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Perto do fim das ocupações, estudantes não atingem as principais bandeiras

 | Henry Milleo/Gazeta do Povo
(Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo)

Uma morte, falta de apoio popular e transtornos nas eleições e Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Somados, esses fatores podem, segundo especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo, ter contribuído para que as ocupações de colégios no Paraná tenham ido pouco além da paralisação das aulas. Depois de um mês, o movimento Ocupa Paraná, que chegou a tomar 831 escolas no estado em outubro, iniciou a semana prestes a acabar sem conquistar nenhuma das bandeiras encabeçadas. A PEC 55, a antiga PEC 241, que estabelece um teto de gastos para o governo, segue tramitando no Senado. A MP 746, que trata de mudanças no ensino médio, também não sofreu impacto concreto dos secundaristas em Brasília. Por enquanto, há apenas uma possibilidade, admitida pelo presidente Michel Temer, de tornar a proposta um projeto de lei.

Para a coordenadora da pós-graduação em Direito e Educação da Universidade Positivo, Angela Christianne Lunedo de Mendonça, o assassinato de um adolescente dentro de uma das ocupações pesou bastante para que o movimento perdesse força no estado.

“Retratou a vulnerabilidade dos meninos. Sozinhos, em um ambiente novo, onde eles eram os grandes responsáveis e sem muita organização para isso”, comenta ela, acrescentando que o crime reforça a importância da presença de adultos acompanhando o processo de desenvolvimento dos adolescentes. “Esse vazio da presença do adulto mediador fica como grande questão dessa morte”, analisa.

Angela também avalia que, apesar das demandas do movimento estudantil serem audaciosas, não conseguiram ultrapassar a esfera estadual. “A estratégia não alcançou aqueles que eram responsáveis pela mudança, ministro de Educação, senadores, deputados federais. Os objetivos não foram alcançados, mas não deixo de considerar que houve grande impactos na discussão”, assinala.

Discussão, no entanto, foi o que faltou durante o movimento, afirma o coordenador da pós-graduação em Filosofia Política e Jurídica da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Bianco Zalmora Garcia. Na opinião dele, os estudantes se fecharam dentro das próprias pautas e não chegaram a promover debates com a comunidade sobre a MP 746 ou PEC 55. “Eles criticavam a imposição dos temas, mas a própria estratégia deles desencadeou rejeição entre a opinião pública”, pontua.

Segundo uma pesquisa encomendada pela Gazeta do Povo ao Paraná Pesquisas, dois terços dos paranaenses não aprovam as ocupações no estado. Esse resultado, argumenta o professor, pode ter sido reflexo do transtorno que a mobilização causou durante o segundo turno das eleições e no Enem. A postura estudantil, acrescenta, mostrou falta de responsabilidade em relação a recursos públicos e às pessoas. “Não houve um cuidado do movimento em pensar em estratégias que não fossem causar prejuízo. O adiamento das provas do Enem em escolas ocupadas acelerou o desgaste”, destaca.

Garcia afirma que a proximidade de segmentos político partidários e sindicatos com o movimento, seja fazendo visitas às ocupações ou dando suporte operacional, e a falta de coesão interna também podem ter tido peso no enfraquecimento do movimento. “Não podemos criminalizar nem sacralizar o movimento. Mas a cisão interna mostra aos grêmios que é necessário repensar a ‘democracia’ interna deles, além de reavaliar estratégias e autonomia. Eles não podem ficar a reboque de interesses partidários”, argumenta.

Autor de um livro que narra as ocupações em São Paulo, o professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (USP), Márcio Ribeiro, acredita, por sua vez, que a perda de força das ocupações faz parte de um processo natural dos movimentos. “Manter uma ocupação é uma dificuldade. Isso muda a rotina dos estudantes e tipicamente tem um prazo. Desde o início, a ocupação não é a finalidade do movimento”, defende Ribeiro. Segundo ele, os jovens pensaram, durante esse período, em outras formas de tentar participar das decisões que os afetam. Ele afirma, contudo, que fomentar reuniões com pais contrários e ocupantes nas escolas criou, aos poucos, pressão entre os jovens. “Isso tendia a colocá-los na berlinda, sem discutir, de fato, o que os estudantes queriam discutir”.

Reintegrações

O Paraná ainda tem, de acordo com a Secretaria de Estado da Educação (Seed), 27 escolas ocupadas no estado. Segundo a Procuradoria Geral do Estado (PGE), depois que a Justiça autorizou a reintegração de posse em 68 colégios de Curitiba, outras seis unidades foram ocupadas por estudantes. Em alguns casos, as escolas foram reocupadas após terem sido liberadas voluntariamente pelos alunos.

Procurado pela reportagem, o movimento Ocupa Paraná relata que esse tipo de estratégia também está ocorrendo no interior, em cidades como Apucarana e Sarandi, mas que não faz parte da orientação da organização. O movimento deve partir agora para ações de rua e junto a parlamentares, em Brasília.

A PGE já pediu reintegração de posse das seis escolas identificadas como ocupadas em Curitiba e obteve liminar favorável. A desocupação deve ocorrer nesta quarta-feira (9).

Nesta terça, alunos também ocuparam as Câmaras de Vereadores de Colombo e de Cascavel. A ação ocorreu logo após o encerramento da sessão plenária. Segundo a assessoria de imprensa do órgão, os jovens devem ficar alojados no plenário, o que não afetaria os trabalhos administrativos. Eles devem ter uma reunião com os vereadores nesta quarta, data em que a direção do órgão também deve pedir na Justiça a reintegração de posse do prédio.

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