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MON tem espaço Niemeyer: no dia seguinte à morte, bilheteria vendeu o dobro de ingressos | Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo
MON tem espaço Niemeyer: no dia seguinte à morte, bilheteria vendeu o dobro de ingressos| Foto: Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo

Visitação

Legado do poeta do concreto provoca admiração e fascínio

A engenheira civil Mônica Barbosa, de Ribeirão Preto (SP), estava no meio de uma viagem de quatro dias por Curitiba. "Meu fascínio por Niemeyer é muito grande, e o museu era um dos pontos turísticos que eu queria conhecer. No fim, ocorreu essa coincidência", ressalta. Enquanto percorria os corredores do MON, destacava a capacidade do arquiteto de interagir com os espaços existentes e, mesmo restrito às curvas, jamais se repetir.

O casal Luiz e Margareth Lupatini, de Curitiba, queria entender o processo de criação de Niemeyer. O analista de estoque e a advogada conheceram várias obras dele durante viagens, o que despertou a curiosidade sobre a pessoa por trás do traço. "Gostamos de ter aprendido que o olhar estético dele valorizava a mulher, e que ele sempre pensava o elemento humano nos projetos", diz Margareth. (DA)

"Olha, Pedro, parece um formigueirinho", diz o pai à criança de 4 anos, apontando para uma foto do Centro Cultural de Le Havre, na França. A imagem evidencia um edifício branco e redondo em franco contraste com a arquitetura clássica do resto da Praça General De Gaulle. A comparação feita pelo homem bem poderia ser adicionada à lista de apelidos deste projeto de Oscar Niemeyer inaugurado em 1982, chamado na região de "o Vulcão", "o Pé de Elefante" ou "o Pote de Iogurte". De certa forma, a multiplicidade de nomes resume o caráter desafiador da obra de Niemeyer: senhor de seu espaço, está sempre em evidência, se projetando continuamente para o futuro. Abre-se à admiração e à crítica com a mesma generosidade, transformando o concreto armado em substância viva.

VÍDEO: Conheça mais detalhes da exposição permanente de Oscar Niemeyer no MON

A breve cena entre pai e filho ocorreu na manhã da última sexta-feira, em uma das salas do museu que leva o nome e a assinatura do arquiteto, em Curitiba. Desde a morte de Niemeyer, na quarta à noite, o espaço vem recebendo um número atípico de visitantes. Uma hora e meia após o anúncio, estudantes de Arquitetura depositaram flores sob o famoso "olho" do MON. No dia seguinte, a bilheteria vendeu 634 entradas, quase o dobro do registrado na primeira quinta-feira de novembro. Nessas datas, o museu promove um dia especial dedicado a aumentar a frequência. O horário de funcionamento é estendido e são organizados eventos especiais. O dia pós-falecimento dividiu atenções com o lançamento do making of da instalação sobre o poeta Paulo Leminski e com a abertura de uma retrospectiva do pintor Di Cavalcanti. Ainda assim, o interesse pela obra do arquiteto é evidente.

"Chegamos para trabalhar muito cedo e fizemos uma reunião do conselho para programar atividades especiais", conta Telma Richter, arte educadora e responsável pelas visitas guiadas à sala dedicada ao arquiteto – uma exposição fixa aberta em novembro, durante as comemorações dos dez anos do museu. Espera-se que haja recorde de público neste fim de semana. A morte do artista encerrou oito décadas de trabalho contínuo. A partir de agora, a compreensão do legado de Niemeyer será sua última obra em progresso.

Entrevista

Antônio Costa/ Arquivo/ Gazeta do Povo

Jaime Lerner, arquiteto, ex-prefeito de Curitiba e ex-governador do Paraná

"Só fiz arquitetura por causa do Oscar"

Cristiano Castilho

Qual é a grandeza de Niemeyer para a arquitetura?

Ele foi um arquiteto de luxo, o brasileiro mais importante do mundo, na minha opinião. Além disso, era um ser humano cuja generosidade, coerência e genialidade marcaram constantemente suas ações. Ele provou que a vida é mais importante que a arquitetura. Não somos mais do que uma poeira cósmica.

Que obra de Niemeyer o senhor mais aprecia?

A grande maioria é impressionante, mas obviamente que gosto mais do MON, de Curitiba. O Palácio do Itamaraty, a Catedral de Brasília... todas essas são grandes obras. É muito difícil dizer que projetos dele não são geniais. Outra coisa: a simplicidade de Niemeyer. Oscar é poesia e beleza. Por isso as pessoas o entendiam. As pessoas se emocionavam com suas obras. Cansei de ver gente chorando ao entrar no "olho" [do MON] porque causava surpresa, espantava. É uma coisa bonita.

Vocês estavam trabalhando juntos em algum projeto?

Não. Mas já trabalhamos várias vezes. A última foi em Brasília, há uns sete anos. Conversávamos muito.

E como era Niemeyer no dia a dia?

Uma pessoa que tinha essas qualidades que os grandes homens têm: humildade e simplicidade. Ele tinha interesse por todas as coisas. Pela literatura, pela música. Enfim, era um grande brasileiro. O maior brasileiro.

O fato de ser comunista e de ser impedido de ter trabalhado algumas vezes no Brasil e nos Estados Unidos, por exemplo, prejudicou sua produção?

Acho que não. A coerência que ele teve foi para toda a vida. Ele só ganhou respeito com isso. Basta ver que hoje ninguém o questiona. Não era ele que era revolucionário, era sua obra.

Como foi o envolvimento entre vocês durante a construção do MON?

Foi sempre muito bom. Tive o privilégio de poder ter esse contato profissional. Já tinha tido quando trabalhei com ele na década de 1980, no Rio. E quero dizer uma coisa: só fiz arquitetura por causa do Oscar. Eu observava, lia as obras dele. Eu me entusiasmei por causa dele.

Niemeyer falava muito em sonho, em beleza. Isso é importante para um arquiteto?

Isso é fundamental. Arquitetura não é só ideia e concreto.

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Vida e Cidadania | 2:16

Além do interesse em entrar em uma obra do arquiteto de renome internacional, visitantes conhecem trajetória do gênio a partir de uma exposição sobre sua carreira. São maquetes, desenhos e fotos de suas principais obras.

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