Entrevista

O Brasil deve fazer autocrítica, porque está longe do ideal

Professor João Bacchetto, gerente nacional do Pisa.

O Brasil tem melhorado nas avaliações do Pisa, mas ainda assim está longe dos resultados obtidos por países de primeiro mundo. O gerente nacional do Pisa, João Bacchetto, fala sobre o assunto. Confira:

Quais os maiores desafios em relação ao que é avaliado pelo Pisa?

Aproximar o ensino escolar da realidade dos estudantes. Isso pode ser observado nos itens da prova do Enem que procuram ser contextualizados, como também na nova proposta curricular para o Ensino Médio que será divulgada em breve.

Ainda precisamos incluir muitos alunos de 15 e 16 anos que estão fora da escola, essa é a etapa mais importante. Posteriormente é necessário garantir que esses estudantes cheguem no ano de estudo condizente com a sua idade e capacidade, e, concomitantemente a tudo isso, é necessário uma reforma curricular que torne o ensino mais próximo do aluno.

O que pode ser concluído a partir dos últimos resultados do Brasil no Pisa?

O Brasil apresentou um crescimento significativo, além disso observamos que houve uma melhora no fluxo, com melhor adequação idade-série dos estudantes. Claro que o Brasil sempre deve fazer uma crítica sobre esses resultados, que ainda estão longe do ideal.

A última edição do Pisa foi aplicada de forma eletrônica em parte das escolas, em caráter experimental. É a tendência para os próximos exames?

Foi um grande desafio. O programa oferecido não era compatível com boa parte dos nossos computadores escolares e foi necessário, em alguns casos, deslocar novos computadores para a escola. Já fizemos a requisição para que na próxima edição seja disponibilizada uma versão em Linux.

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No fim de maio, 950 alunos do Paraná participaram do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, chamado de Pisa (Programme for International Student Assesment, em inglês). Trata-se de uma avaliação comparada universal aplicada a alunos de 15 e 16 anos. Foram selecionadas pela Organização para Cooperação e Desen­­volvimento Econômico (OCDE) 29 escolas federais, estaduais, municipais ou particulares de 22 municípios, cinco eram de Curitiba. Os resultados são esperados para o fim deste ano e devem trazer um retrato referente aos conteúdos de ciências, matemática, leitura e resolução de problemas.

Com a última edição do exame, em 2009, 400 mil jovens de 65 países foram avaliados. No Brasil, o Instituto Nacional de Estudos e Pes­­quisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) coordena o exame, aplicado a 25 mil alunos de mais de 900 escolas brasileiras. Entre os fatores para a escolha das escolas em cada região estão o tamanho e os níveis de ensino ofertados e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da região. Em uma subamostra de 256 escolas foi testada a prova eletrônica, com questões de letramento digital, como a leitura de um e-mail. A intenção é aumentar a aplicação da prova eletrônica, à medida que a estrutura dos laboratórios de informática das escolas permitir.

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"O Pisa dá indícios de onde há problemas. Mas são muitos os fatores que interferem na qualidade do ensino. Por isso, seria necessária outra investigação para verificar onde estão as falhas e como o governo tem investido", diz a professora de Pedagogia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Rose Meri Trojan.

Para a diretora de Políticas e Programas Educacionais da Secretaria de Estado da Educação (Seed), Fernanda Scaciota, toda avaliação, mesmo a de larga escala, traz subsídios para se ter um retrato do momento na escola. "O importante é que, a partir do processo avaliativo, a escola se observe e perceba a necessidade de cada disciplina", afirma Fernanda. Nesse sentido, a Seed iniciou este ano um trabalho de conscientização com as escolas selecionadas para o Pisa. "Começamos a mostrar o que é uma avaliação em grande escala e estamos dando retorno sobre o resultado para que a escola consiga identificar dificuldades e possibilidades de melhorias no ensino", afirma a superintendente da Seed, Meroujy Cavet.

Cenário

Quando os resultados do Pisa são divulgados, eles vêm acompanhados de um ranking mundial e a posição do Brasil sempre é destacada, negativamente. Pela avaliação de 2009, o Brasil ficou no 53º lugar. Esse, no entanto, não deve ser o principal dado a ser analisado. Segundo a pedagoga Rose, o Produto Interno Bruto (PIB), a taxa de natalidade e número de alunos em cada país são fatores que influenciam no resultado. Além disso, a prova seria feita para países europeus e do hemisfério Norte, locais onde a maior parte dos alunos de 16 anos já terminou o equivalente ao ensino fundamental, o 9º ano, enquanto no Brasil um número grande dessas crianças ainda está no 8º ano.