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Batismo

PF segue método para criar nome das operações

 | Ilustração: Benett
(Foto: Ilustração: Benett)

"Cavalo de Fogo" e "Pro­­­fessor Pardal" são nomes de personagens de desenhos animados, mas perderam a "exclusividade" por culpa da polícia – mais especificamente, da Polícia Federal (PF). Há 12 anos, a instituição passou a batizar suas ações com nomes incomuns e bem-humorados, como esses, em um trabalho que se tornou também uma verdadeira "operação".

A "Operação Cavalo de Fogo" foi assim batizada porque durante as investigações contra o tráfico de drogas, no Paraná, os policiais encontraram uma carreta abarrotada de armas. Já a "Professor Pardal" teve a alcunha determinada após a descoberta de uma quadrilha que criava sofisticados fundos falsos em carros para enganar a polícia. O mecanismo continha um botão capaz de fazer o fundo falso desaparecer, evitando sua descoberta.

Oficialmente, a PF, via assessoria de imprensa, diz que cada delegado é responsável por dar nomes das operações. Mas um agente da PF que acompanha de perto as investigações – e prefere não se identificar – conta que a prática reflete uma verdadeira metodologia criada na corporação.

O primeiro passo foi transformar ações dispersas, com mandados de prisões ou de busca e apreensão sendo cumpridos de maneira isolada, em grandes operações. Isso evitou que as quadrilhas tivessem tempo para articular estratégias para fugir ou ludibriar os agentes. Também impediu que os suspeitos ensaiassem discursos falsos com vistas a evitar contradições nos depoimentos. Na nova metodologia, portanto, o fator surpresa se tornou um trunfo dos policiais.

Sigilo de investigação

Nesse contexto de mudança, a nomenclatura cifrada e figurativa das operações é importante porque facilita a manutenção, por parte dos agentes envolvidos, do sigilo das investigações em curso, inclusive junto aos colegas de corporação. Isso faz com que dados estratégicos não se espalhem e não corram risco de chegar, ainda que acidentalmente, ao conhecimento dos suspeitos.

A primeira operação nesses moldes foi a "Vassourinha", em setembro de 2002. A ação dos policiais tinha como objetivo "varrer" um grande esquema de corrupção, que tinha também o envolvimento de policiais e funcionários públicos. Logo, o termo usado no batismo do trabalho fazia alusão ao ato de "limpar" a corrupção descoberta pelos agentes.

Desde então, a PF realizou 2.214 operações com essa estrutura e batizadas com nomes diferentes. Entre os mais lembrados, estão a "Satiagraha" (caminho da verdade, em sânscrito) e a "Loki" (deus da mitologia nórdica que simboliza a trapaça).

Gaeco denomina as ações há 20 anos

Nomear as operações é uma marca da Polícia Federal, mas não se trata de um comportamento exclusivo. O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Paraná (MP-PR), por exemplo, usa do mesmo artifício. Recentemente, a "Operação Sucupira", desvendou um suposto esquema de corrupção em uma pequena cidade do interior (Sucupira é o nome da cidadezinha fictícia em que se passa a história de "O Bem Amado", escrita por Dias Gomes).

Em outro caso, a "Ope­­ração Tarrafa" teve a alcunha determinada porque envolvia a prisão de pessoas que participariam de um suposto esquema no Litoral do Paraná visando lesar pescadores.

O Coordenador do Gaeco, Leonir Batisti, enfatiza que o comportamento de nomear operações existe desde a criação do Gaeco, em 1994. Segundo ele, a nomeação é uma coisa independente e não foi inspirada na tradição da PF.

"Fazemos isso desde que o Gaeco existe. É a praticidade, precisamos de nomes para não haver problemas. É um rótulo para estabelecer o nexo presente naquele conjunto de investigações. Quando precisou de um pedido de informação sobre a operação, usa-se o nome artificial, é uma necessidade."

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