A Polícia Federal cumpriu, no início da noite de ontem, em Curitiba, mandados de busca e apreensão de documentos relacionados a uma investigação sobre tráfico de pessoas. A ação ocorreu na casa de Adelino Souza, no bairro Bigorrilho. Adelino, mais conhecido como Lino, é apontado como um dos representantes no Brasil da organização não governamental (ONG) Limiar, suspeita de intermediar adoções internacionais supostamente irregulares de crianças de São João do Triunfo, no Centro-Sul do Paraná. O mandado foi solicitado pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Tráfico de Pessoas, em andamento na Câmara dos Deputados.
Segundo informações da Polícia Federal, não havia ninguém na residência no momento em que o mandado foi cumprido. No local foram apreendidos documentos relacionados a adoções internacionais. Ninguém foi preso e não houve flagrante. Os materiais apreendidos, de acordo com a PF, foram encaminhados para a superintendência da Polícia Federal em Curitiba e, posteriormente, serão entregues à CPI do Tráfico de Pessoas.
Suspeitas
Um depoimento dado na manhã de ontem na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), instaurada na Câmara dos Deputados para apurar o tráfico de pessoas, aumenta as suspeitas sobre a organização não governamental (ONG) Limiar Brasil, com sede em São Paulo (SP), que intermediava adoções de crianças brasileiras para casais norte-americanos.
O presidente da ONG, Ulisses Gonçalves da Costa, que depôs aos deputados, disse que a organização parou de intermediar adoções em 1999 e que Adelino de Souza, conhecido como Lino e residente em Curitiba, não é representante da ONG no país.
O vice-presidente da CPI, o deputado federal Fernando Francischini (PEN-PR), apontou duas principais contradições no depoimento. A primeira é que há indícios de que a Limiar intermediou a adoção de sete irmãos que moravam com os pais biológicos em São João do Triunfo, no Centro-Sul do Paraná, em meados de 2005, para um casal dos Estados Unidos, e que Lino ainda consta como representante da ONG no site do Tribunal de Justiça do Paraná.
Conforme dados da CPI, a ONG intermediou a adoção internacional de 1,7 mil crianças brasileiras nos últimos 20 anos.
O Ministério Público se manifestou anteriormente afirmando que todas as adoções tiveram autorizações judiciais e que os processos não tiveram irregularidades.
"É claro que alguém está sonegando informações", reforçou Francischini. O deputado chegou a pedir, durante o depoimento, a prisão em flagrante de Ulisses Costa, mas o presidente da CPI, deputado federal Arnaldo Jordy (PPS-PA), disse que vai encaminhar o caso para a PF para que a instituição instaure um inquérito policial.