A Polícia Federal desmantelou uma quadrilha de extração e comércio ilegal de madeira da Floresta Amazônica envolvendo políticos no Mato Grosso e com ramificações no Paraná, São Paulo, Espírito Santo e Rio Grande do Sul. Até o fechamento dessa edição, a operação, batizada de Jurupari, em referência a uma entidade do folclore indígena que pune a desobediência à lei, já tinha cumprido 72 mandados de prisão preventiva. A polícia ainda procura 19 suspeitos.
Entre os presos estão o ex-secretário de Estado do Meio Ambiente do Mato Grosso Luiz Henrique Daldegan; o ex-secretário adjunto Afrânio Migliari; o chefe de gabinete do governador Silval Barbosa (PMDB), Silvio Corrêa; Janete Riva, esposa do presidente da Assembleia Legislativa do Mato Grosso, José Riva (PP); e Rodrigo Spinelli, filho do ex-conselheiro do Tribunal de Contas do Estado Ubiratan Spinelli, além de madeireiros, proprietários rurais e servidores da Secretaria do Meio Ambiente. As prisões foram decretadas pela 1.ª Vara da Justiça Federal de Mato Grosso.
Um dos procurados pela polícia é o empresário Alcides João Rochembach, dono de uma madeireira em União da Vitória, no Sul do Paraná. O mandado de prisão deveria ser cumprido pela PF do Paraná, mas, segundo o órgão, o empresário viajou em um jato particular para uma propriedade sua no Mato Grosso e, desde então, não foi encontrado. A reportagem tentou contato com os familiares, mas não obteve resposta.
A ação é fruto de dois anos de investigação. Foram constatadas irregularidades praticadas por servidores, engenheiros e proprietários em pelo menos 68 empreendimentos e propriedades rurais. O valor estimado dos danos ambientais chega a R$ 900 milhões. A Justiça também decretou o sequestro dos bens dos envolvidos e o afastamento de todos os servidores indiciados.
De acordo com a PF, o esquema de extração, transporte e comércio ilegal da madeira envolvia a corrupção de servidores da Secretaria do Meio Ambiente para dar aparência de legalidade às práticas. Eles aprovavam licenciamentos ambientais, planos de manejo florestal e autorizações de desmate fraudulentos, inclusive para áreas protegidas, como terras indígenas. Essas licenças permitiam a produção de documentos que "esquentavam" a madeira extraída de terras públicas, terras indígenas, assentamentos da reforma agrária e unidades de conservação.
Os presos responderão por formação de quadrilha; corrupção ativa e passiva; grilagem de terras; falsidade ideológica; inserção de dados falsos em sistema de informática; e os delitos previstos na Lei de Crimes Ambientais, como destruir floresta de preservação permanente e em áreas públicas sem autorização.