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Estudantes de 15 anos no Brasil continuam estre os piores do mundo, de acordo com os resultados do Pisa 2022, exame internacional feito com jovens de 81 países e economias. Em comparação a 2018, o Brasil caiu cinco pontos em matemática, três pontos em leitura e um ponto em ciências. Esse foi o primeiro Pisa após a pandemia da Covid-19, mas o patamar de conhecimento apresentado pelos brasileiros é praticamente o mesmo desde 2009. Os dados oficiais do levantamento foram divulgados nesta terça-feira (5).
As pontuações do Brasil estão muito abaixo do nível esperado para a faixa etária e da média alcançada por outros países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), responsável pela avaliação. Os estudantes do Brasil alcançaram pontuação 379 em matemática, 410 em leitura e 403 em ciências. A média dos alunos da OCDE foi de 480 em matemática, 482 em leitura e 491 em ciência, um desempenho menor se comparado a edições anteriores, principalmente por causa da pandemia, mas ainda assim muito maior que as notas dos alunos brasileiros.
No ranking geral, o Brasil subiu algumas posições pelo fato de outros países terem piorado, muitos deles pelo fechamento das escolas durante a pandemia. O Brasil está na 65ª posição em matemática, 52ª em leitura e 62ª em ciências. Singapura aparece no topo da lista, com 575 pontos em matemática, 543 em leitura e 561 em ciências. Camboja possui os piores índices com a pontuação de 336 em matemática, 329 em leitura e 347 em ciências. Apesar disso, o país asiático cresceu em todas as áreas: 12 pontos em matemática, 8 em leitura e 17 em ciências.
“A tendência de quem está mais embaixo é cair menos, porque não tem para onde cair. E é essa a situação do Brasil”, aponta João Batista Oliveira, PhD em Educação pela Florida State University. Ele explica também que países com notas extremamente baixas conseguem ter resultados mais relevantes com pequenos avanços, como é o caso do Camboja.
Medidas ineficazes e formação deficiente de professores
“Nós não temos políticas educacionais eficazes. Gasta-se muito dinheiro, fala-se muito, mas faz-se tudo errado ou não se faz”, afirma João Batista. Para ele, o Brasil precisa se apoiar em evidências científicas ao elaborar políticas públicas educacionais, mas que infelizmente a questão política tem mais peso. “Primeiro, buscam o consenso, depois veem o que dá para fazer”, reforça.
O Pisa é uma prova que não avalia conhecimentos adquiridos, mas a capacidade dos estudantes de 15 anos de aplicar conceitos em situações novas. Como no mercado de trabalho, por exemplo. “Não adianta ensinar para os alunos aquilo que as máquinas farão ou já fazem para eles. Simplesmente decorar tabuadas já não faz mais sentido”, diz Claudia Costin, que ocupou o cargo de diretora sênior de educação no Banco Mundial e é presidente do Instituto Singulares. Tendo em vista esse cenário, a avaliação é aplicada não só por países, mas também por regiões de acordo com as suas variações econômicas. A China, por exemplo, é dividida em Macau e Hong Kong.
Claudia Costin levantou alguns pontos que podem explicar os números brasileiros do Pisa 2022. Por um lado, o Brasil foi o país que mais manteve as escolas parcialmente ou totalmente fechadas durante a pandemia. Por outro, ela acredita que o avanço do ensino integral pode ter ajudado o Brasil a não ter perdido tanto, especialmente em matemática. “Houve um avanço importante a partir de 2020, mesmo com a pandemia, de escola em tempo integral. O processo de ensino de matemática que realmente leve o aluno a pensar matematicamente não dá para ser feito em tempo parcial”, afirma Costin.
Outro aspecto que, segundo a especialista, prejudica os resultados do Brasil está relacionado a formação deficiente dos professores. Costin acredita que o aspecto prático é pouco trabalhado nos cursos de licenciatura. “O professor não deveria ser um ‘especialista em matemática’. Ele deveria ser um especialista em ensinar matemática”, afirma. Ela completa comparando que “nós formamos o professor sem nenhuma ou com pouquíssima conexão com a prática. O Chile, por exemplo, tem uma lei nacional que obriga que haja um diálogo entre teoria e prática na formação que o professor recebe na faculdade”. O Chile é o melhor país da América Latina segundo os resultados do Pisa 2022.
Resultados do Brasil
Matemática
Do total, 73% dos estudantes brasileiros não atingiram o nível 2 do levantamento (que vai de 1 a 6), o mínimo necessário esperado de desempenho para a faixa etária. O nível 2 atesta a capacidade de interpretar e reconhecer situações simples representadas matematicamente, como comparar a distância total entre duas rotas alternativas ou converter preços em moedas diferentes. Tendo em conta a média das pontuações dos estudantes de 81 países e economias avaliados pela OCDE, 69% alcançaram ao menos esse nível. Os níveis 5 e 6 foram alcançados por apenas 1% dos alunos brasileiros, enquanto 9% do total de estudantes da OCDE conquistaram esse resultado. Os estudantes destes níveis conseguem trabalhar com situações matemáticas complexas e desconhecidas e podem selecionar, comparar e avaliar estratégias apropriadas para resolver problemas matemáticos.
Leitura
Cerca de 50% dos alunos brasileiros atingiram o nível 2 ou mais nas habilidades de leitura – ou seja, a outra metade não atingiu o conhecimento previsto. Apenas 2% dos estudantes brasileiros estão nos níveis mais altos de proficiência (5 e 6). Enquanto os alunos do nível 2 conseguem identificar a ideia principal de um texto de tamanho médio e encontrar informações explícitas, os do nível 5 e 6 sabem diferenciar fato e opinião e encontrar informações implícitas no texto. Do total de estudantes avaliados pela OCDE, 74% estão acima do nível 2 é 7% nos níveis 5 ou 6.
Ciências
Menos da metade dos estudantes brasileiros (45%) alcançou o nível 2 ou um nível acima em ciências – a média da OCDE é de 76%. Eles conseguem entender a explicação para fenômenos científicos comuns e analisar, a partir de dados, se uma conclusão é válida. A quantidade de alunos brasileiros nos níveis 5 e 6 é de 1%, enquanto a média da OCDE é de 7%. Esses alunos já conseguem aplicar o conhecimento de forma autônoma em situações desconhecidas.
Metodologia do Pisa
O Pisa 2022 contou com a participação de 690 mil alunos do mundo inteiro. A amostra representa 29 milhões de jovens estudantes com idade de 15 anos dos 81 países e economias participantes. No Brasil, quase 11 mil alunos participaram da avaliação. A avaliação, que é realizada a cada três anos e estava prevista para 2021, foi adiada um ano por causa da pandemia.
Os estudantes receberam um teste de cada matéria e tiveram duas horas para responder às questões. As perguntas tinham diferentes formatos, algumas de múltipla escolha e outras abertas, quando é preciso construir a resposta. Além disso, estudantes e diretores de escolas preencheram um questionário do Pisa para levantar informações sobre os contextos em que estão inseridos.