Punição - Alternativa está em uma legislação mais rígida
A descrença na legislação tem um peso susbstancial quando se trata de desobediência no trânsito. Por pensar assim, a professora Iara Thielen defende mudanças nas leis e um controle mais rígido para inibir os motoristas infratores.
"As leis de trânsito mudam muito com o tempo. Em uma cidade você encontra locais onde é permitido andar a 40 quilômetros por hora e outros a 60. Nas rodovias, antes era possível chegar a 80 quilômetros por hora, e agora esta velocidade subiu para 110", diz.
Esta alteração constante dá margens a dúvidas e, para Iara, é o que faz com que as pessoas se sintam mais livres para decidir a quantos quilômetros por hora vão andar. "Quantos cometem infrações e não são pegos?", questiona. Para ela, limite deve ser limite.
"Andar acima de 30 quilômetros por hora na frente de uma escola é ser um potencial assassino. As crianças correm e são imprevisíveis. Também não é possível admitir um porcentual de bebida alcoólica ingerida. Não deveriam existir tolerâncias." A cultura dos brasileiros é outro fator de risco para o trânsito. Iara conta que em outros países os próprios motoristas são fiscalizadores do tráfego. (PM)
Motoristas com nove ou mais multas de trânsito são individualistas, têm autoconfiança exagerada e percepções distorcidas sobre o Código Brasileiro de Trânsito. Além disso, dificilmente respeitam a sinalização e, quando o fazem, é porque são inibidos por agentes externos, como os radares. "Mesmo assim, eles se julgam hábeis condutores", comenta a professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Iara Thielen, que traçou o perfil dos infratores a partir de entrevistas. Ela ouviu 20 condutores curitibanos que tinham nove ou mais infrações de trânsito e outros 16, sem multas. O material foi usado em sua tese de doutorado.
A pesquisa teve como ponto de partida a discussão sobre o excesso de velocidade. Respostas distorcidas surpreenderam a pesquisadora. Segundo ela, muitos motoristas disseram que foram penalizados não porque aceleraram demais, mas porque havia um radar naquela rua e não foram capazes de frear a tempo. Ou ainda porque determinado radar estava em uma posição de difícil visualização.
"Eles têm dificuldade para aceitar que a velocidade flagrada era excessiva e se rebelam contra a multa aplicada", explica Iara. Para ela, os infratores são individualistas porque se acham hábeis, mas não são capazes de perceber que correm riscos e colocam outras pessoas na mesma situação. "Durante a pesquisa, alguns motoristas disseram que o trânsito não foi feito para a maneira como eles dirigem. Isso é a caricatura do individualismo." Há também outros fatores que marcam esta característica: o condutor não dá espaço para o outro manobrar, por exemplo, porque acredita ter mais direitos. "Eles se perguntam, por que tenho de ceder e ser inferior?", exemplifica.
Exagero
No quesito autoconfiança, um fator que contribui para o exagero é a familiaridade que o condutor tem com o trajeto. O empresário Amauri Rogério Valt conta que o maior número de multas que já teve foi no caminho para casa. "Você se desliga e não percebe o seu redor atentamente. Quando se dá por si, já passou por um radar em uma velocidade maior do que a permitida." Amauri tirou a carteira há dez anos e, neste período, já colecionou pelo menos dez multas. "O problema é que não dá para andar sempre a 60 quilômetros por hora. Ainda mais quando você tem um carro potente. Eu acredito que é possível aumentar o limite de velocidade em algumas regiões da cidade. Tem muita gente que anda devagar e atrapalha o trânsito", explica. Ele conta que bateu o carro há quatro meses e, por conta disso, consegue perceber que, às vezes, é imprudente. "Todos nós somos. Quanto mais velhos ao volante, acho que os motoristas ficam cada vez piores."
A professora de Educação Física, Natália Sversut, com carteira de habilitação há dois anos, nunca teve multas. Entretanto, ela também compartilha da opinião de que existem lugares em que é preciso andar mais rápido. "Às vezes não dá para respeitar o limite imposto pelas placas. Aí ando em uma velocidade que me sinto segura. O problema na cidade é que existem pessoas que dirigem muito devagar. Na Avenida Visconde de Guarapuava, por exemplo, é preciso dirigir a 50 quilômetros por hora para conseguir pegar todos os sinais abertos. Porém, tem gente que nem isso faz e, por isso, atrapalha o tráfego", afirma.
Infrações
No primeiro semestre deste ano, o Departamento de Trânsito do Paraná (Detran) já contabilizou em todo o estado pelo menos 181 mil multas de motoristas que andaram acima de 20% da velocidade permitida. Só em Curitiba foram 128 mil casos (veja a tabela nesta página). Segundo a professora Iara Thielen, que também é coordenadora do Núcleo de Psicologia do Trânsito da UFPR, muitos motoristas ficam exaltados com as penalizações por julgar que não estavam a uma velocidade alta. "Eles têm o hábito de segurar o ponteiro a 60 quilômetros por hora perto dos radares. Só que não percebem ou não sabem que com esta velocidade a probabilidade de matar alguém é grande. De todos os atropelamentos nesta velocidade, apenas 30% das vítimas saem vivas", explica Iara.
Para a pesquisadora, o erro humano é responsável por 90% dos acidentes em Curitiba. "A violência no trânsito é a segunda maior causa de mortalidade no país." E o motivo disso Iara sabe muito bem. "A lei não é referência para os condutores. Eles não se preocupam com a legislação de trânsito. Até a conhecem, mas dizem que excesso de velocidade é outra coisa."
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