Pesquisadores da universidade de Stanford divulgaram um estudo sobre o desenvolvimento de meninos e meninas em relação à situação socioeconômica em que crescem. O trabalho coordenado pelo economista Raj Chetty revela algo de que muita gente suspeita: o lugar de onde você vem – onde você cresce; quanto seus pais ganham; a formação profissional de ambos; se eles são casados ou não – desempenha um papel importante, muitas vezes determinante, sobre o que você vai conquistar lá na frente. Em outras palavras, ricos tendem a continuar ricos e pobres, a permanecer pobres.
Metodologia
O grupo de pesquisadores liderados por Chetty compilou dados de mais de 10 milhões de norte-americanos nascidos entre 1980 e 1982; depois, levantou quanto seus pais ganhavam entre 1996 e 2000 (anos em que os filhos estariam no ensino médio) e, por fim, quanto as crianças, já crescidas, estavam ganhando aos 30.
A novidade da pesquisa é a descoberta de um elemento de gênero nessa equação: meninos que crescem em famílias pobres se saem consideravelmente pior quando adultos, enquanto meninas criadas nas mesmas condições conseguem empregos e salários melhores.
Isso tem a ver com a postura de homens e mulheres em relação ao trabalho, conforme a classe social na qual foram criados. Enquanto entre os mais abastados e famílias de classe média, os homens são mais propensos a trabalhar do que as mulheres, entre os pobres acontece o oposto – é a mulher que trabalha mais.
É de família
A pesquisa também mostra a força da relação entre a renda dos pais e as conquistas da vida adulta para ambos os sexos. Não é exatamente uma novidade que crianças de famílias pobres crescem em um ambiente de menos oportunidades, mas Chetty apurou que 40% delas sequer conseguem um emprego aos 30 anos, em comparação com 20% das crianças de famílias classe média desempregadas nessa mesma idade.
Há uma outra relação, ainda mais direta, entre o futuro profissional e econômico de uma criança e o emprego de seus pais: quanto mais alto for o cargo que os pais ocupam, maior é a probabilidade de a criança vir a ocupar posição equivalente no futuro. Isso quer dizer que filhos de profissionais subordinados, e não chefes, têm menos chances de se tornarem chefes algum dia. Esse “caminho natural” só muda de direção quando se chega aos 1% mais ricos: nesses casos, os filhos também não trabalham, obviamente por outras razões.
Outro aspecto analisado por Chetty é a estrutura familiar. Os dados coletados por ele mostram que crianças criadas em lares com pais casados ganham mais quando adultos do que filhos de pais divorciados. Há diferenças,porém, entre meninos e meninas.
Entre os homens, a correlação entre emprego-salário e famílias com pais casados é evidente – e isso tanto em famílias ricas quanto pobres. Já entre elas acontece diferente: mulheres de famílias com pais divorciados trabalham mais (e antes) do que aquelas que crescem em famílias com pais casados.
Educação
Ao site americano Five Thirty Eight, especializado em estatísticas, o economista explicou que a pesquisa não aprofundou a investigação sobre o efeito que a educação teve sobre os resultados obtidos entre os adultos – especialmente entre aqueles que foram crianças em famílias de baixa renda.
Entretanto, o economista apontou que o acesso à educação e a qualidade da experiência escolar são determinantes das conquistas profissionais futuras. Os resultados de sua pesquisa mostram que crianças mais pobres dificilmente conseguem chegar à faculdade, principalmente homens e negros. Soma-se a isso a alta taxa de encarceramento entre jovens adultos e fica mais fácil entender porque, entre os mais pobres, as mulheres trabalham mais.
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