Um líquido viscoso, preto e com cheiro característico de petróleo está "brotando" há três semanas na calçada da Rua Tancredo Neves, no bairro Itatinga, periferia de São Sebastião, litoral norte de São Paulo. O forte odor tem incomodado os moradores e há casos de mulheres e crianças com náusea e mal-estar.
A Petrobras foi multada na semana passada pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente em R$ 5 mil, valor máximo permitido pela lei ambiental do município. A Petrobras anunciou que recorrerá da multa por considerá-la indevida, pois o produto "comprovadamente não tem relação com nossas atividades".
Em 2006, na mesma área, um morador descobriu petróleo no quintal de sua casa quando realizava uma reforma. Antes da descoberta, ele se queixava de cheiro forte de petróleo na vizinhança. Em uma rua próxima, o produto jorrava na calçada. Na época, nove famílias foram removidas pela Petrobras, que pagou cerca de R$ 150 mil por imóvel, de acordo com os moradores. Eles passaram por exames laboratoriais para detectar possíveis contaminações.
A Petrobras divulgou na ocasião que a substância era "óleo degradável". As casas foram demolidas e a área, interditada, com muros de concreto. O bombeiro civil Evaldo Pereira, de 39 anos, morador da região, afirma que novos focos foram registrados a um quilômetro da área contaminada e que técnicos da empresa não visitaram o local mesmo após as reclamações. O muro da área interditada amanheceu pichado com as inscrições "Petrobras assassina" e "Socorro, Petrobras".
De acordo com Pereira, a dificuldade acontece quando chove na área supostamente contaminada. "A água infiltra-se no solo e traz o petróleo à tona, que é mais leve. O resultado é o extravasamento do produto pelas ruas do bairro", afirma ele, que mora no local há 30 anos.
Pereira diz que novos casos de doenças relacionadas ao produto vêm sendo registrados. "Os sintomas que nossos vizinhos têm são semelhantes aos de funcionários de indústrias petroquímicas, ou seja, são provocadas por gases tóxicos produzidos por hidrocarboneto (petróleo), como ansiedade generalizada."
Para complicar a situação, algumas residências próximas estão ruindo em função das escavações que são feitas pela Petrobras. Moradores suspeitam que a Petrobras tenha aterrado grande parte do bairro - praticamente inexistente na época - com óleo contaminado, possivelmente proveniente de limpeza dos tanques na década de 1970. Os resíduos teriam permanecido no solo. Ao longo dos anos, as casas foram erguidas em cima dessa área.
Estatal
Segundo a Petrobras no Rio, o produto que aflora na calçada não é tem relação com as atividades da empresa. A estatal afirma que com a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), realizou análises químicas do produto e "todas constataram que não se trata de hidrocarbonetos de petróleo". Ainda conforme a Petrobras, "as ações vêm sendo acompanhadas pelo Ministério Público (MP), Cetesb, Vigilância Sanitária e Secretarias de Meio Ambiente e Saúde (de São Sebastião)".
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