Brasília O sociólogo Sílvio Pereira, ex-secretário-geral do PT, assinou, em São Paulo, a intimação da Polícia Federal para comparecer à CPI dos Bingos. O requerimento de convocação de Sílvio já tinha sido aprovado pela CPI em outubro. Os parlamentares querem ouvir Silvinho sobre as novas denúncias envolvendo o mensalão. Seu depoimento está marcado para amanhã, às 11 horas.
Em entrevista para o jornal O Globo, Sílvio disse que a intenção do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza e de dirigentes do PT era arrecadar R$ 1 bilhão por meio de negociatas envolvendo bancos em processo de liquidação no Banco Central e que os lucros seriam distribuídos para o próprio partido e para aliados. Ele afirmou ainda que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo no Executivo, ainda mandava no partido, e que o esquema montado por Marcos Valério continuava em funcionamento.
Ontem, o presidente da CPI dos Bingos, senador Efraim Morais (PFL-BA), disse que poderá recorrer à força policial para ouvir Silvinho, que já faltou a dois depoimentos marcados pela CPI.
"Ele virá à CPI de qualquer maneira, nem que seja preso. Se não aparecer, vou usar as prerrogativas da CPI e mandar prendê-lo. O sr. Sílvio Pereira não vai desmoralizar o Congresso Nacional e a CPI", disse Efraim.
O senador afirmou que a CPI dos Bingos "tem tudo a ver" com a investigação do valerioduto. "Se o empresário Marcos Valério dominava as finanças do PT, o Sílvio Pereira era dirigente do partido, e se houve contribuição dos bingos para a campanha do PT em 2002, a CPI tem tudo a ver com isso", argumentou o senador.
Marcos Valério
O empresário Marcos Valério afirmou ontem que não vai comentar a entrevista de Silvinho. Sobre sua possível convocação para um novo depoimento no Congresso, o empresário afirma que já esclareceu suas relações com o PT "em mais de mais de 50 horas de depoimentos às autoridades" e cita suas declarações à Polícia Federal e às CPIs dos Correios e do Mensalão, bem como uma acareação na Procuradoria-Geral da República.
Efraim Morais confirmou que o empresário Marcos Valério vai receber uma convocação para voltar ao Congresso.
Repercussão
Embora a avaliação seja de que a entrevista de Silvinho não foi de todo ruim para o governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo auxiliares próximos a ele, "ficou perplexo" com suas declarações.
A entrevista, dizem assessores, não trouxe denúncias novas em relação ao governo, mas reavivou um assunto que estava perdendo força no Congresso e na imprensa.
Segundo a análise feita no Planalto, a entrevista tem aspectos positivos porque Silvinho afirma que os ministros do PT são duros, que o Banco Central impediu os negócios pretendidos por Marcos Valério de Souza com outros bancos e que ele próprio não conseguiu emplacar muitos indicados dos partidos aliados para cargos públicos.
O governo manteve o discurso de ressaltar o suposto desequilíbrio emocional de Silvinho, lembrando a reação colérica dele no segundo dia de entrevista ao jornal O Globo.
E também que ele é uma pessoa atormentada desde que aceitou o Land Rover, presente da GDK, empresa prestadora de serviços à Petrobrás.
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