A queda de um avião monotor em cima de uma casa da Rua Paulo Ildefonso de Assumpção, na cabeceira da pista do Aeroporto do Bacacheri, em Curitiba, ontem, colocou em evidência o risco causado pela proximidade de residências e a falta de uma zona de escape. A aeronave Beechcraft A36 Bonanza caiu por volta das 9h30 e o piloto, Vitor Ascânio Caldonazo, 65 anos, morreu no local. O Aeroporto do Bacacheri é o quarto mais movimentado do sul país, com cerca de 930 pousos e decolagens mensais de aeronaves de pequeno e médio portes.
As recomendações da Portaria 1.141/GM5, do Minstério da Aeronáutica, de 1987, e da Instrução de Aviação Civil 2328, de 1990, é que pistas de comprimento entre 1,2 mil e 1,8 mil metros tenham uma zona livre de obstáculos altos de 60 metros. Do fim da pista de 1.390 metros do Bacacheri até a casa atingida a distância é de cerca de 30 metros, mas a residência fica abaixo do nível da pista, portanto não haveria nenhuma infração. O problema está na ausência de qualquer zona de escape após o fim da pista.
A Federação Internacional das Associações de Pilotos de Linhas Aéreas (Ifalpa, na sigla em inglês) recomenda uma área de segurança de 300 metros para tornar pousos e decolagens mais seguros. "A situação do Aeroporto do Bacacheri não representa obstáculos para a aviação, mas traz riscos à população vizinha frente a fatalidades como esta", avaliou o perito e especialista em acidentes aéreos Roberto Peterka. Segundo ele, seria necessário desapropriar alguns imóveis ou reduzir o comprimento útil de pista (e consequentemente a capacidade dos aviões), como foi feito em Congonhas. No aeroporto de São Paulo o uso da pista foi reduzido em 150 metros depois do acidente com o JJ 3054, da TAM, em 2007.
O acidente
O monomotor caiu sobre um terreno com duas casas, mas só a da frente, onde funcionava uma empresa de higiene, foi atingida. Vitor Caldonazzo era o único ocupante da aeronave. O gerente da empresa, Antônio Reginaldo Silva, e sua secretária não ficaram feridos. Na casa dos fundos, Sabrina Chagas da Costa, 23 anos, seu bebê e a sogra também escaparam. "Estava tomando banho na hora. Senti o bafo quente da explosão e só consegui pensar em sair correndo para pegar o meu bebê", disse Sabrina. O fogo foi controlado rapidamente pelos bombeiros e a casa dos fundos, liberada. A da frente foi interditada pela Defesa Civil.
Os demais vizinhos se assustaram com a notícia. Moradoras da casa ao lado da atingida, as funcionárias públicas Sônia Blanchet, 49 anos, e Vivian Blanchet, 45, no entanto, disseram não se preocupar com o aeroporto. "Sabemos que foi uma fatalidade", disse Sônia.
Investigação
Em nota oficial, o Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta II) informou que o plano de voo tinha como destino a cidade de Pará de Minas (MG). O Comando da Aeronáutica, por meio do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), iniciou investigações para apurar as causas do acidente. "Não posso dizer se a falta de uma zona de escape maior contribuiu ou não para o ocorrido ou se o relatório final vai apontar qualquer recomendação nesse sentido", afirmou o tenente coronel Marcos Santos, um dos responsáveis pela apuração. O Cenipa não sabe estimar quando terminará as investigações. O modelo do avião não possui caixa-preta.
Segundo o secretário de segurança de voo do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Carlos Camacho, as pistas sobre as causas devem vir da observação visual do aeroporto no horário do acidente, das informações de voo do piloto e de instrumentos do avião. A principal suspeita é de pane no motor. "Entre tantos motivos possíveis, o mais comum é falta de drenagem da água do combustível. O motor para e o piloto não consegue fazer mais nada", explicou Peterka.
Colaborou Rodolpho Stancki.
O internauta João Paulo Wodiani postou no YouTube um vídeo mostrando o incêndio. Confira:
Veja o local da queda do avião: