As canaletas do ônibus expresso de Curitiba foram inauguradas em 1974, no mesmo ano em que o metrô de São Paulo, pioneiro no Brasil, entrou em operação. Desde lá, o expresso foi aumentando de tamanho. Primeiro ganhou uma sanfona e se transformou em articulado. Nos anos 90, com mais uma sanfona, passou a ser biarticulado, com capacidade para 270 pessoas de cada vez (sentadas). Agora, a prefeitura informa que o eixo sul, que liga o Centro ao Pinheirinho, novamente dá mostras de saturação. E mais uma vez aparece a discussão sobre o metrô na cidade: afinal, Curitiba não deveria fazer o que a maior parte das cidades grandes no mundo já fez?
Um levantamento feito pela Paraná Pesquisas, a pedido da Gazeta do Povo, revela que a maior parte da população acha que já está mais do que na hora de a cidade ter um sistema de metrô. Entre os 700 entrevistados pelo instituto, 64% afirmaram que o projeto "está atrasado" e que a prefeitura já deveria estar implementando a primeira linha. Apenas 0,86% disseram que a cidade não deveria ter um metrô.
"É um resultado que nos surpreende positivamente", afirma ao presidente do Instituto de Pesquisas e Planejamento Urbano de Curitiba, o Ippuc, Luiz Henrique Fragomeni. Responsável por traçar estratégias para o transporte de Curitiba, o Ippuc já cogitou alguns tipos de metrô através do tempo. Durante a gestão de Cassio Taniguchi, por exemplo, o modelo mais cogitado era um "monotrilho" elevado, que anda alguns metros acima do solo. Agora, na gestão de Beto Richa, a intenção voltou a ser de fazer um metrô enterrado.
"Tudo o que temos até o momento são estudos, mas achamos que é a hora de fazer este debate", afirma Fragomeni. Para ele, o fato de uma parcela significativa da população ter interesse no metrô dá a entender que os estudos devem ser levados a cabo. "O Eixo Metropolitano, que transformará a antiga BR-116 (hoje 476) em uma via urbana, vai dar um alívio ao transporte no sul da cidade. Mas em mais alguns anos a saturação virá", diz ele.
A alta capacidade de passageiros é a principal justificativa para uma cidade instalar o metrô. "O metrô alivia a pressão que o transporte faz sobre o tecido urbano", afirma Raul de Bonis, diretor de Planejamento, Expansão e Marketing da CBTU, a Companhia Brasileira de Transporte Urbano. Ligada ao Ministério das Cidades, a empresa é a principal responsável por apoiar projetos de trens e metrôs no país. Atualmente está estudando uma solução para Curitiba em parceria com o Ippuc.
"Principalmente no eixo sul de Curitiba parece haver mesmo a necessidade de um transporte de maior capacidade", afirma de Bonis. O diretor da CBTU lembra que as maiores cidades do Brasil e de países que estão em condições semelhantes já buscaram a solução do metrô. No país, seis cidades têm sistemas em funcionamento: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Recife e Porto Alegre. Salvador está com um metrô em construção. Com isso, das dez cidades mais populosas do país, apenas Curitiba, Fortaleza e Manaus continuam usando apenas os ônibus.