Usuários de medicamentos estão cada vez mais expostos ao risco de sofrer reações adversas graves por causa de problemas existentes no sistema de pesquisa, aprovação e divulgação de novas drogas. Para piorar, mais de 85% dos remédios lançados pela indústria nos últimos 40 anos oferecem pouca ou nenhuma vantagem terapêutica quando comparados aos já existentes que faça esse risco valer a pena.
As conclusões estão no livro The Risks of Prescription Drugs ("Os Riscos dos Medicamentos", em tradução livre), lançado recentemente nos Estados Unidos. Na obra, o cientista social Donald Light reúne pesquisas que mostram, por exemplo, que as notificações de reações adversas crescem 15% por ano nos EUA, além de o problema ter se tornado a quarta causa de morte no país.
O autor elenca uma série de práticas dos laboratórios batizadas de "síndrome da proliferação do risco" que aumenta a probabilidade de os usuários sofrerem reações adversas. A primeira delas é o fato de a maioria dos testes feitos para avaliar a eficácia e a segurança de novas drogas ser conduzida pela própria indústria, de forma a maximizar os benefícios e minimizar evidências de efeitos colaterais.
"Há vários estudos que mostram as técnicas usadas para minimizar a documentação de efeitos adversos", diz Light. Uma delas, segundo ele, é encurtar os ensaios clínicos e excluir idosos, mulheres e outros voluntários com maior probabilidade de apresentar problemas. "Quando as agências reguladoras aprovam uma droga é porque a consideram segura. Mas a verdade é que elas não têm evidências suficientes para saber isso."
Crítica
O sanitarista José Rubens Bonfim, da Sociedade Brasileira de Vigilância de Medicamentos (Sobravime), concorda. A forma como os estudos clínicos são concebidos, diz ele, não permite avaliar direito a segurança. "Os melhores ensaios são feitos com cerca de 3 mil pacientes. É pouco."
Bonfim conta que os testes do rimonabanto (remédio para obesidade da Sanofi-Aventis, cujo nome comercial era Acomplia) foram feitos com 5 mil voluntários e ainda assim não detectaram o principal efeito adverso, a propensão ao suicídio, que fez a droga ser retirada do mercado.
Segundo dados do livro, cerca de um em cada cinco novos medicamentos causa efeitos colaterais graves o suficiente para necessitar a inclusão de um alerta na bula ou ser retirado do mercado na primeira década de uso. Exemplos recentes não faltam, como o remédio contra acne da Roche, Accutane, relacionado a doenças inflamatórias intestinais. E o anti-inflamatório Prexige, da Novartis, proibido no Brasil depois de causar diversos casos de hepatite, hemorragia, arritmia e enfartes.