A plataforma de vídeos Rumble, conhecida pelo apreço à liberdade de expressão, segue mantendo no ar canais de influenciadores críticos do Judiciário. Em ao menos um dos casos, a medida contraria decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). No dia 11 de janeiro, três dias após o ataque aos prédios dos Três Poderes, o ministro Alexandre de Moraes ordenou o bloqueio das redes sociais do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), do podcaster Monark e das influenciadoras Paula Marisa e Bárbara Destefani em diversas plataformas.
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Segundo o ministro, a decisão visou "interromper a divulgação de discursos com conteúdo de ódio, subversão da ordem e incentivo à quebra da normalidade institucional e democrática". Os influenciadores, entretanto, negam que tenham endossado os ataques.
Apesar da determinação, o Rumble decidiu manter o canal de Monark, atualmente com 266 mil seguidores, ativo. À reportagem, a assessoria do STF disse que a "plataforma Rumble cumpriu a determinação do ministro Alexandre de Moraes". Contudo, o perfil não foi bloqueado no Brasil e ainda é possível ter acesso aos vídeos do apresentador.
Ordem de bloqueio ocorreu após post sobre 8 de janeiro
Na decisão com as ordens de bloqueio, Moraes determina que as plataformas de mídias “identifiquem e removam os conteúdos que promovam incitação de atos de invasão e depredação de prédios públicos federais em todo o território nacional”. Também menciona a “interrupção de monetização de perfis e transmissão das mídias sociais” que promovam os atos de invasão dos prédios públicos.
Monark, pouco antes do bloqueio, havia comentado sobre as manifestações do dia 8 de janeiro. “Eu sinto simpatia pelas pessoas que estão protestando, esse nosso estado é uma ditadura nefasta e autoritária, só roubam o povo. Algo deve ser feito, mas nossa classe política se provou covarde e conivente, com isso é normal o povo se sentir sem esperanças e rebelar”, publicou no Twitter no dia seguinte aos protestos. Pouco depois, no mesmo dia da postagem, ele condenou a forma violenta como se desenrolou a manifestação, mas isso não impediu o bloqueio de suas contas.
À Gazeta do Povo, Monark elogiou a postura da plataforma ao negar o bloqueio e disse que teve “todo o suporte deles [Rumble] nessa crise” dos bloqueios determinados pelo ministro. O podcaster, que costuma participar de debates sobre liberdade de expressão, é entusiasta da postura de baixa moderação de conteúdo do Rumble.
“No Brasil, a única plataforma que comprou a briga pela liberdade de expressão é o Rumble. Não existe outra. Queria muito que existisse outra, mas não tem existe. Não existe porque custa caro comprar essa briga”, ressaltou Monark em vídeo na rede social.
De fato, o não atendimento à ordem de Moraes para bloquear a conta do deputado Nikolas Ferreira, no mês passado, custou ao Telegram multa de R$ 1,2 milhão. Os advogados do aplicativo alegaram ao STF que as ordens sobre remoção de conteúdo têm sido feitas com "fundamentação genérica" e de forma "desproporcional". Além disso, sustentaram que o bloqueio integral de perfis pode representar censura e impedir “um espaço de livre comunicação para discursos legítimos”. Mesmo assim, Moraes alegou que “não há qualquer justificativa” para o descumprimento e aplicou a multa milionária.
Outros influenciadores que passaram a publicar no Rumble
Monark foi um dos primeiros brasileiros com número expressivo de seguidores que aderiu ao Rumble. Mas com as recentes investidas do Judiciário e das próprias plataformas, que costumam censurar determinados conteúdos, influenciadores principalmente conservadores, mas também à esquerda, passaram a migrar para lá.
O jornalista Paulo Figueiredo, que é investigado em inquérito sigiloso do STF, é um dos que começou a usar o Rumble devido às seguidas ordens de bloqueio de perfis por Moraes. Com quase 90 mil seguidores, o Figueiredo tem vídeos com mais de 300 mil visualizações. O jornalista Allan dos Santos, que teve suas redes sociais suspensas por ordem de Moraes, é outro a usar o Rumble para publicar conteúdos.
Entre os produtores de conteúdo de esquerda presentes na plataforma, o principal é o jornalista norte-americano e co-fundador do The Intercept Glenn Greenwald, que conta com mais de 300 mil seguidores. Recentemente, Glenn publicou um vídeo falando sobre a escalada de censura do ministro Alexandre de Moraes. O jornalista, que virou alvo da esquerda por apontar tais abusos, também enxerga a plataforma como uma das poucas a erguer a bandeira da liberdade de expressão.
“As pessoas ainda não entendem o quanto o tamanho do público de Rumble explodiu. E quanto mais repressivo e censurável o YouTube, do Google, se tornar, mais as plataformas de liberdade de expressão crescerão. Além das vozes políticas, agora há um grande fluxo de criadores da geração Z e da cultura migrando para lá”, disse Greenwald no Twitter.
O escritor Reginaldo Ferreira da Silva, conhecido como Ferréz, é outro influenciador de esquerda que migrou para o Rumble. "Eu estava insatisfeito. A gente fala uma palavra que eles [no YouTube] não gostam e já limitam o alcance dos nossos vídeos. Não pode citar a palavra pedofilia, por exemplo. Não pode falar a palavra chacina. Meu programa era ao vivo, não tinha editor. Os assuntos da periferia são pesados. Tinha problema o tempo todo. Fui desanimando", disse Ferréz à Folha de S. Paulo.
“Criamos tecnologias imunes à cultura do cancelamento”, diz Rumble
A plataforma de vídeos foi criada em 2013 “quando os pequenos criadores de conteúdo foram rapidamente perdendo a prioridade nas plataformas existentes em favor de influenciadores, corporações e grandes marcas”, diz o site oficial do Rumble
Com mais de 70 milhões de usuários em todo o mundo, a plataforma reivindica a missão de proteger uma “internet livre e aberta” e de ser “imune à cultura do cancelamento”. O CEO da empresa, Chris Pavlovski, declarou recentemente que o “Rumble foi pressionado a censurar", mas que "lutaria até o fim" para que a plataforma permanecesse livre da censura.
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