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NOVIDADE | Mauro Campos
NOVIDADE| Foto: Mauro Campos

Danos à saúde e ao turismo

A pesca de arrasto do camarão perto da costa não causa problemas somente à biodiversidade. O crime ambiental também é uma ameaça à saúde humana e pode prejudicar o movimento turístico. Médicos alertam que carcaças na areia podem provocar doenças dermatológicas, além de lesões estomacais em banhistas que levem à mão ou alimentos à boca após contato com o local contaminado.

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Os recursos marinhos do litoral paranaense estão sendo dizimados por embarcações de pequeno e médio porte que praticam a pesca de camarão com arrasto motorizado. A constatação é de pescadores artesanais, pesquisadores e dos próprios órgãos ambientais do estado. E a infração não é cometida apenas por barcos paranaenses, a maioria de Guaratuba. Frotas de Itajaí, Santa Catarina, e do litoral sul paulista, além de Santos, também estão vindo à costa paranaense para fazer a pesca predatória. Os pescadores empregam três modalidades de arrasto: portas, tangones e parelhas.

A pesca por arrasto é feita com redes de malha fina, tracionadas por motores, que revolvem o fundo do oceano e capturam espécies em fase de desenvolvimento e a flora marítima, sem qualquer seleção. Em busca apenas do camarão, os pescadores descartam, de acordo com estimativa da Polícia Ambiental do Paraná, 70% do total capturado, lançando ao mar já mortos pequenos robalos, bagres, miragaias, siris e estrelas do mar.

O arrasto é próximo às praias, contrariando determinações de órgãos ambientais e provocando a contaminação das praias. Animais marinhos de porte médio – como tartarugas e golfinhos – também são vítimas da ação, ao ficarem presos ou se ferirem nas redes.

Legalizada para pescadores licenciados, a pesca do camarão por arrasto deve obedecer aos limites de distância. O Ministério do Meio Ambiente proíbe, no Paraná, a pesca de arrasto com portas a menos de 1 milha náutica (o equivalente a 1,852 metros). Para embarcações com capacidade superior a 10 toneladas, o limite é 1,5 milhas náuticas e a pesca pelo sistema de parelhas só deveria ocorrer a uma distância de no mínimo 5 milhas. Na prática, o que vem ocorrendo é o arrasto em distâncias menores de 250 metros da costa.

O produto da pesca ilegal é comercializado nos mercados de peixes, onde o quilo do camarão é vendido por valores entre R$ 3 e R$ 5. O crime ambiental é intensificado com a chegada de turisatas nos finais de semana e feriados, quando o quilo do camarão chega a ser vendido por R$ 12 nos mercados.

Não há estudos sobre o impacto do arrasto de camarão no litoral. Pescadores artesanais, que cultivam a pesca de subsistência, afirmam que há escassez de peixes na região. "Antigamente, você saía com uma rede e voltava com o barco cheio. Hoje, ficamos o dia inteiro no mar e voltamos sem nada. Na rede, caem apenas os filhotinhos", conta o pescador Pedro Antônio de Souza, de Matinhos.

Fauna e flora

A redução na fauna e flora marinha na costa paranaense é constatada também pelo oceanógrafo Frederico Brandini, do Centro de estudos do Mar (CEM) da Universidade Federal do Paraná (UFPR). "Além dos peixes, que não se conseguem se desenvolver, estão desaparecendo também a flora, que serve como base alimentar de várias espécies, inclusive do próprio camarão", diz ele. Segundo o pesquisador, estudos comprovam que para cada quilo de camarão retirado do mar pela pesca de arrasto, 4 quilos de fauna e flora marinha são mortos e descartados.

Para Brandini, a pesca do camarão por arrasto em áreas ilegais é o pior crime ambiental contra a integridade física e biológica dos ecossistemas marinhos. "Vai contra a maré do desenvolvimento sustentável da região costeira", ressalta. Segundo ele o camarão é um comodittie no comércio de pescado, cujo preço flutua com a oferta e a demanda. O oceanógrafo explica que a queda dos estoques e a escassez do produto fez o preço aumentar. Com o aumento, a busca se intensifica e a degradação aumenta, reduzindo ainda mais os estoques. O pesquisador chega a comparar o camarão à cocaína. "É um círculo vicioso cruel e injusto para com a natureza", avalia.

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