Imagine misturar vinho tinto com sais de ferro e cobre e, no fim da experiência, obter ouro, prata ou paládio, um metal caro usado em grande escala na indústria e na produção de ouro branco. Agora estenda a experiência e tente a mesma coisa com chás, extrato de plantas, açúcar, suco de beterraba, vitaminas e o bagaço resultante das uvas após o processamento para produção de vinho e tenha o mesmo resultado. Impressionante, não?
Pois o pesquisador da Agência Americana de Proteção do Meio Ambiente (EPA, na sigla em inglês) Rajender Varma garante que isso não só é possível, mas plenamente viável e não deve demorar muito para virar realidade no cotidiano das pessoas.
Indiano radicado nos EUA, há 35 anos Varma faz pesquisas na área de Química Verde e trabalha em um desafio daqueles: desenvolver e viabilizar alternativas dentro da nanotecnologia capazes de serem baratas, não serem poluentes e representarem soluções sustentáveis para as demandas da indústria e da população.
O pesquisador passou pelo Paraná na semana passada para participar da 4.ª Conferência Internacional de Química Verde, em Foz do Iguaçu, e realizar uma palestra para os alunos dos cursos de Química, Engenharia Química e Ciências Biológicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) em Curitiba.
Segundo ele, o principal benefício dos experimentos de nanotecnologia entre eles, os de obtenção de ouro, prata e paládio está em criar uma lógica de produção que seja cada vez mais consciente. "Ao adotar a nanotecnologia, deixamos de lado os químicos agressivos e caros utilizados hoje e esses metais passam a ser produzidos a um preço menor e com menos impacto ambiental."
Cheio de novas ideias, atualmente o professor também trabalha em pesquisas utilizando materiais que não são usados na alimentação humana para desenvolvimento de metais sem impactar na produção de alimentos. O principal representante dessa classe é o sorgo, um grão resistente e mais barato que o milho e o trigo, usado como ração para criação de frangos e porcos.
Restrições
Por enquanto, uma das restrições colocadas pelos críticos da nanotecnologia é que, devido ao tamanho muito reduzido dos materiais utilizados, não há uma tecnologia capaz de contê-los para que não caiam no ar e, dependendo de sua composição, poluam o ambiente. De olho nisso, o professor Varma desenvolveu um estudo no qual nanopartículas foram separadas por magnetismo.
"Magnetizadas, essas partículas podem ser facilmente localizadas e reunidas com o uso de imã. Se você pensar, é possível purificar um copo de água usando essa técnica, então imagine o impacto econômico e ambiental positivo que isso teria para limpar um rio, por exemplo."
Interesse pela ciência
O professor descarta a ideia de ser um revolucionário, já que, para ele, optar por essa noção de Química Verde e reutilização de resíduos na produção de novos materiais não se trata de uma inovação. "Pelo contrário, é a coisa mais antiga do mundo. A natureza mantém um ciclo próprio em que as coisas são produzidas, cumprem sua função, morrem e são reaproveitadas, dando origem a novas coisas, que reiniciam esse ciclo. O que faço é copiar essa fórmula de sucesso e utilizá-la na ciência."
Todos os estudos, segundo Varma, servem para mostrar que aquela história de que a ciência é chata e inacessível não passa de lenda. "Ciência pode sim ser legal e ser praticada no dia a dia. Quando falo de minhas pesquisas, é comum prender a atenção das pessoas e, mesmo que não atinja a todos, se ajudar alguns a serem melhores, minha missão no mundo já está completa."
Interatividade
Você consumiria produtos resultantes dos experimentos de nanotecnologia? Por que?
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