Residência da família Kirchgässner, em Curitiba: fachada está coberta de rabiscos| Foto: Jonathan Campos/ Gazeta do Povo

Receita

Câmeras e participação da comunidade ajudam na preservação

O Paço da Liberdade, na Praça Generoso Marques, no Centro da capital paranaense, é um exemplo de preservação que deu certo. O local é sede do Serviço Social do Comércio do Paraná (Sesc-PR) e mantém espaços culturais e cursos. O prédio foi revitalizado em 2009 e desde então registrou apenas uma tentativa de pichação. A gerente executiva do Sesc Paço da Liberdade, Celise Helena Niero, acredita que, além do monitoramento por câmeras e da presença de vigilantes particulares, a preservação do prédio histórico é resultado do projeto Educação Patrimonial, premiado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no ano passado.

O programa prioriza o envolvimento de crianças, adolescentes e da população do entorno com visitas monitoradas. O objetivo é fazer com que o público conheça o espaço por seus aspectos sociais, históricos e fotográficos. Ao final das atividades, há uma exposição dentro da comunidade. "Esse movimento certamente inibe o processo de pichação", diz Celise.

Outro espaço histórico que pode virar alvo de vandalismo, e por isso tem sido objeto de reflexão para os profissionais que atuam no seu restauro, é a Catedral Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, em Curitiba. Considerada uma Unidade de Interesse Especial de Preservação (UIEP), ela está em obras de revitalização e recuperação desde 2011. Para a arquiteta responsável pelo restauro, Giceli Portela, a importância do prédio para a cidade vai garantir a segurança física do imóvel. Giceli espera que o local seja preservado a partir da ação de guardas municipais ou de câmeras de segurança. "A depreciação do patrimônio histórico é um descaso com o dinheiro público e com a sociedade", diz. (AP)

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Consciência

Na cabeça dos pichadores, os prédios históricos servem como um "belo pano de fundo", afirma a coordenadora de Patrimônio Cultural da Secretaria Estadual de Cultura, Rosina Parchen. "Só por meio da educação é possível levar essa demonstração de arte para o lado bom", avalia.

Quem passa pela Rua Jaime Reis percebe as paredes da casa da família Kirchgässner, o primeiro exemplar modernista de Curitiba, completamente pichadas. No Alto São Francisco, o Belvedere – primor da Belle Époque na capital – encontra-se na mesma situação. Sejam públicos ou privados, os prédios rabiscados resultam em alto ônus de manutenção e muitas vezes, quando não há condições de restauro, identidades culturais do município acabam sendo perdidas. Para os especialistas, o caminho está na reeducação dos jovens envolvidos.

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Wesley Calaça da Silva, 21 anos, hoje é professor de grafite no Projeto Vida, na Vila Barigui, no bairro Cidade Industrial de Curitiba, e percebe que as mudanças surgem da oportunidade. "Dentro de um pichador existe um grande artista", lembra. O caminho para essa conscientização vem por meio do incentivo a projetos sociais e espaços para a grafitagem, afirma ele, que já foi responsável por grafismos em muros e prédios da cidade, inclusive em locais históricos. O relato de Silva é muito similar ao das 60 crianças e adolescentes atendidos pelo projeto. Atualmente, eles são mais conscientes dos limites e foram reconhecidos pela sua arte.

O professor conta que começou a desenhar aos 13 anos, usando o papel; aos 17, viu-se apreendido em uma delegacia. "Olhava e achava bonito o prédio histórico, mas queria deixar minha marca", diz. Ele afirma que o desafio dos grupos formados por adolescentes, na grande maioria das vezes, é atingir os locais mais altos e mais difíceis, para aumentar a adrenalina.

A presidente da Associação Comercial de Santa Felicidade, Ana Lúcia Leite Moro, sabe bem disso. O portal da entrada do bairro, considerado um cartão-postal da cidade, não tem tido a sorte de se manter intacto, mesmo com parcerias com o poder público e uma empresa de tintas. O monumento é repintado todos os meses. Uma semana depois, porém, já se encontra cheio de riscos. Além da depreciação do patrimônio cultural, as despesas são altas. A estimativa é de que sejam gastos cerca de R$ 11 mil por ano pela empresa de tintas que cede o material. "Já cogitamos até a colocação de câmeras de segurança para coibir o vandalismo", afirma Ana Lúcia. Atualmente, o monumento encontra-se pichado.

A restauradora e pesquisadora Alice Prati, do Rio Grande do Sul, autora do livro SOS Monumento: causas e soluções, considera que a única forma de coibir a pichação é pela conscientização do jovem. "Se não há educação em casa, a gestão pública deve melhorar o sistema educacional e criar campanhas de esclarecimento", defende. Alice lembra que o ato pode levar à realização de outros crimes, como pequenos furtos e tráfico. "O spray é caro e na pichação são realizadas apostas que valem prêmios em dinheiro", diz.

Solução

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