"Ônibus biarticulado se choca com outro veículo ao passar por cruzamento na Travessa da Lapa." Essa notícia vem se tornando recorrente e o que varia é apenas o trecho da via em que ocorrem os acidentes: ora na esquina com a Avenida Visconde de Guarapuava, ora na esquina com a Rua André de Barros. Apenas nos últimos sete dias, foram duas colisões muito semelhantes na região, deixando um homem morto e dois feridos com gravidade.
Nos últimos quatro anos, houve pelo menos outros quatro acidentes graves no local, com mortos e feridos, além de inúmeros choques mais leves. A reincidência chama a atenção de associações de motoristas, estudiosos do trânsito e comerciantes que trabalham na região e veem a cena se repetir sem que nada seja feito para diminuir a possibilidade dos choques.
Nos dois cruzamentos há semáforos, o que leva à interpretação de que a falta de atenção dos motoristas é mesmo a principal causa dos acidentes. Contudo, para o especialista em trânsito Carlos Hardt, diretor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), a análise não é tão simples assim. Ele chama a atenção para o contraste entre a estreiteza da Travessa da Lapa e as larguras da Visconde de Guarapuava e da André de Barros. A arquitetura do local faz com que o condutor que trafega pelas duas últimas vias não consiga enxergar os ônibus que vêm pela travessa.
Hardt afirma que a situação não exime os motoristas de culpa pela imprudência. "Se existem semáforos, não teria porque haver acidentes. Alguém está dirigindo no limite", diz. Ele aponta duas medidas que poderiam reduzir o número de colisões. Em primeiro lugar, o poder público poderia alterar a temporização dos semáforos, de modo a criar uma margem de segurança maior. "Pode ser que, enquanto o sinal de uma via tenha acabado de fechar, o outro esteja se abrindo muito rapidamente", opina.
Hardt também sugere a criação de uma campanha pública para divulgar a real função do sinal amarelo, que nunca deve ser interpretado como um aviso para acelerar. "A falta de postura defensiva é o grande problema do trânsito, os motoristas são muito agressivos", afirma.
Testemunhas
A comerciária Grace Kelly Padilha, que trabalha em uma loja na esquina da Travessa da Lapa com a André de Barros, afirma que em apenas seis meses no emprego já presenciou três acidentes graves. "É a coisa mais comum, sempre envolvendo biarticulados", diz. Em sua análise, embora os automóveis avancem o sinal com frequência, os motoristas de ônibus também têm uma postura imprudente com relação à luz amarela. "Às vezes, quando o sinal está amarelo, os ônibus chegam buzinando, como se fosse um trem que não pode parar", diz.
O gerente comercial Julio Cesar Fila também tem motivos para temer o trânsito da Travessa da Lapa. Em novembro de 2008, um ônibus se chocou com um automóvel no cruzamento com a Visconde de Guarapuava e invadiu a loja de motocicletas da qual ele é sócio. O ônibus só foi retirado depois de três dias e, como a loja não tinha seguro, houve prejuízo de R$ 100 mil. Para o gerente comercial, a prefeitura deveria instalar radares nos cruzamentos como forma de inibir avanços de sinal.
Prejuízos materiais e três meses em coma
Para o operador de empilhadeira Fábio Roberto Eleutério, 24 anos, a memória da esquina da Travessa da Lapa com a Visconde de Guarapuava não é das melhores. Foi lá que, em novembro de 2008, então com 20 anos, ele bateu o automóvel que dirigia contra um biarticulado. O acidente teve proporções cinematográficas: depois da colisão, o ônibus invadiu uma loja de motocicletas e lá ficou por três dias.
Fábio ficou três meses em coma, teve traumatismo craniano, afundamento do tórax e sete costelas partidas. Como o processo para determinar a culpa pelo acidente corre até hoje na Justiça, todas as despesas do tratamento foram custeadas por seus familiares.
Mesmo admitindo não se recordar das circunstâncias exatas de seu acidente, Fábio tem a convicção de que não furou o sinal vermelho. Vendo acidentes graves se repetindo no local, o jovem apela para que ocorram intervenções. "Não se pode manter aquela velocidade em que os ônibus sobem. Um redutor de velocidade cairia bem."