A Polícia Militar (PM) do Rio voltou nesta segunda-feira, 30, a reprimir com truculência professores em greve, menos de dois dias após ter desocupado à força a Câmara de Vereadores. Com o prédio do Legislativo cercado por policiais, o clima foi tenso durante todo o dia. Apenas funcionários da Casa podiam ultrapassar o cerco. Policiais impediram até mesmo o acesso de jornalistas à Câmara.
Em resposta, professores e alunos que protestavam na Rua Alcindo Guanabara, onde fica um dos portões de acesso, decidiram fazer um cordão de isolamento para barrar a entrada de PMs e funcionários. "Se a educação não passa, ninguém mais passa", gritavam.
Pouco antes das 15 horas, um PM lançou jatos de gás de pimenta contra professores e jornalistas. Ele usava um equipamento que parecia um extintor de incêndio, com forte pressão. A agressão do policial, identificado como Pinto, ocorreu quando ele tentava passar pelos manifestantes. Até mesmo PMs que estavam perto foram parcialmente atingidos.
Um homem levou uma gravata e outros foram agredidos com cassetetes. Durante toda a tarde houve momentos de empurra-empurra e bate-boca entre policiais e manifestantes.
A atriz Leandra Leal juntou-se aos manifestantes para dar apoio aos professores. "No sábado a gente estava aqui depois do Festival do Rio (ocorre na Cinelândia, junto à Câmara) e viu a tropa de Choque, foi realmente uma violência o que aconteceu. Todo mundo ficou indignado e está aqui de novo. Não estou acreditando que fizeram um perímetro (de segurança), isso é uma loucura."
No início da noite, adeptos do grupo Black Bloc chegaram para apoiar os professores. A Avenida Rio Branco foi fechada às 19 horas. Dois manifestantes foram detidos. Vereadores do PV e do PSB foram hostilizados ao deixar o prédio.
Representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) nacional, Wadih Damous, e do Rio, Marcelo Chalreo, criticaram em nota o prefeito Eduardo Paes (PMDB) e a desocupação da Câmara. No texto assinado até por um ex-secretário do governo Paes (o deputado federal Jorge Bittar, do PT), os signatários afirmaram que o envio do projeto de plano de carreira dos professores ao Legislativo em regime de urgência provocou a ocupação do plenário.
"O funcionamento desse Legislativo com a presença ostensiva de policiamento nesta segunda-feira, inclusive interditando ruas e ferindo o direito de ir e vir, não condiz com as práticas democráticas.", diz a nota.
A PM informou que o cerco foi pedido pela direção da Câmara. Em nota, a Casa já havia agradecido o apoio da PM no processo de desocupação. Na ação, PMs jogaram bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral. O Palácio tinha sido ocupado na quinta-feira, 26, durante votação do plano de cargos e salários da categoria.
Para o prefeito Eduardo Paes (PMDB), a desocupação "foi necessária" e ação da PM foi correta. A votação está prevista para esta terça-feira, 1º, mas poderá ser adiada pela Justiça.
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