“A operação foi um sucesso, principalmente porque chegamos até os receptadores.” Maurício Valeixo, superintendente da PF no Paraná. Na foto, ele demonstra como pedras de fertilizante eram substituídas por pedras adulteradas| Foto: Albari Rosa / Gazeta do Povo
Os criminosos usavam basicamente três golpes diferentes para cometer as fraudes

A Operação Colônia, da Polícia Federal (PF), desarticulou ontem um esquema de desvio de cargas que teria causado um prejuízo incalculável a sete empresas privadas que operam no Porto de Paranaguá. Segundo as investigações, os golpes eram aplicados por seis quadrilhas diferentes. Cerca de 2 mil toneladas de grãos, óleo de soja e fertilizantes teriam sido desviadas desde dezembro do ano passado. A PF não soube precisar há quanto tempo os criminosos agiam.

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Ao todo, a Justiça emitiu 121 ordens de prisão – algumas em duplicidade – para 99 acusados de pertencerem às quadrilhas. Destes, 63 foram detidos em Paranaguá, Curitiba, Marialva, Mandaguari, Maringá, Itajaí (SC) e Santos (SP). Entre eles estão caminhoneiros, donos de empresas de fachada, receptadores, um servidor da Receita Estadual, um advogado e três policiais civis. Os nomes dos envolvidos não foram divulgados. Outros 98 mandados de busca e apreensão foram cumpridos no Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul. "A operação foi um sucesso, principalmente porque chegamos até os receptadores", disse o superintendente da PF no Paraná, o delegado Maurício Valeixo.

A investigação durou quase 11 meses. A primeira denúncia sobre a atuação das quadrilhas chegou à PF em dezembro de 2009. Uma das empresas desconfiou de que estava sendo lesada. Segundo a PF, as quadrilhas atuavam de três formas diferentes. A mais comum era o lançamento fictício de entrada de produtos. Para isso contavam com a ajuda de balanceiros, responsáveis pela pesagem das cargas.

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O delegado federal de Para­naguá, responsável por toda a investigação, Jorge Luís Fayad Nazário, conta que os balanceiros contabilizavam as notas como se a pesagem e o descarregamento dos produtos tivessem ocorrido. A chegada do produto era confirmada, mas a carga era desviada.

Outro golpe era mais ousado. Com documentos falsos, motoristas de caminhão chegavam nos armazéns onde estavam os produtos e se apresentavam como responsáveis pelo transporte. Autorizados a carregar o caminhão, eles levavam os produtos direto para receptadores. Segundo Fayad, uma das empresas que foi vítima do golpe sofreu dez desvios de óleo de soja durante a investigação. Todo o esquema era acobertado pelos policiais civis e pelo servidor da Receita. Eles são acusados de receber dinheiro para não investigar e fiscalizar os crimes.

Armazenagem

O corredor de exportação do Porto de Paranaguá tem oito empresas que operam com grãos. São elas: AGTL, Cargill, CBL, Centro Sul, Coamo, Cotriguacu, Dreyfus, Bunge e mais a Pasa, que exporta açúcar. Estas empresas, somando o silo público, têm capacidade para armazenar cerca de 1,1 milhão de toneladas de milho e soja. Tanto o terminal líquido quanto o terminal de granéis sólidos foram alvo das quadrilhas. A empresa Catallini é a maior operadora de óleo de soja. Já os armazéns de fertilizantes ficam fora do porto.

O delegado Fayad disse que o sistema de armazenagem de produtos no porto dá brechas para as quadrilhas. Segundo ele, a quantidade de carga e descarga nos armazéns é pouco vigiada. A falta de monitoramento era tanta que apenas uma empresa desconfiou. As outras foram avisadas pela polícia. Fayad afirma que podem haver outros grupos criminosos atuando. Segundo ele, as investigações continuam.

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Os policiais civis detidos estão presos na superintendência da PF. Os outros detidos foram encaminhados ao Centro de Triagem 2, em Piraquara, na região metropolitana de Curitiba. Os acusados devem responder por estelionato, formação de quadrilha e falsidade ideológica. Outros crimes podem ser descobertos durante a continuação das investigações e os suspeitos podem ainda ser responsabilizados por novos delitos.

O ex-superintendente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), Daniel Lúcio Oliveira de Souza, e o atual gestor, Mário Lobo Filho, foram procurados para comentar o caso. Souza informou que em sua gestão nunca houve notícia de irregularidades. Já Lobo não foi encontrado pela reportagem. A assessoria da Appa informou que os crimes ocorreram em terminais privados e, portanto, não tem qualquer responsabilidade por parte da administração do porto.

O presidente do Conselho de Autoridade Portuária do Porto de Paranaguá, Antônio Alfredo Matthiesen, declarou que o caso será debatido na próxima reunião da entidade, que deve fazer algumas recomendações aos operadores.