Após nove horas de negociação, cerca de 30 policiais militares do Batalhão de Choque invadiram, ao meio-dia de ontem, o prédio do antigo Museu do Índio, nas proximidades do Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, para retirar os ativistas que resistiam à desocupação do local. Os PMs utilizaram spray de pimenta e bombas de gás lacrimogêneo para dispersar o grupo, que tentava impedir a saída dos indígenas que ocupavam o casarão desde 2006. Houve confusão, gritaria e empurra-empurra. Em seguida, os manifestantes interditaram por meia hora os dois sentidos da Avenida Radial Oeste, uma das principais vias da cidade.
O defensor público federal Daniel Macedo classificou de truculenta a ação da polícia. Ele não descarta a possibilidade de processar por abuso de autoridade e descumprimento de ordem judicial o oficial que deu a ordem para a tropa invadir a Aldeia Maracanã. "A desocupação deveria ser feita sem violência e com respeito aos direitos dos índios. Mulheres, idosos e crianças já haviam sido retirados. Só restavam 25 pessoas lá dentro, e iniciamos uma segunda etapa de negociação. O grupo tinha pedido mais dez minutos de prazo para realizar um último ritual no prédio, mas a PM invadiu o local antes. Os policiais jogaram spray de pimenta nos índios, inclusive numa criança de dois anos, em mim e num procurador da República".
O porta-voz da PM, coronel Frederico Caldas, disse que a invasão do prédio se deu após os manifestantes atearem fogo à oca e resistirem à desocupação. "Os índios saíram pacificamente. No entanto, algumas pessoas que se diziam membros de um grupo intitulado `Resistência Cultural permaneceram lá dentro", afirmou.
Histórico
O governo do estado entrou com o pedido de desocupação para reformar o local e construir o Museu Olímpico.
Diante do protesto dos índios e de movimentos sociais, em janeiro o governo desistiu de demolir o prédio e se comprometeu a discutir com a Prefeitura do Rio a construção de um novo local para receber os índios. O grupo manteve a ocupação.