São Paulo - Poucas vezes a expressão "tempestade perfeita se aplica tão bem quanto no caso do futuro climático da região metropolitana de São Paulo. Na região, aquecimento global e urbanização devem produzir em 2030 novas zonas sujeitas a tragédias. Um estudo inédito, divulgado ontem, projeta que 20% das áreas de expansão urbana em São Paulo estarão sujeitas a alagamento e 11% terão risco de desabar daqui a duas décadas.
Isso se deve aos efeitos combinados do aumento da temperatura média da Terra, que aumenta a intensidade das chuvas, e da má qualidade da urbanização, que altera a distribuição das chuvas e põe mais pessoas em áreas de risco, como encostas. Intitulado "Vulnerabilidade das Megacidades Brasileiras às Mudanças Climáticas, o estudo é um mapeamento preliminar das regiões sensíveis ao clima da megalópole. Ele cruza dados geográficos sobre a região metropolitana, como impermeabilização do solo, declividade e hidrografia, com modelos de computador que estimam o impacto do aumento das temperaturas até 2100.
Novas ocupações
Baseados na maneira como a mancha urbana se expandiu entre 2001 e 2008, os autores do estudo estimaram quais áreas seriam ocupadas pela metrópole até 2030. A todos esses conjuntos de dados somam-se observações de eventos extremos observados na capital paulista nas últimas décadas. "O clima já mudou, disse o climatologista Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), coautor do estudo.
Segundo ele, não havia, na capital paulista, na década de 1930 chuvas de 50 mm em um dia (o equivalente a 50 litros de água num metro quadrado). Nos anos 90, eram quatro eventos assim. "São Paulo não tinha ondas de calor cem anos atrás e hoje tem várias, continua.
Concreto demais
Nobre, porém, isenta o aquecimento global da maior parcela de culpa pelas mudanças já observadas. Apesar de o Sudeste inteiro ter experimentado um aumento nas precipitações intensas (consequência prevista do aquecimento global) nos últimos 80 anos, na região metropolitana de São Paulo, esse aumento foi 3,5 vezes maior que a média. "A melhor hipótese é que a própria urbanização tenha mudado o regime de chuvas", afirma. Isso se deve ao fenômeno chamado ilha de calor urbana provocado pelo excesso de concreto, que aumenta a temperatura da cidade e influencia o tempo.
O efeito estufa, porém, está aumentando. Com a elevação projetada de 2ºC a 3ºC na temperatura da região metropolitana, o número de dias com chuvas de mais de 10 mm (passíveis de causar enchente) pode dobrar. As ondas de calor também aumentariam. Isso se traduz não apenas em mortes, mas também em falta dágua, segundo Andréa Young, da Unicamp, que também assina o estudo.
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