O que vive na cabeça da molecada, mas não é brincadeira? Piolho! E ele não escolhe idade, classe social ou cor de pele para atacar. Simplesmente aparece de um dia para o outro entre as madeixas infantis e causa o maior transtorno e preconceito. Muitos acreditam que a falta de higiene é o que atrai o parasita, mas a dermatologista do Hospital de Clínicas Kerstin Taniguchi Abagge explica que o inseto aparece pelo contato humano e pelo uso de objetos contaminados. Dos 400 atendimentos mensais no setor de dermatologia do hospital, 50 são de crianças com pediculose. Segundo dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), até julho deste ano foram vendidos cerca de 2 milhões de frascos de medicamentos usados para o combate ao piolho. No ano passado, foram mais de 5 milhões.
A infestação cutânea pelo "pediculs capitis" nome científico do piolho se dá de maneira massiva e permanente. Não escolhe época do ano, mas tem preferência pelos dias mais quentes. Afeta principalmente crianças com idade de 4 e 12 anos, porém os adultos não estão livres dele (veja quadro).
A professora de educação infantil Vanessa Machado, 30 anos, sentiu o problema no próprio couro cabeludo, no final ano passado. Ela conta que o efeito é contagiante. A coceira na cabeça começou em uma aluna do maternal e logo a contaminou. A princípio, a professora achou que fosse calor. Depois soube que a menina, de 2 anos, estava com piolho e a mãe já havia iniciado o tratamento. "Fiquei tranqüila, porque dizem que quem pinta cabelo não pega piolho", conta. Mas acabou descobrindo lêndeas no cabelo comprido e contra-atacou. "Coloquei veneno na cabeça e uma touca de nylon para dormir." E intensificou os cuidados com a criança. Todos os dias, no final das aulas, Vanessa passava o pente fino e usava xampu para lavar a cabeça da menina.
Em locais de concentração de crianças, o monitoramento precisa ser contínuo. No Instituto Ama, dos 40 pacientes pediátricos atendidos diariamente, seis fazem tratamento contra piolhos, com pente fino e xampu. "O contato propicia a proliferação. Por mais higienização que se faça, o foco não termina", conta a coordenadora Nancy Poss Siqueira. Os cuidados com as crianças consomem oito frascos de remédio por mês. O produto já foi solicitado no posto de saúde, mas enquanto não tem resposta, Nancy paga R$ 18 cada um na farmácia. Além disso, todos os meses os pais assistem a palestras de orientação sobre prevenção e cuidados que se deve ter após o contágio.
O tratamento precisa ser familiar. Médicos orientam que a checagem deve ser feita na cabeça de todos da casa. Só a remoção da lêndea, o ovo do piolho, é que permite acabar com o ciclo de contaminação. A dermatologista Kerstin Taniguchi Abagge observa que os pais não têm muita paciência. Há crianças mais suscetíveis, que se contaminam com mais facilidade. "Infelizmente, o piolho ainda é uma das grandes mazelas da população."
Campanha
A Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba (SMS) não promove campanhas de prevenção nas escolas municipais. Mas, quando há a identificação de foco, os alunos são encaminhados aos pediatras das unidades municipais de saúde. Lá, recebem medicação e as mães são orientadas sobre as técnicas de tratamento, com o uso de produtos e a remoção manual das lêndeas. Atualmente, de acordo com a SMS, os 133 postos de atendimento da cidade têm 2,5 mil frascos de medicamentos de combate a pediculose.
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Colaborou Sandoval Matheus