SÃO PAULO - Moradores, militantes de organizações de sem-teto e policiais militares entraram em confronto ontem de manhã durante a reintegração de posse de um terreno particular no Capão Redondo, zona sul de São Paulo. No local, viviam aproximadamente 2 mil pessoas em 800 barracos.
Eram quase 7 horas quando cerca de 250 policiais, incluindo o batalhão de choque, entraram na comunidade. Os moradores fizeram barricadas com móveis, botijões de gás e dois veículos, que acabaram incendiados e fecharam acessos à Rua Ana Aslan, onde ficava a favela. Segundo a PM, o grupo atirou pedras, paus, rojões e coquetéis molotov contra os policiais, que revidaram com bombas de efeito moral e balas de borracha. Três pessoas foram detidas.
Feridos
A PM diz que dois homens se feriram durante a ação um policial, que foi atropelado, e um morador, que cortou as mãos quando carregava um vaso. Porém, a reportagem constatou que outras duas pessoas se machucaram, ambas atingidas por balas de borracha, segundo elas disparadas por policiais. "Eu pedia calma para o pessoal quando o policial disparou e acertou a bala de borracha no meu peito", diz o membro da ONG Frente de Luta por Moradia Marcos Rogério, 33 anos.
Para o comandante da ação policial, coronel Carlos Botelho, a desocupação foi "tranquila e pacífica". Ele disse ser possível haver mais que dois feridos, "mas ninguém disse nada à polícia". No início da manhã, policiais lançaram bombas de gás lacrimogêneo na favela. Uma delas atingiu a casa do aposentado Edvaldo Manoel Corrêa, 57 anos. Cadeirante, ele diz que teve dificuldades em sair do barraco. "Achei que ia morrer quando vi tanto gás. Meu filho e um vizinho me ajudaram a sair, mas logo o incêndio começou e não salvamos quase nada", afirma. Moradores dizem que bombas jogadas por PMs incendiaram os barracos. Já os policiais alegam que os próprios moradores atearam fogo. Cerca de 40 bombeiros controlaram o incêndio.
Na Justiça
A reintegração de posse foi autorizada pela Justiça há oito meses. Segundo o advogado Daniel Góes, que defende a dona da área, a Viação Campo Limpo, o assunto foi discutido com os moradores. "Eles diziam que iam sair, mas não saíam. Até que a gente pediu que a reintegração fosse feita", conta. A empresa cedeu 14 veículos para os sem-teto transportarem as mudanças. Alguns foram para casas de parentes; outros, para abrigos; e um grupo, dizendo não ter para onde ir, ficou em frente à antiga favela.
A pedido da PM, aulas de quatro escolas municipais da região foram suspensas por dois dias. Cerca de 4,5 mil alunos voltam às aulas amanhã. Antes do início da desocupação, dois repórteres fotográficos foram assaltados na favela. Cinco pessoas armadas roubaram as câmeras dos repórteres, de acordo com a PM.