Nas Ilhas Maldivas, depois de anos de caça predatória do tubarão, o governo local percebeu que era mais rentável preservar os animais para estimular o turismo do que abatê-los. Esse e outros 120 exemplos de benefícios econômicos trazidos pela manutenação da biodiversidade foram divulgados ontem durante simpósio do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnud), em Curitiba. Os estudos de caso integram a pesquisa A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade (Teeb, na sigla em inglês) encomendada pelos países do G8+5 para servir de referência à formulação de políticas locais e regionais.
Segundo o economista Pavan Sukhdev, um dos autores do Teeb, a devastação ambiental representa perda de US$ 2 trilhões a US$ 4,5 trilhões em capital natural por ano à economia mundial. Os valores não foram divididos por regiões, mas o diretor do Departamento de Conservação da Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, Bráulio Dias, salientou que a parte referente ao Brasil "certamente é importante". "Temos as mais extensas florestas e convivemos com altas taxas de desmatamento", diz.
O relatório explora e dá dicas práticas de como lidar com o desafio de perda de biodiversidade em nível local e regional, examina ações que os governos podem tomar quanto ao uso e gestão de recursos naturais, manutenção de biodiversidade e arquitetura urbana como também ferramentas de mercado como Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA). "Se a ação não é tomada localmente não há ação", comenta Sukhdev.
Responsável por 20% de toda a biodiversidade da Terra, o Brasil tem condições de se tornar a grande potência mundial dentro do novo paradigma de economia sustentável. Segundo o pesquisador do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), Carlos Nobre, apesar de o país ser o maior exportador de carne, a lucratividade com Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD) é quase três vezes maior do que com a pecuária. "Mas não podemos só pensar na valoração do produto", diz.
Segundo Nobre, a produção do açaí na região amazônica, por exemplo, permite renda de US$ 206 a US$ 2.272 por hectare ao ano, contra US$ 100 a US$ 400 por hectare a cada 25 a 30 anos na exploração da madeira ou de US$ 100 a US$ 200 por hectare ao ano na lavoura de soja. Sem contar a pecuária, que renderia apenas US$ 20 a US$ 70 por hectare/ano. No entanto, o pesquisador ressaltou que o produto sai do campo por US$ 200 e chega a um supermercado na Califórnia por US$ 70 mil. O valor é agregado por outras empresas do Sudeste e Sul do Brasil ou de outros países e não resolve o problema do produtor. "Se não significa redução de pobreza não ajuda o desenvolvimento sustentável do meio ambiente", pondera.
Comunidades
De acordo com Sukhdev, as comunidades pobres e rurais, que vivem em torno de florestas e dela retiram parte do sustento, são as que mais sofrem com a perda da biodiversidade. No Brasil, ele diz acreditar que 20 milhões de pessoas estão nessa condição. "A biodiversidade é uma necessidade para os pobres e não apenas uma ligação afetiva para os ricos", afirma. "A biodiversidade no Brasil ainda é tratada como potencial, a gente tem que saber valorizar mais", complementa Bráulio Dias.
O tema continuará a ser debatido hoje no evento, que está sendo promovido pelo Pnud simultaneamente em Nova Delhi (Índia), Cidade do Cabo (África do Sul) e Ghent (Bélgica). O relatório final do programa será apresentado na Convenção Sobre Diversidade Biológica (COP 10), em Nagoya, no Japão, em outubro deste ano.
Serviço:
Para mais informações sobre os casos acesse: www.teebweb.org.