A Polícia Federal (PF) realiza uma operação contra o tráfico internacional de drogas em cinco municípios do interior do Paraná nesta terça-feira (2). A ação ocorre em Umuarama (base da quadrilha), Londrina, Altônia, Cruzeiro do Oeste e Maria Helena. Também são cumpridos mandados nos estados de São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Rondônia.
Veja fotos da operação da PF e dos bens apreendidos
Ao todo, foram cumpridos 12 mandados de prisão. Um pessoa, residente em Umuarama, continuava foragida até o início da tarde. A PF também cumpriu 16 mandados de condução coercitiva (quando a pessoa é levada para depor); 39 de busca e apreensão em domicílios (por documentos e provas); 42 de busca e apreensão contra bens móveis (veículos, embarcações e aeronaves) e 3.500 de busca apreensão de cabeças de gado.
Também foram expedidas ordens de bloqueio de 43 imóveis, entre eles sete fazendas, quatro sítios, cinco apartamentos, nove casas e dois prédios comerciais. O total de bens incluídos nesta ordem é de mais de R$ 60 milhões.
Além dos imóveis, foram bloqueadas as contas bancárias de 17 pessoas.
As ordens judiciais da operação, batizada de Denarius (dinheiro, em latim), foram expedidas pelo juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal de Curitiba - o mesmo que comanda a parte judicial da Operação Lava-Jato.
Participam da operação contra o tráfico 180 policiais federais e 10 auditores da Receita Federal. Além do Paraná, também há o cumprimento de mandados em mais 11 municípios de outros 5 estados da federação. A ação, segundo a PF, é comandada pela delegacia da corporação em Londrina.
Líder da quadrilha é preso em Londrina
A PF prendeu o suspeito de chefiar a quadrilha em Londrina, cidade do Norte do Paraná. Ele é pecuarista e vive em Umuarama, mas tem um apartamento na Gleba Palhano, bairro nobre na zona sul da cidade, onde foi localizado pelos agentes. A Polícia Federal não divulgou o nome completo dele, mas afirmou que o pecuarista é conhecido como Tony Boiada.
A suposta amante dele, de 23 anos, também foi presa em um apartamento na Rua Piauí, no Centro da cidade. De acordo com o delegado da Polícia Federal de Londrina, Elvis Secco, a jovem não participava efetivamente das operações da quadrilha, "mas tinha conhecimento de todo o esquema."
Com os dois, a polícia apreendeu uma Mercedes-Benz e um Volkswagen Jetta. Até as 10 horas, a PF não havia confirmado os nomes dos presos. Eles foram ouvidos na sede da Polícia Federal em Londrina nesta manhã. A previsão é que à tarde os dois sejam encaminhados para a sede da superintendência da PF em Curitiba.
Também nesta manhã, os agentes apreenderam um helicóptero no Aeroporto 14 Bis. Ele foi levado até o Aeroporto de Londrina e de lá seguirá para Curitiba. Também foi apreendido um avião em uma cidade próxima a Umuarama. Ainda nesta terça-feira, esta aeronave deverá ser levada também para o Aeroporto Governador José Richa e, posteriormente, para a capital.
O helicóptero, de prefixo PR-YFH, é de propriedade da empresa Viaer. Gedson Ferreira, gerente da empresa, confirmou ao JL que a aeronave modelo Robinson R44II estava arrendada ao suspeito. "Temos todos os contratos, todos os documentos que comprovam que essa pessoa estava operando com a aeronave. Não há nenhuma participação da Viaer neste caso", reforçou.
De acordo com o delegado, a droga contrabandeada pela quadrilha não passava por Londrina. A cidade servia apenas como "base logística" do esquema. Lá, os integrantes do grupo criminoso tinham uma vida luxuosa. Eles lavavam dinheiro comprando lanchas, jet ski, veículos e imóveis de alto padrão.
O esquema
Segundo a PF, as investigações começaram em fevereiro deste ano, quando houve a identificação do pecuarista de Umuarama que, com apoio de pessoas de Londrina e de outros estados, recebia carregamentos de cocaína vindos do Peru e da Bolívia.
No cruzamento de informações, a PF descobriu que um suspeito de tráfico de drogas passou a fazer grandes negócios com investimentos em fazendas, aeronaves, viagens e outras regalias incompatíveis com a renda declarada. Segundo a PF divulgou por meio da assessoria de imprensa, o fazendeiro montou uma rede que se especializou em trazer a cocaína até Ariquemes (RO), onde era camuflada em madeiras de casas pré-fabricadas e transportada de navio, a partir de Porto Velho até a Espanha.
Saiba como surgem os nomes das operações da PF
A droga era então camuflada em meio a carregamentos de madeira para a construção de casas pré-fabricadas e enviadas em contêineres para a Europa, principalmente Espanha. A carga deixava o Brasil por Porto Velho, em Rondônia.
A quadrilha recebia pagamento pelos envios principalmente em euros, que eram enviados para uma rede de operadores ilegais de câmbio em São Paulo e Umuarama. Após a lavagem do dinheiro, ele era usado para a aquisição dos bens, que são alvo de parte dos mandados expedidos pela Justiça.
Como parte das investigações, em setembro, a PF apreendeu 830 quilos de cocaína camuflados em meio à madeira. De acordo com o delegado Elvis Secco, a droga apreendida é avaliada em US$ 40 milhões. "A estimativa é que após o pagamento dos interventores, ficasse US$ 20 milhões de lucro para a quadrilha."
Lava Jato
O modus operandi da quadrilha é parecido com o descoberto na deflagração da Operação Lava Jato, da Polícia Federal. No esquema da Lava Jato a droga também vinha da Bolívia e do Peru, passava pelo Brasil e seguia para a Europa, onde era comercializada. A diferença entre os dois esquemas é que no caso da Operação Denarius a droga saía do Brasil por Porto Velho, em Rondônia. Já no caso da Lava Jato a quadrilha usava o Porto de Santos, em São Paulo, para enviar a droga ao exterior.
De acordo com o delegado da polícia federal Vinícius Zangirolani, os dois esquemas, embora parecidos, não têm conexão. "Durante todo o período de investigação não encontramos nenhuma coincidência entre os dois casos", afirmou.
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