Após se formar pela Escola de Aviação da Força Pública de São Paulo, em 1920, o capitão João Busse conseguiu a façanha de ser o primeiro piloto paranaense. No ano seguinte, ele se preparou para marcar definitivamente seu nome na aviação do estado. Natural de Votuverava (atual Rio Branco do Sul), Busse planejou sair de Campinas e chegar até Curitiba. A ideia era realizar paradas, passando por Castro e Ponta Grossa.
Mas a precariedade do avião mudou o rumo da história. A aeronave não apresentava freios e nem marcha lenta, o que tornava as manobras no solo extremamente difíceis. O trem de pouso era composto por quatro rodas de bicicleta. O motor do avião biplano de fabricação francesa apresentou problemas no ar entre Campinas e Itapetininga.
Foram quase sete dias para buscar sanar as falhas. No dia 30 de maio de 1921, Busse conseguiu partir. Mas a certa altura o motor perdeu potência e durante o pouso de emergência o avião capotou. Os ferimentos foram gravíssimos e Busse morreu no dia seguinte em Itapetininga.
Esse poderia ser um fim trágico para a história iniciada sete anos antes. Em 1914, o céu curitibano foi palco do primeiro voo realizado no estado. Adeptos da aviação acompanharam atentos cada movimento do paulista Cícero Arsênio Marques. O aeroplano "Bahiano" subiu 320 metros, contornou as torres da Catedral, fez algumas acrobacias no ar e pousou no hipódromo do Prado Velho.
Visita ilustre
A motivação aumentou dois anos depois quando um dos pais da aviação, Alberto Santos Dumont, visitou o Paraná. Ele passou por Foz do Iguaçu e Curitiba. Foi lançada uma campanha para a doação de um avião para o Paraná e, somente em 1918, com 18 contos de réis, o primeiro aeroplano foi obtido pelo estado.
"A compra do avião serviu de inspiração para criar a Escola Paranaense de Aviação em 1918", conta o pesquisador Adil Calomeno. A escola, composta por civis e militares, foi tomada por um incêndio em 1927. Nesse ano, já eram dois aviões e ambos foram danificados pelo fogo.
Os adeptos da aviação não se intimidaram e continuaram se reunindo na capital do estado. O clima tenso na política, com a subida ao poder de Getúlio Vargas em 1930 contribuiu para o cenário. Foi criado um serviço de aviação militar no estado, para dar apoio a Vargas. Os dois aviões nunca chegaram a ser usados em ações militares e acabaram virando atração em voos de demonstração.
A reunião entre pilotos e adeptos da aviação se intensificou. "Foi o momento em que a ideia de formar um aeroclube amadureceu. Assim, a história da aviação no estado se consolidou", conta Calomeno. O aeroclube do Paraná, criado em 1932, em Curitiba, foi o 3.º do mundo, atrás do de Paris e do Rio de Janeiro. No primeiro ano de existência eram 104 associados e apenas um avião.
Acervo reconta história da aviação
A sede do aeroclube do Paraná, no aeroporto do Bacacheri de Curitiba, guarda memórias do passado. Em um saguão existem dezenas de imagens que marcaram a trajetória da entidade, que se confunde com o desenvolvimento da aviação no estado.
Fundado em 1932, a história do aeroclube está ligada à organização da aviação militar. Em 1937, foi criado no mesmo espaço o 5º Regimento de Aviação. Em 1941, o regimento foi incorporado à recém-criada Força Aérea Brasileira (FAB). "Isso fortaleceu a aviação no estado e o próprio aeroclube", conta o diretor da entidade Luiz Carlos Fernandes de Souza Filho.
Se o começo contou com apenas um avião, hoje são 22 aeronaves. Dentre delas, existem duas da década de 30. A mais antiga, de 1935, não possui proteção superior na cabine e a partida é dada na base da manivela. "O piloto tem que girar a manivela para fazer o motor funcionar", explica Luiz Carlos. Segundo ele, esse avião foi usado por militares para treinamento para a Segunda Guerra Mundial.