma das estrelas da mostra. Vieira Filho conta que esse tipo de embarcação, de origem indígena, é perfeito para o transporte nas baías paranaenses. "Ela é rasa, com um corte rústico, mas que funciona muito bem." Assim como demais modelos espalhados pelo país, porém, ela perde espaço para os barcos industriais de alumínio.

De acordo com estudos do Iphan, a construção tradicional também foi perdendo em sofisticação. As velas de canoas alagoanas, por exemplo, são quase todas elaboradas em plástico preto da construção civil. Outro fator que prejudica a conservação das embarcações mais antigas é a expulsão de pescadores de suas áreas originais, seja pelo avanço do turismo ou da miséria.

Paisagem cultural

Censo promovido em 2007 pelo Ministério da Pesca mostra que há 600 mil pescadores no Brasil, número que diminui a cada ano. Para melhorar a vida das pessoas e prevenir a extinção dos barcos tradicionais, o projeto também propõe a criação de áreas definidas como "paisagem cultural". O título é uma espécie de tombamento histórico, com menos amarras legais.

A idéia é valorizar núcleos de pescadores. Sete localidades já foram indicadas pelo Iphan: Porto de Camocim, em Camocim (CE); Armação do Itapocorói, em Penha (SC); Camamú e Valença (BA); Indiaroba e São Cristóvão (SE); Portinho, em São Luís (MA); Porto da Panair (PB) e Manaus (AM).

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