Três operações por mês, mais de mil flagrantes e 411 prisões. Esses resultados elevaram a Polícia Federal do Paraná ao patamar mais alto de produtividade no país. Conforme balanço preliminar divulgado semana passada pelo Departamento da Polícia Federal (DPF), a superintendência da instituição no estado chegou em 2012 ao primeiro lugar. Só em 2012 foram 37 operações, 95% a mais do que o ano anterior. A DPF deve terminar o levantamento até o fim da semana. Mesmo assim, a tendência é de que o estado permaneça à frente no ranking.
"Faz parte do perfil da administração da superintendência no estado. Houve um aumento de trabalho na área de inteligência", conta o titular da Delegacia de Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal no estado, Wagner Mesquita. Segundo ele, essa sempre foi uma preocupação do superintendente da PF no estado, José Alberto de Freitas Iegas (veja entrevista com ele nesta página).
Mesquita foi responsável por grandes investigações e ações inusitadas que chamaram a atenção pelo impacto, como o estouro de uma fortaleza do jogo do bicho em Curitiba. Para Mesquita, a capacitação é uma das razões da otimização do trabalho da PF no estado. "Todas as equipes passaram por readequações e por cursos na área de inteligência", comenta.
Fronteira e integração
A posição geográfica do estado favoreceu também a integração com outras superintendências, como a de São Paulo, Rio de Janeiro. O Paraná é conhecido pelo corredor de passagem de traficantes de drogas e armas. O ritmo de trabalho da Polícia Federal na fronteira é muito grande, já que o estado faz fronteira com a Argentina e o Paraguai. "Muitas vezes, São Paulo faz operação e aparece alguém daqui. Então, nós continuamos a investigação a partir daquela prisão ocorrida em uma ação da PF de outro estado", explica Mesquita.
Outro diferencial empregado em 2012 foi uma integração da PF com a Polícia Militar (PM) do Paraná. "Firmamos esse convênio com a PM, que dá muita capilaridade ao trabalho policial", afirma Mesquita. Pela presença em todo o estado, a PM acaba recebendo muita informação que auxiliam nas investigações federais.
Análise
Sociólogo da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Cézar Bueno salienta que a preparação dos policiais federais é muito superior se comparada às polícias estaduais. "A PF é uma espécie de ilha na segurança pública do país. Tem um modo de atuar mais eficiente, com uma atuação, inclusive, mais humanista. Ninguém ouve falar de mortes em confronto com a polícia federal", ressalta Bueno.
Na avaliação dele, além de ter um salário acima da média dos servidores da segurança pública em todo país, a qualificação da PF deveria ser exemplo para as polícias estaduais. "Além disso, é menos corporativista e como os policiais mudam de estado não mantém vínculos locais perniciosos", pondera.
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ENTREVISTA
Corrupção é o maior obstáculo contra o crime
José Alberto de Freitas Iegas, superintendente da Polícia Federal no Paraná
O delegado José Alberto de Freitas Iegas, 41 anos, não será mais o superintendente da Polícia Federal do Paraná a partir do dia 15. A notícia chegou a surpreender alguns, mas não é recente o desejo do alto escalão da PF de tê-lo atuando na área de inteligência em Brasília, o que acontecerá nas próximas semanas. Iegas elevou o Paraná ao posto mais alto no ranking de produtividade do Departamento da PF. "Isso se deve a muito empenho dos policiais", diz.
Antes de a transferência ser concretizada, Iegas conversou com a reportagem da Gazeta do Povo, na Superintendência da PF, no bairro Santa Cândida. Ele ressalta que o principal problema no combate ao crime organizado é a corrupção dos agentes públicos. "Sempre que tem uma investigação de médio porte para cima, existe a participação de agentes públicos", destaca. Veja a entrevista.
Como o senhor avalia esse período de pouco mais de um ano e meio à frente da Superintendência da Polícia Federal no Paraná?
Foi um período muito positivo, apesar de alguns momentos difíceis, como o da greve de parte dos policiais federais. Conseguimos alguns avanços, como aquisição de lanchas blindadas para Foz do Iguaçu. Estamos em via de inaugurar a delegacia da PF em Guaíra. Fizemos algumas operações importantes de combate à corrupção, tráfico de entorpecentes, contrabando. Aprimoramos o trabalho da força-tarefa, uma atuação conjunta da PF com policiais militares, principalmente no combate ao tráfico de drogas em todo o estado.
O crime organizado é forte no Paraná?
Sim, até em razão das fronteiras. Isso torna o Paraná um centro estratégico. É inegável que existe atuação de organizações, quadrilhas estruturadas aqui. Nós procuramos aprimorar nossas estruturas para reverter isso.
Quais os principais problemas que a PF encontra para combater o crime organizado no estado?
O crime é muito dinâmico e temos uma capacidade limitada de conduzir grandes operações, mas a maior dificuldade é a corrupção. Esse é o grande problema. Sempre que tem uma investigação de médio porte para cima, existe a participação de agentes públicos. E, infelizmente, o Paraná, como é rota de contrabando e outros crimes, alimenta muito a cadeia de corrupção.
A integração com as forças do estado tem funcionado?
Essa relação com a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) avançou muito também. A força-tarefa [que investiga o tráfico de drogas] é exemplo disso. Outras atividades que investigam organizações criminosas dentro e fora dos presídios também são. Há uma integração com a Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania que tem dado resultados positivos. Obviamente há muitos problemas nessas instituições, assim como temos na nossa também, mas há uma confiança muito grande na PM e na Polícia Civil.
O que a PF precisa melhorar na fronteira?
É preciso sempre pensar em aumento do efetivo, que deve ser uma providência permanente. Mas não é só com efetivo que se resolve. Temos de aprimorar questões tecnológicas, como o Vant (Veículo aéreo não tripulado), que enfrentou alguns problemas, mas que deverá voltar a operar nas próximas semanas.
O índice de produtividade da PF no Paraná é o melhor no Brasil. O que mudou?Sempre foquei que a polícia tem de estar na rua, operando, combatendo o crime, seja pequeno, médio ou grande. Foi isso que focamos. Graças ao empenho dos policiais, conseguimos melhorar esse índice. Não é apenas devido à posição geográfica do estado, é mais graças ao empenho dos policiais, que ficam em missões por longo prazo. Mas também há destinação de recursos, [uma melhor] gestão da PF, que prioriza unidades de fronteira.