O Lysímaco Ferreira da Costa, no Água Verde, é um exemplo dos colégios tradicionais que acompanharam o desenvolvimento da cidade| Foto: Brunno Covello / Gazeta do Povo

Projeto de restauro deve sair do papel

Anunciado em 2012 pelo governo estadual, um ambicioso projeto de restauro, conservação e memória das escolas públicas históricas do Paraná deve começar a sair do papel neste ano. A expectativa é de que seja viável a contratação dos projetos de reformas até dezembro, para que em 2016 as obras de fato comecem.

Um longo percurso vai abranger 13 colégios em todo o estado – sete em Curitiba. Se tudo der certo, um Museu da Escola Paranaense será elaborado. Com sorte, antigos mapas e globos, palmatórias e laboratórios de química de décadas atrás sairão dos armários onde estão. Segundo a coordenadora do Patrimônio Cultural da Secretaria de Estado da Cultura, Rosina Parchen, esses espaços necessitam de reparos estruturais e de melhor conservação. "Pensamos dentro das necessidades dos diretores para que fossem realizadas obras de conservação, mantendo as características originais, mas também construídos espaços novos onde há terreno para isso", conta.

A Escola Estadual Dom Pedro II, na capital, será uma das instituições que terá um novo espaço para servir de auditório, sede de laboratórios e também refeitórios. "É difícil ter uma manutenção dessas escolas porque elas estão sendo usadas. Temos que, paralelamente, trabalhar com a conscientização dos alunos para não depredar, pichar ou riscar esses espaços históricos", diz Rosina.

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Memória

Imponência arquitetônica não passa despercebida

Para o historiador da Universidade Federal do Paraná, Marcus Levy Bencostta, tanto o tombamento dos colégios quanto a preocupação em manter as características originais significam uma luta pela manutenção da memória do passado.

"Ao tratar do restauro, não deixa de ser uma vontade de enaltecer a memória com uma certa nostalgia da escola pública do passado, que seria melhor do que a que temos hoje", afirma Bencostta. Para ele, os prédios escolares tombados mantêm até hoje uma imponência arquitetônica que dificilmente passa despercebida.

"A presença física deles é muito forte até hoje. Além disso, são lugares de uma memória que enaltece o passado, mas que nos fazem esquecer as precariedades do ensino no presente. Com os projetos de restauro, o estado tenta resgatar, de alguma forma, o passado", ressalta o pesquisador.

O Xavier da Silva teve importante papel no desenvolvimento e na urbanização de Curitiba
O Instituto de Educação foi entregue pelo governador Caetano Munhoz da Rocha em 1922

Ao projetar em meados de 1902 a obra do Colégio Xavier da Silva, em Curitiba, o engenheiro Cândido de Abreu tornou-se um dos responsáveis pela idealização da construção do primeiro grupo escolar do estado. A instituição inaugurou o sistema de ensino seriado como conhecemos hoje – já que antes as turmas não eram divididas por séries. O Xavier é um dos principais exemplos que, somados a outros seis estabelecimentos de ensino – todos tombados pelo Patrimônio Estadual –, teve importante papel no desenvolvimento e na urbanização da cidade.

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Rebouças

O colégio, que teve as obras iniciadas em 1903 e abriu as portas em 1904, tornou-se um dos principais elementos para que a região do bairro Rebouças, principalmente nas proximidades das avenidas Silva Jardim e Marechal Floriano Peixoto, tivesse o pontapé inicial para se desenvolver. Claro que outros elementos contribuíram para esse fenômeno, como a linha de bonde que passava na Marechal e a inauguração no mesmo período do Tribunal do Júri e da sede das secretarias do Estado na região (onde hoje funciona uma estrutura do Ministério Público).

A arquiteta e historiadora Elizabeth Amorim de Castro relata que esses elementos indicam que já havia a intenção de ocupar a região, que na época era afastada do Centro de Curitiba. "A construção da escola contribuiu para a ocupação da região, naquele momento afastada do Centro da cidade", relata.

Para a coordenadora do Patrimônio Cultural da Secretaria de Estado da Cultura, Rosina Parchen, as escolas, especialmente na primeira metade do século 20, ajudavam na construção de comunidades. "Esses colégios funcionavam como núcleos de concentração que contribuíram para o ordenamento da cidade, para o agrupamento de pessoas e para o desenvolvimento de determinadas regiões", ressalta.

Fenômeno parecido ocorreu com o Colégio Dom Pedro II, inaugurado em 1928 no bairro Seminário. Além da instituição fomentar o crescimento na região, que já possuía bonde e diversas fábricas, consolidou o sistema seriado de ensino como padrão em todo o estado. "O Dom Pedro II foi a primeira escola a apresentar o programa arquitetônico completo de um grupo escolar. Dividida em duas alas, para meninos e meninas, possuía uma sala de aula para cada uma das quatro séries do ensino primário. O Xavier da Silva, não. As duas últimas séries compartilhavam a mesma sala de aula", conta Elizabeth.

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Acervo raro

Além disso, os colégios antigos guardam um acervo histórico raro e fazem parte do passado de milhares de pessoas. Só por isso já são prédios que carecem de cuidado especial. Não fossem professores, zeladoras e até pais de aluno, alguns documentos escolares estariam na lata do lixo. Sem cuidado, alguns papeis com décadas inteiras de informação educacional desapareceram.

Garantir um mínimo de segurança aos espaços físicos e aos acervos é uma reivindicação antiga dos educadores e historiadores. "Hoje, as escolas não recebem a manutenção e o cuidado que deveriam receber. São patrimônios que acabam sendo deixados de lado", lamenta a arquiteta e historiadora.

Mais antigo

O Instituto de Educação do Paraná, em Curitiba, foi criado em 12 de abril de 1876 com o nome de Escola Normal. O edifício foi entregue à comunidade pelo governador Caetano Munhoz da Rocha, em 1922. O imóvel passou por algumas ampliações, contando atualmente com 5,5 mil metros quadrados de área construída.

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Consequência

O historiador da Universidade Federal do Paraná, Marcus Levy Bencostta, acredita que a construção desses colégios contribuiu para a formação de Curitiba como se conhece hoje. Mas ele defende a tese de que a instalação dessas instituições era mais consequência do que pré-requisito para o desenvolvimento das localidades. Isso porque ele relata que as instituições de ensino surgiam para suprir uma demanda que já aparentava existir. "Na região do próprio Colégio Xavier, por exemplo, já tinham algumas fábricas", diz.