Dez pessoas foram presas na manhã de ontem em uma operação simultânea da Polícia Federal no Paraná, São Paulo e Rondônia. Entre os detidos estão três empresários de uma mesma família, de origem uruguaia. Eles seriam acionistas da Brasil & Movimento S.A., fabricante das bicicletas e motos Sundown. Os envolvidos são suspeitos de arquitetar um esquema que funcionava há 10 anos e teria desviado R$ 150 milhões em impostos dos cofres públicos. "Esse é o resultado de uma investigação de três anos que tinha como principal questão a lavagem de dinheiro", explica o delegado da Força-Tarefa CC5 da PF, Wagner Mesquita de Oliveira, responsável pela ação.

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Os dez mandados de prisão temporária e os 25 de busca e apreensão expedidos pela 2.ª Vara Federal Criminal foram cumpridos em Curitiba, São José dos Pinhais e Campina Grande do Sul (PR), São Paulo (SP) e Porto Velho (RO). A ação foi batizada como "Pôr-do-Sol", em alusão à marca de bicicletas – sundown, em inglês. Cem agentes federais contaram com o apoio de 50 fiscais da Receita Federal e do Ministério Público Federal. Todas as prisões foram cumpridas pela manhã. Um empresário foi preso em sua casa, em Porto Velho (RO) e os filhos dele, também empresários, em Curitiba. Os nomes dos envolvidos não foram divulgados pela PF porque o caso corre em segredo de Justiça.

Além dos três empresários, um doleiro foi detido em São Paulo e outras seis pessoas foram presas em Curitiba: um advogado, um contador e um consultor financeiro que prestavam serviços terceirizados ao grupo empresarial, outro doleiro e dois auditores fiscais da Receita Federal. "Eles [os auditores] facilitavam o esquema. Faziam a advocacia administrativa e subfaturavam importações da empresa", relata o superintendente da PF no Paraná, Jaber Saadi. Mais uma pessoa foi detida durante a operação. Ela não teria envolvimento com o esquema e a prisão em flagrante ocorreu por porte ilegal de arma.

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Lavagem

Entre os locais vistoriados pela polícia estão residências dos envolvidos (em bairros nobres de Curitiba), empresas do grupo, escritórios de advocacia, agências de câmbio e escritório de representação de um banco norte-americano que opera no Brasil, já que o consultor financeiro estaria vinculado a ele. Foram retidos computadores, dólares, documentos, dinheiro e obras de arte. "Apreendemos várias obras de grande valor, bens típicos adquiridos em lavagem de dinheiro", conta o delegado Oliveira. O material será encaminhado a especialistas do Museu Oscar Niemeyer para que seja avaliado.

Os documentos serão analisados pelos agentes federais, o que pode resultar em novas prisões e novas ações fiscais e penais contra os envolvidos. "As investigações continuam atrás das movimentações bancárias e remessas de dinheiro para o exterior", afirma Oliveira. Os empresários já respondem a quatro processos na 2.ª Vara Criminal. Um deles é acusado de crimes de ordem financeira e tributária por ações cometidas em meados da década de 1990.

Esquema

Basicamente, o esquema funcionava a partir da lavagem de dinheiro oriundo do subfaturamento de importações de peças utilizadas para montar motos e bicicletas. A polícia não soube precisar em que postos da Receita Federal a fraude acontecia. Além disso, o grupo é acusado de fazer uma "blindagem patrimonial", adquirindo outros negócios, imóveis e iates com dinheiro enviado a empresas uruguaias que remetiam o valor ao Brasil como investimento estrangeiro. O grupo empresarial começou em Curitiba, teria se expandido para São Paulo e Manaus (AM) e estaria em busca de mercado no setor de artigos de viagem e construções.

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Todos os presos foram trazidos para a sede da PF em Curitiba. Entre a lista de crimes dos quais são acusados estão sonegação fiscal e tributária, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, remessas internacionais ilegais, operações bancárias irregulares, cooptação e corrupção passiva e ativa.

O advogado dos empresários, Antônio Acir Breda, não adiantou qualquer procedimento que irá tomar para soltar seus clientes por não ter tido acesso aos autos. "Eu preciso ver os autos para apresentar meu parecer."