Dez médicos concursados do Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) foram indiciados pela Polícia Federal por estelionato, falsidade ideológica, abandono de função pública e prevaricação. Segundo as investigações, eles agiam como servidores “fantasmas”: recebiam salários sem cumprir a carga-horária para a qual foram contratados.
Nos horários em que deveriam estar no HC, os médicos atendiam em clínicas e hospitais particulares, dos quais eram donos ou sócios. A operação foi batizada de São Lucas, em menção ao padroeiro da medicina.
“A prática era de notório conhecimento no HC”, disse o delegado de repressão aos crimes financeiros, Maurício de Brito Todeschini. “Há indícios de que a prática estava difundida entre outros setores e funcionários”, completou.
Auditoria da CGU
A investigação começou com uma auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU), que fez um pente-fino no hospital universitário e suspeitou da baixa produtividade de alguns médicos. O órgão pegou como amostragem os dez casos mais evidentes e aprofundou os levantamentos, em parceria com a PF.
Segundo as apurações, alguns dos médicos indiciados sequer iam ao Hospital de Clínicas. Outros chegavam a comparecer à unidade, mas, segundo a PF, “ficavam poucos minutos e iam embora”.
Posteriormente, esses médicos fraudavam as folhas-ponto – preenchidas manualmente – indicando que cumpriram a carga horária regularmente. O índice médio de comparecimento real dos indiciados, no entanto, era de 7%.
“Isso afetava diretamente o HC, no que diz respeito ao atendimento de saúde. As dificuldades do HC não são estruturais, são decorrentes de crimes de gestão”, avaliou o delegado de combate ao crime organizado, Igor Romário de Paula. Só a fila de espera por uma cirurgia cardíaca no HC, por exemplo, chega 1.354 dias.
Para comprovar as fraudes, a CGU e a PF cruzaram as folhas-ponto dos investigados com o registro das catracas do HC e com informações do sistema de Serviço de Informações Hospitalares (SIH), desde o ano de 2010.
As autoridades também analisaram dados de clínicas e hospitais particulares que pertencem aos médicos. “Eles usavam residentes para ficar em seus lugares no HC, enquanto há indícios de que iam atender em seus hospitais”, disse Todeschini.
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