Quem passa pela Rua Jaime Reis percebe as paredes da casa da família Kirchgässner, o primeiro exemplar modernista de Curitiba, completamente pichadas. No Alto São Francisco, o Belvedere primor da Belle Époque na capital encontra-se na mesma situação. Sejam públicos ou privados, os prédios rabiscados resultam em alto ônus de manutenção e muitas vezes, quando não há condições de restauro, identidades culturais do município acabam sendo perdidas. Para os especialistas, o caminho está na reeducação dos jovens envolvidos.
Wesley Calaça da Silva, 21 anos, hoje é professor de grafite no Projeto Vida, na Vila Barigui, no bairro Cidade Industrial de Curitiba, e percebe que as mudanças surgem da oportunidade. "Dentro de um pichador existe um grande artista", lembra. O caminho para essa conscientização vem por meio do incentivo a projetos sociais e espaços para a grafitagem, afirma ele, que já foi responsável por grafismos em muros e prédios da cidade, inclusive em locais históricos. O relato de Silva é muito similar ao das 60 crianças e adolescentes atendidos pelo projeto. Atualmente, eles são mais conscientes dos limites e foram reconhecidos pela sua arte.
O professor conta que começou a desenhar aos 13 anos, usando o papel; aos 17, viu-se apreendido em uma delegacia. "Olhava e achava bonito o prédio histórico, mas queria deixar minha marca", diz. Ele afirma que o desafio dos grupos formados por adolescentes, na grande maioria das vezes, é atingir os locais mais altos e mais difíceis, para aumentar a adrenalina.
A presidente da Associação Comercial de Santa Felicidade, Ana Lúcia Leite Moro, sabe bem disso. O portal da entrada do bairro, considerado um cartão-postal da cidade, não tem tido a sorte de se manter intacto, mesmo com parcerias com o poder público e uma empresa de tintas. O monumento é repintado todos os meses. Uma semana depois, porém, já se encontra cheio de riscos. Além da depreciação do patrimônio cultural, as despesas são altas. A estimativa é de que sejam gastos cerca de R$ 11 mil por ano pela empresa de tintas que cede o material. "Já cogitamos até a colocação de câmeras de segurança para coibir o vandalismo", afirma Ana Lúcia. Atualmente, o monumento encontra-se pichado.
A restauradora e pesquisadora Alice Prati, do Rio Grande do Sul, autora do livro SOS Monumento: causas e soluções, considera que a única forma de coibir a pichação é pela conscientização do jovem. "Se não há educação em casa, a gestão pública deve melhorar o sistema educacional e criar campanhas de esclarecimento", defende. Alice lembra que o ato pode levar à realização de outros crimes, como pequenos furtos e tráfico. "O spray é caro e na pichação são realizadas apostas que valem prêmios em dinheiro", diz.
Solução
Qual é a saída para coibir as pichações?
Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br
As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.