| Foto: Ilustração: Benett

Visibilidade

Publicitários elogiam a estratégia de ‘marketing’

Professores e profissionais do mercado publicitário consideram bem-sucedida a nomenclatura incomum usada pela Polícia Federal para batizar as investigações. Titular do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o doutor Itanel Quadros destaca a capacidade que os nomes criativos têm de chamar a atenção para temas muitas vezes complexos.

"Os nomes ajudam a imprensa a fazer as chamadas das matérias. Do ponto de vista da polícia, é uma forma de exposição, uma forma de eles mostrarem ao público que estão trabalhando. É um artifício com poder de atração". Quadros diz também que os termos bem-humorados ajudam na transmissão de informações sobre o trabalho dos policiais, pois são mais fáceis de serem compreendidos. "Hoje, ninguém mais espera uma operação da Polícia Federal que não tenha um nome."

Já o publicitário Diego Zerwes explica que, embora não busque comercializar um produto, a PF executa ações publicitárias ao usar essa estratégia. "Eles não querem vender alguma coisa; querem que a ação seja lembrada. Se a publicidade tem como objetivo chamar atenção para determinada coisa, para marcar determinado tipo de comportamento, no fundo, os nomes das operações buscam exatamente isso."

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Inventividade

Confira alguns nomes incomuns dados pela PF no Paraná às suas operações:

Operação Cavalo de Fogo

Feita para desarticular uma quadrilha dedicada ao tráfico internacional de drogas, prendeu 156 pessoas. O nome foi escolhido porque, ao longo das investigações, um caminhão carregado com armas de fogo foi apreendido.

Operação Lava Jato

Investigações descobriram um esquema criminoso suspeito de movimentar pelo menos R$ 10 bilhões, envolvendo pessoas conhecidas e influentes, como o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef. Trinta pessoas foram presas e devem responder por diversos crimes. Entre os comércios usados para lavar dinheiro estariam lavanderias, o que motivou a escolha do nome.

Operação Mirante da Campina

A ação da PF descobriu uma quadrilha especializada no roubo de cargas e veículos na rodovia BR-116, principal ligação rodoviária entre o Paraná e São Paulo. Vinte pessoas foram presas. Os criminosos utilizavam um pinheiro no alto de um morro para monitorar o trabalho policial, fazendo da planta uma espécie de mirante, elemento escolhido para nomear a operação.

Operação Professor Pardal

O personagem de desenho animado, famoso por suas engenhocas, foi o mote dessa operação da PF. No total, 16 pessoas acusadas de traficar drogas foram presas. O grupo criminoso criava fundos falsos nos veículos utilizados para o transporte de drogas. Em alguns casos, a quadrilha elaborava sistemas eletromecânicos de liberação de painéis acionados por botões pressionados simultaneamente, o que gerou a alusão ao personagem dos desenhos.

Operação Tacape

A operação cumpriu quatro mandados de busca e apreensão e dois mandados de prisão preventiva em Pato Branco, no Sudoeste do Paraná, para desarmar uma liderança indígena da região. Tacape é uma palavra indígena que significa arma valente na guerra. A ferramenta é uma espécie de porrete utilizado para fins de guerra e de caça pelos índios antigos.

Operação Agro-Fantasma

Um esquema de desvio de recursos público do programa de assistência social Fome Zero, por cooperativas, foi o alvo da ação. Catorze pessoas foram presas sob acusação de inventar produtos, a partir de estoques inexistentes, que recebiam o dinheiro do programa.

Operação Roleta-Russa

Como o nome já diz, a operação foi feita para combater um esquema que explorava jogos ilegais, como bingos e máquinas caça-níqueis.

"Cavalo de Fogo" e "Pro­­­fessor Pardal" são nomes de personagens de desenhos animados, mas perderam a "exclusividade" por culpa da polícia – mais especificamente, da Polícia Federal (PF). Há 12 anos, a instituição passou a batizar suas ações com nomes incomuns e bem-humorados, como esses, em um trabalho que se tornou também uma verdadeira "operação".

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A "Operação Cavalo de Fogo" foi assim batizada porque durante as investigações contra o tráfico de drogas, no Paraná, os policiais encontraram uma carreta abarrotada de armas. Já a "Professor Pardal" teve a alcunha determinada após a descoberta de uma quadrilha que criava sofisticados fundos falsos em carros para enganar a polícia. O mecanismo continha um botão capaz de fazer o fundo falso desaparecer, evitando sua descoberta.

Oficialmente, a PF, via assessoria de imprensa, diz que cada delegado é responsável por dar nomes das operações. Mas um agente da PF que acompanha de perto as investigações – e prefere não se identificar – conta que a prática reflete uma verdadeira metodologia criada na corporação.

O primeiro passo foi transformar ações dispersas, com mandados de prisões ou de busca e apreensão sendo cumpridos de maneira isolada, em grandes operações. Isso evitou que as quadrilhas tivessem tempo para articular estratégias para fugir ou ludibriar os agentes. Também impediu que os suspeitos ensaiassem discursos falsos com vistas a evitar contradições nos depoimentos. Na nova metodologia, portanto, o fator surpresa se tornou um trunfo dos policiais.

Sigilo de investigação

Nesse contexto de mudança, a nomenclatura cifrada e figurativa das operações é importante porque facilita a manutenção, por parte dos agentes envolvidos, do sigilo das investigações em curso, inclusive junto aos colegas de corporação. Isso faz com que dados estratégicos não se espalhem e não corram risco de chegar, ainda que acidentalmente, ao conhecimento dos suspeitos.

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A primeira operação nesses moldes foi a "Vassourinha", em setembro de 2002. A ação dos policiais tinha como objetivo "varrer" um grande esquema de corrupção, que tinha também o envolvimento de policiais e funcionários públicos. Logo, o termo usado no batismo do trabalho fazia alusão ao ato de "limpar" a corrupção descoberta pelos agentes.

Desde então, a PF realizou 2.214 operações com essa estrutura e batizadas com nomes diferentes. Entre os mais lembrados, estão a "Satiagraha" (caminho da verdade, em sânscrito) e a "Loki" (deus da mitologia nórdica que simboliza a trapaça).

Gaeco denomina as ações há 20 anos

Nomear as operações é uma marca da Polícia Federal, mas não se trata de um comportamento exclusivo. O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Paraná (MP-PR), por exemplo, usa do mesmo artifício. Recentemente, a "Operação Sucupira", desvendou um suposto esquema de corrupção em uma pequena cidade do interior (Sucupira é o nome da cidadezinha fictícia em que se passa a história de "O Bem Amado", escrita por Dias Gomes).

Em outro caso, a "Ope­­ração Tarrafa" teve a alcunha determinada porque envolvia a prisão de pessoas que participariam de um suposto esquema no Litoral do Paraná visando lesar pescadores.

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O Coordenador do Gaeco, Leonir Batisti, enfatiza que o comportamento de nomear operações existe desde a criação do Gaeco, em 1994. Segundo ele, a nomeação é uma coisa independente e não foi inspirada na tradição da PF.

"Fazemos isso desde que o Gaeco existe. É a praticidade, precisamos de nomes para não haver problemas. É um rótulo para estabelecer o nexo presente naquele conjunto de investigações. Quando precisou de um pedido de informação sobre a operação, usa-se o nome artificial, é uma necessidade."