A pesquisadora Alinne Bonetti, do Programa Nacional para o Desenvolvimento, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), diz que a discriminação é a explicação para a diferença salarial entre homens e mulheres. Essa diferença é mostrada pela pesquisa Mulher e Trabalho, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em convênio com a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), divulgada no último dia 4.

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Não há outra explicação a não ser o teto de vidro que as mulheres ainda não conseguem transpor e que se deve a discriminações. Há toda uma questão cultural, de desconfiança da capacidade das mulheres; essa desigualdade é mais difusa, porque está nos valores e é tão arraigada e tão inconsciente que não se percebe, afirma Bonetti.

O rendimento médio feminino, por hora, corresponde a 76,5% do masculino, segundo a pesquisa. O rendimento médio por hora das mulheres foi de R$ 5,76 em 2008 (diminuição de 0,9% em relação a 2007), enquanto o dos homens foi de R$ 7,53 (aumento de 1 % em relação a 2007).

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Se a gente compara os dados de mercado de trabalho com os de educação, por exemplo, as mulheres superam os homens no tempo de estudo e na qualificação, mas isso, curiosamente, não se reflete no mercado, diz a pesquisadora.

O rendimento por hora, entre as mulheres, aumentou entre as menos escolarizadas e diminuiu entre as mais instruídas, enquanto com os homens ocorreu o inverso.

A taxa de desemprego feminina também diminuiu menos que a masculina. Segundo o estudo, a taxa de desemprego totaldas mulheres é tradicionalmente maior do que a dos homens e, apesar do nível de ocupação das mulheres ter crescido mais que o dos homens no período, o ingresso de mulheres no mercado de trabalho foi muito mais intenso.

Isso sempre existiu, tanto a taxa de desemprego ser maior para as mulheres quanto os salários serem menores, afirma Patrícia Lino Costa, coordenadora da Pesquisa de Emprego e Desemprego em São Paulo.

Segundo Costa, a participação das mulheres é maior nos setores de serviços e comércio, que registraram aumentos salariais menores que a indústria e a construção civil, áreas em que predominam os homens.

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De acordo com a pesquisa Retratos da Desigualdade 2007, do Ipea, nos últimos 15 anos aumentou o número de famílias chefiadas por mulheres, atingindo 33% em 2007, mas o número de horas que as mulheres se dedicam a afazeres domésticos (27,2 horas semanais) ainda é muito superior ao tempo gasto pelos homens (10,6 horas por semana).

Por mais que eles (homens) estejam lá no discurso igualitário, quem é chefe de família é a mulher. No dia-a-dia, eles não se sentem responsáveis pela reprodução, pelo trabalho reprodutivo da família, aí há uma desigualdade explica Bonetti.

A taxa de participação das mulheres no mercado de trabalho, na região metropolitana de São Paulo, voltou a aumentar depois de três anos e chegou a 56,4%, em 2008 (1,3% maior do que em 2007). Esse aumento da presença das mulheres no mercado de trabalho ocorreu em todos os grupos de idade, escolaridade, raça/cor e posição no domicílio, atingindo particularmente as mulheres de 50 a 59 anos, as que tinham pelo menos o ensino fundamental completo e as casadas, segundo o estudo do Dieese.