R$ 1 bilhão para segurança de mercadorias
Cerca de R$ 1 bilhão são investidos anualmente na segurança do transporte rodoviário brasileiro. De acordo com Fernando Klein Nunes, presidente do Setcepar, entre 2% e 2,5% do faturamento de um veículo se destina à prevenção de roubos e furtos.
Régis é uma das mais perigosas do Brasil
Basta a simples referência à rodovia Régis Bittencourt para caminhoneiros e donos de transportadoras franzirem a testa. É impossível afirmar que a estrada é a mais perigosa do Brasil, mas é considerada pelos profissionais como uma das mais arriscadas para se trafegar.
Caminhão tombado, carga roubada
Todo caminhoneiro dirige com uma convicção: se seu veículo tombar, sua carga será roubada antes de ele ser atendido. A situação não é exceção e se repete do Rio Grande do Sul ao Acre.
Verdadeiros "piratas do asfalto" estão agindo livremente na divisa dos estados de São Paulo e Paraná. Assim como seus notórios colegas do oceano, que cruzavam os mares com a intenção de promover saques a navios e cidades, eles promovem arrastões nas rodovias. O alvo principal são os caminhões, cujo transporte de carga movimenta R$ 40 bilhões por ano. Basta um congestionamento ou um acidente para surgirem como fantasmas das margens das estradas. Munidos de pedaços de pau, barras de ferro, pedras, armas brancas e armas de fogo, rasgam as lonas dos caminhões, quebram cadeados das carrocerias e, não raro, ameaçam os motoristas.
Há pelo menos uma década eles agem na rodovia Régis Bittencourt (BR-116), principal ligação entre os estados. A Polícia Rodoviária Federal e as concessionárias responsáveis pela estrada entre Curitiba e São Paulo, existem seis praças de pedágio não conseguem coibir a prática. Conforme depoimentos de caminhoneiros, em geral, o crime acontece em São Paulo, especialmente na Barra do Turvo e na Serra do Azeite.
Não existem estatísticas oficiais sobre os arrastões nas estradas. Sabe-se que, em 2009, ocorreram 13,5 mil casos de roubos de cargas no país. O índice é o maior desde 2004 e 8,15% superior ao registrado em 2008. Os transportadores indicam que 96% dos roubos acontecem à mão armada e apenas 4% são, na realidade, furtos simples. Sete em cada dez acontecem em áreas urbanas, e o restante é registrado nas estradas. Esses números, fornecidos pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT), mascaram a realidade brasileira, pois boa parte dos caminhoneiros não faz boletim de ocorrência de assaltos ou de tentativas de roubos, como nesses arrastões.
Testemunha
A gerente de banco Maria Cristina Ribeiro da Silva, 52 anos, presenciou a ação dos piratas no último dia 3. Acompanhada do marido e da filha de 19 anos, Maria parou atrás de um caminhão em um congestionamento causado por um acidente no quilômetro 506 da Régis Bittencourt, próximo a Jacupiranga (SP). "Apareceram pelo menos dez pessoas armadas, que saíram do mato e foram arrombar a carroceria do caminhão", conta. Em um ato impensado, ela buzinou para alertar o caminhoneiro. Após ser ameaçada, Maria fugiu pelo acostamento. Em seguida, o trânsito fluiu, e o caminhoneiro não teve a carga roubada. A Polícia Rodoviária Federal de São Paulo diz que esses episódios são "ocasionais".
Dono de transportadora e ex-caminhoneiro, Dijair Botaro afirma que um motorista de sua empresa foi assaltado exatamente da mesma maneira nessa semana. "Eles tentaram roubar a carga, mas se contentaram em apenas levar dinheiro. Segundo o motorista, eles surgiram absolutamente do nada em um congestionamento", diz. Apesar de proprietário, Botaro costuma viajar entre São Paulo e Curitiba para "sentir o trecho", analisando a fiscalização e o custo da alimentação. Nessas incursões, ele também se deparou com os piratas e seus assaltos.
O presidente da União Brasileira dos Caminhoneiros, José Natan Emídio Neto, diz que a ação criminosa com essa característica ocorre em todo o Brasil. "Basta o trânsito ficar lento", diz. Presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga do Estado do Paraná (Setcepar), Fernando Klein Nunes lembra que as mercadorias têm sido saqueadas com mais frequência nos últimos anos. "Antes era esporádico, mas é recorrente nos últimos anos. Lembrando que essa é uma prática que acontece nas estradas do Nordeste há muitos anos", diz. Consequência: aumento do preço do transporte de carga, porque os prejuízos são pagos pela transportadora ou pelo caminhoneiro.
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